O impacto do transporte marítimo sobre as baleias há muito
tempo que está sob o radar crítico da crise dos cetáceos. Um grande número de
baleias foi morto no passado, em resultado da colisão com navios mercantes e
outros offshore. A actividade de
navegação tornou-se numa ameaça dominante efectiva e, não apenas uma mera
ameaça, para as baleias, em especial para as que habitam no Atlântico Norte.
Apesar da contabilização exacta da morte ou de ferimento infligidos
às baleias, devido a colisões com navios ou ao ruído subaquático produzido, esteja
muito aquém da realidade, várias instituições avançaram com medidas de
mitigação.
Os danos causados às baleias por navios são de dois tipos:
1- Colisão com navios, resultando
em morte ou ferimento, e
2- Efeitos da poluição sonora,
causando susceptibilidade a doenças e menor reprodução.
Enquanto a poluição por ruído submarino continua a ser um
flagelo, colocando em risco vidas e gerações de baleias, as colisões com navios
parecem ser uma ameaça maior, particularmente para as baleias francas do
Atlântico Norte, cujo habitat primário são as águas de elevado tráfego da costa
leste dos EUA e Canadá. Elas, por uma qualquer razão, não contam com os navios
de grande porte, por medo ou ansiedade, e raramente fazem qualquer esforço para
os evitar, o que resulta em morte, na maioria das vezes. As tripulações de
navios às vezes não se preocupam em reduzir a velocidade aos seus navios em
áreas de alta densidade e também não conseguem aumentar a sua atenção visual
para a possível presença de baleias.
Além das baleias francas, outras espécies mais afectadas são
as baleias comuns, as baleias jubarte, os cachalotes e as baleias-cinzentas. O
dano causado pela colisão com navios inclui as fracturas de crânio, mandíbulas,
ossos e vértebras, além de feridas profundas de hélice, com marcas de corte
longas e paralelas na zona dorsal, na gordura isolante.
1. Colisões de navios com baleias
Em maio de 2012, uma baleia azul foi encontrada morta,
flutuando ao largo da ponta sul de Sri Lanka – a sua barbatana caudal estava
esfarrapada por via do impacto com a proa de um navio. Vários outros incidentes
têm sido relatados, nos quais as baleias foram mortas e ficaram presas no bolbo
dos navios.
Navios considerados como uma ameaça à mortalidade das
baleias não é um fenómeno novo, olhando os registos a partir do final do século
XIX. No entanto, entre 1950 e 1970, com o aumento da velocidade dos navios, os
danos causados por via disso começaram a surgir. De acordo com um relatório publicado
pelo pesquisador Scott Kraus, entre 1970 e 1989, 20% das baleias francas do
norte, encontradas mortas no leste dos Estados Unidos e Canadá, sofreram graves
lesões físicas resultantes do contacto com grandes hélices, indiciando que
foram atingidas por grandes navios.
No entanto, estimar o número de baleias mortas por causa do
transporte marítimo não é realista porque, em muitos casos, o incidente pode
passar despercebido ou não ser confirmado. Mesmo que um navio não mate uma
baleia quando lhe bate, o golpe pode deixar ferimentos graves. Neste caso, se
uma colisão mata ou não uma baleia, só pode ser reconhecida pelo exame dos seus
ossos.
Os métodos mais comuns para quantificar a causa de morte
incluem a observação directa do impacto ou examinando as carcaças das baleias que
flutuam nas águas ou são empurradas para a praia e encontradas como evidência
de colisão com navio.
2. Ressonância subaquática
Segundo o pesquisador Scott Kraus, do New England Aquarium,
o ruído subaquático produzido pelos navios provoca a queda significativa de
hormônios de stresse dos cetáceos, que são considerados, directamente,
responsáveis pela vulnerabilidade à doença e podem comprometer a procriação das
suas espécies.
Os estudos sugerem que os sons provocados pelos hélices dos
navios, sonares militares ou explosões em resultado de exploração de petróleo e
gás estão na mesma faixa de frequência dos 20 a 200 hertz usada pelas baleias
para se comunicarem. A longo prazo, isto resulta numa elevação constante dos
glicocorticóides o que pode levar a um crescimento retardado e a um sistema
imunitário comprometido.
Medidas preventivas
A Comissão Baleeira Internacional (IWC) abordou a questão da
morte de baleias por causa do transporte marítimo e está a procurar uma forma
eficiente de reduzir os choques com navio, através do desenvolvimento de uma
base de dados global padronizada de colisões de navios e baleias, para ajudar a
identificar áreas de alto risco e factores de risco, para de conseguir determinar
medidas mitigadoras.
O Serviço Nacional de Pescas Marinhas (NMFS) dos Estados
Unidos publicou uma “regra final” para implementar restrições de velocidade
para reduzir a ameaça de colisões de navios com baleias no Atlântico Norte, que
entrou em vigor a 9 de Dezembro de 2013. Estabelece que as áreas de aglomeração
de baleias no Great South Channel, devem ser evitadas, pelos navios ou grandes
embarcações, através de áreas de tráfego estabelecidas.
A National Oceanic And Atmospheric Administration publicou
um guia de conformidade para a Regra de Redução da Colisão dos Navios com a
Baleia Jubarte, com rotas migratórias e partos, viveiros, com a restrição em
certos locais a embarcações de 65 pés / 19,8 m (ou mais) e o limite de velocidade
em 10 nós.
A Organização Marítima Internacional (OMI), recentemente, em
resposta à proposta dos EUA de área a ser evitada (ATBA) no Grande Canal do
Sul, anunciou que as vias de navegação em direcção aos portos da Califórnia
serão, efectivamente, ajustados a partir deste ano.
Além disso, a Great Whale Conservancy (GWC) elaborou uma
petição como parte de sua campanha de protecção às baleias azuis contra os
navios, no Pacífico Norte e está a incentivar a compartilha e difusão do
conhecimento.
O Smithsonian Tropical Research Institute recomenda padrões
de tráfego aos navios e limites de velocidade a implementar no Golfo do Panamá
para minimizar a ameaça de colisão dos navios com as baleias jubarte. De acordo
com eles, deve haver um sistema de separação de trânsito nos dois sentidos,
onde cada via de tráfego terá 2 milhas náuticas de largura, separadas por 3
milhas náuticas de águas abertas.
As vias de navegação alternativas devem ser imediatamente
identificadas e determinadas, especialmente durante os períodos migratórios,
quando a vida marinha pode ser fortemente condicionada. Também tem sido notado
que as baleias mais fragilizadas e juvenis são as mais susceptíveis de serem
atingidas por um navio, pelo que os seus habitats encerram maiores riscos de
colisão e a sua passagem deve ser evitada.
Aplicação baseada em conhecimento
Foi, entretanto, desenvolvida pelo EarthNC –
construtor de cartas marítimas electrónicas – em associação com várias agências
governamentais, ONGs, grupos de conservação sem fins lucrativos, organizações
do sector privado e instituições académicas, um aplicativo baseado em GPS que
fornece informações de bóias acústicas passivas automáticas e envia um alerta
para o oficial de navegação do navio, de provável presença de baleias francas
no Atlântico Norte, nas vias de navegação dentro do Santuário Marinho Nacional
do Stellwagen Bank, para potenciar a conservação das baleias mais frágeis. Também
pode recomendar rotas alternativas, mostrando áreas a serem evitadas e, assim,
reduzir a probabilidade de colisão entre baleias e navios.Artigo original
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