O que são navios Ro-Ro e quais as suas unidades de carga

Navios Roll-On/Roll-Off (RORO ou Ro-Ro) são navios de carga projetados para transportar cargas sobre rodas, como automóveis, camiões, camiões semi-reboques, autocarros, máquinas de rastro e vagões, que são conduzidos para dentro e fora do navio sobre as suas próprias rodas ou com recurso a um veículo de reboque de plataformas. Esta forma de carga e, ou, descarga contrasta com os navios de carga seca convencionais Lift-On/Lift-Off (LoLo), que usam um guindaste nessa tarefa.

Uma definição mais apropriada seria navio de “carga rolante”, ou seja, aquela que embarca e desembarca do navio rolando, seja em cima das suas próprias rodas (ou lagartas), seja em cima de um equipamento específico para o efeito.

Estes navios têm rampas próprias embutidas, ou utilizam rampas externas em terra, que permitem que a carga seja rolada de forma eficiente para dentro e para fora do navio, quando em porto. Embora os ferries mais pequenos, que operam em rios e em distâncias curtas, tenham, em geral, rampas embutidas, o termo RORO está, por norma, reservado aos grandes navios oceânicos. As rampas e portas podem estar localizadas na popa, na proa ou nas laterais ou, sendo mais do que uma, em qualquer combinação das anteriores opções.

As primeiras embarcações a utilizarem o conceito foram o que chamamos de ferry ferroviário. O primeiro deles foi o Leviathan, construído em 1849, para a ferrovia de Edimburgo, Leith e Newhaven, em 1842, que pretendia estender a linha principal da costa leste até Dundee e Aberdeen, mais ao norte.

Como a tecnologia de construção de pontes ainda não era capaz de fornecer suporte adequado para a travessia sobre o Firth of Forth, que tinha cerca de cinco milhas de largura, teve que ser encontrada uma solução diferente, em especial para o transporte de mercadorias, onde a eficiência era fundamental.

A empresa contratou o promissor engenheiro civil Thomas Bouch, que defendeu um ferry com linha ferroviária, servido por um mecanismo Roll-On/Roll-Off para maximizar a eficiência do sistema. Os ferries foram construídos sob medida, com linhas ferroviárias e instalações portuárias próprias em ambas as extremidades para permitir que o material circulante entrasse e saísse, facilmente. Para compensar a mudança das marés, ​​foram posicionadas rampas ajustáveis nas instalações das margens e a altura da estrutura do pórtico era variável ao longo da rampa. Os vagões eram carregados com o recurso a motores a vapor estacionários.

O serviço começou em 3 de fevereiro de 1850. Chamava-se "The Floating Railway" e pretendia ser uma medida temporária até que a ferrovia pudesse construir uma ponte, feito apenas conseguido em 1890.

 

Os primeiros navios de carga, especialmente, equipados para o transporte de grandes quantidades de automóveis entraram em serviço no início da década de 1960. Esses navios mantinham o seu equipamento próprio de carga e descarga, embora estivessem dotados de conveses suspensos no interior. Foram, por exemplo, fretados pela alemã Volkswagen AG para transportar veículos para os EUA e Canadá.

Durante a década de 1970, o mercado de exportação e importação de automóveis aumentou, dramaticamente, e o número e o tipo de ROROs acompanhou essa tendência.

Em 1970, a K Line do Japão construiu o Toyota Maru No. 10, o primeiro navio para o transporte exclusivo (puro) de automóveis do Japão e, em 1973, construiu o European Highway, o maior PCC da época, que transportava até 4.200 automóveis. Os navios de transporte puro de automóveis de hoje e os seus parentes próximos, os de transporte de carros/camiões (PCTC), são navios distintos, com uma superestrutura em forma de caixa, que percorre todo o comprimento e largura do casco, envolvendo, totalmente, a carga.

Por norma, têm uma rampa de popa excêntrica e uma lateral para carga e descarga em simultâneo de milhares de veículos (como carros, camiões, máquinas pesadas, unidades de rasto, reboques Mafi e outros), estando dotados de extensos e complexos sistemas automáticos de controlo de incêndio.



O PCTC possui conveses eleváveis ​​para aumentar a folga vertical, bem como conveses mais robustos ​​para cargas "altas e pesadas". Um navio porta-veículos de 6.500 unidades, com 12 conveses, pode ter três conveses que podem levar carga de até 150 toneladas métricas com painéis eleváveis ​​para aumentar a folga de 1,7 para 6,7 ​​metros em alguns desses conveses. É claro que a elevação das plataformas, para acomodar cargas mais altas, reduz a capacidade total. Podem atingir uma velocidade de cruzeiro de 16 nós em velocidade ecológica, enquanto em velocidade máxima podem atingir mais de 19 nós.

Atualmente, os maiores pertencem à classe Horizon, da Höegh Autoliners. Têm 14 conveses de carga com 71.600 m2 de área e com capacidade de armazenamento para 8.500 automóveis – 8.500 veículos formam uma fila equivalente ao comprimento de uma maratona (42,195 kms).

O porta-veículos Auriga Leader, da Nippon Yusen Kaisha, construído em 2008 e com capacidade para 6.200 autos, é o primeiro navio do mundo, parcialmente, movido a energia solar.

Ao contrário das outras cargas, que são medidas em toneladas métricas, a carga Ro-Ro é medida numa unidade chamada metros lineares por faixa (Lanes In Meters – LIMs). O LIM é calculado multiplicando o comprimento da carga em metros pelo número de conveses e pela largura standard das faixas (normalmente 2,5 m). A largura da faixa é diferente de navio para navio, sendo vários os padrões na indústria. No caso dos PCCs, a capacidade de carga pode ser medida com recurso ao “Car Equivalente Units” (CEU), a unidade de medida padrão para esse tipo de transporte, que, por vezes, também surge como unidade “RT”.

A sigla “RT” tem uma história interessante: vem do código de projeto do automóvel de turismo Toyota Corona (RT 43-L) da década de 60, cujas medidas (4,12 metros de comprimento, 1,55 m de largura e 1,42 m de altura) conformam a unidade usada até hoje, para o cálculo da capacidade de carga dos navios Ro-Ro.

A classe RORO inclui ferries, ferries de cruzeiro, navios de carga e barcaças. Os automóveis novos são, frequentemente, transportados por mar em navios grandes, deste tipo, chamados de Navio Puro de Transporte de Carros (Pure Car Carrier – PCC) ou Navio Puro de Transporte de Carros/Camiões (Pure Car/Truck Carrier – PCTC).

Atualmente, podemos classificar os Ro-Ro como: 


 

Estes navios, com grandes portas externas, próximas à linha d'água e conveses de veículos amplos, com poucas anteparas internas, têm a reputação de ser uma conceção de alto risco, a ponto de a sigla ser, por vezes e ironicamente, adaptada para "roll on/roll over".

Uma porta de carga mal fechada, ou vedada, pode fazer com que um navio meta água e afunde, como aconteceu em 1987 com o MS Herald of Free Enterprise. A água no convés do veículo pode criar um efeito de superfície livre, tornando o navio instável e levando a que vire. O inquérito ao naufrágio do MS Estonia concluiu que, também, foi a entrada de água pela porta de vante a causa do acidente.

Apesar destes riscos inerentes, o bordo livre muito alto aumenta-lhes a navegabilidade. Por exemplo, o porta-veículos MV Cougar Ace adornou 60 graus, por bombordo, em 2006, mas não afundou, pois o seu costado alto e fechado impediu a entrada de água. No final de janeiro de 2016, o MV Modern Express adornou na Biscaia, depois da carga correr. As equipas de resgate asseguraram a estanquidade do navio e rebocaram-no para o porto de Bilbao, em Espanha.

 




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