23 de março de 2021

Soja e açúcar disputam espaço no porto de Santos; custos sobem

Exportadores de soja e açúcar disputam espaço no maior porto da América Latina, procurando garantir vaga nos terminais de carregamento enquanto a colheita de soja brasileira mais atrasada em dez anos empurra a janela de exportação de grãos para o período de maior escoamento de açúcar. Está a formar-se congestionamento no porto de Santos num período em que consumidores em todo o mundo se voltam para o Brasil para se abastecer de açúcar e soja. O grande número de navios aumenta os custos de transporte e deverá provocar atrasos na chegada dos produtos aos destinos.

Os preços do açúcar atingiram um máximo de quatro anos no final do mês passado, impulsionados pela pressão na oferta imediata. Os preços da soja, andam próximos de máximos de sete anos e podem, ainda, subir mais numa altura em que o Brasil é, efetivamente, o principal fornecedor mundial.

"É a tempestade perfeita, uma combinação de fatores que está a forçar a soja e o açúcar a competirem por logística", disse Tiago Medeiros, diretor-executivo, no Brasil, do Grupo Czarnikow, uma trading de alimentos e fornecedora de serviços para a cadeia de abastecimentos.

O Brasil costuma iniciar as exportações de soja em janeiro, aumentando, gradualmente, os volumes nos meses seguintes. Nesta temporada, o plantio foi atrasado, tal como a colheita, empurrando os volumes de embarque para mais tarde.

Os embarques da nova safra de açúcar começam a ganhar força por volta de abril, mas as empresas ainda estão a embarcar stocks da abundante safra de 2020. O Ministério da Agricultura do Brasil registou existências de açúcar de 7,3 milhões de toneladas em meados de fevereiro, o maior dos últimos três anos. Os participantes do mercado esperam atrasos crescentes nos próximos meses, com os navios, muito provavelmente, a esperarem semanas antes de poderem atracar em Santos.

Tiago Medeiros observou que os mercados de futuros, tanto de soja como de açúcar, estão a comportar-se ao contrário, com os valores dos contratos com vencimento mais próximo superiores aos que vencem mais lá para o verão, um movimento que demonstra, claramente, a dificuldade da oferta no curto prazo. Por isso, os exportadores que não conseguirem embarcar nos prazos combinados, poderão sofrer perdas financeiras, já que os compradores poderão ajustar os preços das mercadorias para os valores de futuro, menores. "Assim, toda gente quer receber os produtos o mais rápido possível", disse ele.

A maioria dos produtos agrícolas no Brasil é transportada por camião, logo, os custos de frete rodoviário aumentaram devido ao fluxo de mercadorias. Os traders disseram que os armadores aumentaram, drasticamente, o "demurrage" – a taxa diária cobrada por atrasos nos portos – de cerca de 18 mil para 30 mil dólares por dia em viagens ao Brasil. Por causa dos longos tempos de espera dos navios, a trader francesa Sucden apresentou como alternativa a Índia. No entanto, a maioria dos operadores do mercado rejeitam, avançando vários motivos.

"O Brasil exporta, principalmente, açúcar bruto, enquanto a Índia tem excedente refinado. Portanto, a substituição direta é limitada", disse uma fonte de um grande broker de açúcar na Índia.

Já no que respeita os compradores de soja chineses, que por norma se voltariam para os Estados Unidos para evitar o congestionamento do Brasil, não encontram nos produtores americanos a resposta desejada. Devido à forte procura, os Estados Unidos terão apenas cerca de dez dias de fornecimento de soja antes do início da colheita deste ano, em setembro.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos previu as existências de soja no final da campanha de comercialização 2020/21 (31 de agosto) seriam de 120 milhões de alqueires, uma queda acentuada em relação aos 525 milhões do ano anterior. Porventura, será o pior resultado desde 2013/14.

Relatórios sobre o movimento de navios no Brasil indicam que em meados de março estavam previstos carregamentos totais de 8,82 milhões de toneladas de soja em Santos e Paranaguá, os dois maiores portos brasileiros, 27% a mais que no ano passado, segundo dados da agência marítima SA Commodities/Unimar. Para o açúcar, os dados indicavam carregamento nesses portos de 1,27 milhão de toneladas, 71% mais que no ano anterior.

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