Um novo relatório da World Maritime University apresenta os principais desafios que os marítimos enfrentam devido à pandemia, com base num inquérito a cerca de 670 marítimos. Os participantes foram questionados sobre como a pandemia COVID-19 os afetou em diferentes aspetos do trabalho e da vida a bordo, da sua família e do seu emprego.
Explicando a metodologia, os autores do relatório mencionaram que as principais conclusões se baseiam nas respostas de 671 marítimos que estavam embarcados durante o desenvolvimento do estudo. O inquérito ocorreu entre 3 de julho e 25 de setembro de 2020 (4 meses) e os seus respondentes encontravam-se a bordo entre há menos de um mês e até 18 meses, ao momento que foram entrevistados. 72,5% dos entrevistados eram oficiais, sendo que quase metade deles trabalhavam em navios de bandeira de países Norte Europeus. A maioria tinha, pelo menos, acesso limitado gratuito à Internet a bordo.
As experiências dos entrevistados variaram em relação à extensão em que a pandemia afetou o seu emprego, vida não profissional a bordo e acesso a abastecimentos. 20% dos entrevistados relataram um impacto muito elevado ou significativo em cada uma dessas áreas, constata o relatório. Além disso, quase metade dos entrevistados relatou um aumento na carga de trabalho em comparação com o habitual antes da pandemia.
De acordo com o relatório, em média, os entrevistados sentiam-se menos seguros em porto do que no mar. Mais de 40% dos entrevistados indicaram que experimentaram sintomas de depressão várias vezes, quase todos os dias ou todos os dias durante os últimos sete dias, enquanto mais da metade relatou sintomas de ansiedade.
Além disso, em média, os entrevistados experimentaram sintomas de exaustão entre "uma vez" e "várias vezes" durante os últimos sete dias.
Principais desafios provocados pela pandemia
Foi solicitado aos entrevistados que nomeassem as principais dificuldades ou desafios relacionados ao COVID-19 que enfrentaram nos últimos sete dias. As respostas incluem:
# 1 Rendição de tripulação
Os entrevistados destacaram as limitações, cancelamentos, atrasos ou dificuldades com as rendições de tripulação como um enorme desafio.
# 2 Interações navio-terra
Mais de metade dos entrevistados mencionou constrangimentos relacionados às interações navio-terra. Isso incluía não poder desembarcar. A obtenção de abastecimentos foi apontada como o principal desafio por 13,3%.
# 3 Políticas
Condicionantes relacionadas com as políticas foram mencionados por 23,1% dos entrevistados. Algumas das queixas diziam respeito, especificamente, às políticas em relação às rendições de tripulação (por exemplo, requisitos de visto, regras de quarentena), enquanto a maioria estava relacionada com os requisitos e regulamentos dos estados do porto, bem como com os cuidados relacionados com a COVID-19 a tomar pela tripulação durante as escalas em porto.
# 4 Falta de apoio do armador
Muitos dos entrevistados referiram problemas relacionados com contratos vencidos ou prorrogados (12,5%) ou desafios relacionados com problemas financeiros e precariedade no trabalho (7,1%). Devido à dificuldade de rendições de tripulação, alguns notaram que as suas empresas estendiam contratos em vez de oferecer rendição em tempo útil.
# 5 Risco de COVID-19 (de infeção)
Para 15,4% dos entrevistados, um dos principais desafios era o risco de infeções por COVID-19. Muitos mostravam preocupação em serem expostos ao vírus. De forma bem vincada, mencionaram preocupação, não só em relação a membros não tripulantes com os quais poderiam entrar em contato durante as escalas em porto, como também como o contato com novos membros da tripulação que chegavam.
# 6 Situação em casa
Preocupações com a situação em casa foram mencionadas como uma grande pressão por 10,4%. Isso incluía preocupações com questões familiares, a saúde e / ou a situação financeira de sua família, bem como a situação no seu país de origem. Para alguns, o principal condicionante era que a Internet, ou outros meios alternativos de comunicação, eram caros, lentos ou quase inexistentes.
Medidas sugeridas aos operadores de navios
Na sua conclusão, o relatório apresenta à consideração as seguintes recomendações:
• Implementar medidas de proteção eficazes e garantia da prestação de cuidados médicos;
• Garantir a existência de planos de repatriação viáveis em vigor;
• Fornecer Internet gratuita, rápida e confiável a bordo para uso pessoal dos marítimos;
• Garantir que os marítimos tenham acesso a abastecimentos essenciais e apoio quando necessário, incluindo cuidados médicos, apoio à saúde mental, bens essenciais, bem como possibilidades de descida em terra;
• Garantir a existência, e em vigor, de um sistema de gestão de risco de fadiga.
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