29 de janeiro de 2017

Como o transporte marítimo se tornou numa ameaça para as baleias

O impacto do transporte marítimo sobre as baleias há muito tempo que está sob o radar crítico da crise dos cetáceos. Um grande número de baleias foi morto no passado, em resultado da colisão com navios mercantes e outros offshore. A actividade de navegação tornou-se numa ameaça dominante efectiva e, não apenas uma mera ameaça, para as baleias, em especial para as que habitam no Atlântico Norte.
Apesar da contabilização exacta da morte ou de ferimento infligidos às baleias, devido a colisões com navios ou ao ruído subaquático produzido, esteja muito aquém da realidade, várias instituições avançaram com medidas de mitigação.
Os danos causados ​​às baleias por navios são de dois tipos:
1- Colisão com navios, resultando em morte ou ferimento, e
2- Efeitos da poluição sonora, causando susceptibilidade a doenças e menor reprodução.
Enquanto a poluição por ruído submarino continua a ser um flagelo, colocando em risco vidas e gerações de baleias, as colisões com navios parecem ser uma ameaça maior, particularmente para as baleias francas do Atlântico Norte, cujo habitat primário são as águas de elevado tráfego da costa leste dos EUA e Canadá. Elas, por uma qualquer razão, não contam com os navios de grande porte, por medo ou ansiedade, e raramente fazem qualquer esforço para os evitar, o que resulta em morte, na maioria das vezes. As tripulações de navios às vezes não se preocupam em reduzir a velocidade aos seus navios em áreas de alta densidade e também não conseguem aumentar a sua atenção visual para a possível presença de baleias.
Além das baleias francas, outras espécies mais afectadas são as baleias comuns, as baleias jubarte, os cachalotes e as baleias-cinzentas. O dano causado pela colisão com navios inclui as fracturas de crânio, mandíbulas, ossos e vértebras, além de feridas profundas de hélice, com marcas de corte longas e paralelas na zona dorsal, na gordura isolante.

1. Colisões de navios com baleias
Em maio de 2012, uma baleia azul foi encontrada morta, flutuando ao largo da ponta sul de Sri Lanka – a sua barbatana caudal estava esfarrapada por via do impacto com a proa de um navio. Vários outros incidentes têm sido relatados, nos quais as baleias foram mortas e ficaram presas no bolbo dos navios.
Navios considerados como uma ameaça à mortalidade das baleias não é um fenómeno novo, olhando os registos a partir do final do século XIX. No entanto, entre 1950 e 1970, com o aumento da velocidade dos navios, os danos causados ​​por via disso começaram a surgir. De acordo com um relatório publicado pelo pesquisador Scott Kraus, entre 1970 e 1989, 20% das baleias francas do norte, encontradas mortas no leste dos Estados Unidos e Canadá, sofreram graves lesões físicas resultantes do contacto com grandes hélices, indiciando que foram atingidas por grandes navios.
No entanto, estimar o número de baleias mortas por causa do transporte marítimo não é realista porque, em muitos casos, o incidente pode passar despercebido ou não ser confirmado. Mesmo que um navio não mate uma baleia quando lhe bate, o golpe pode deixar ferimentos graves. Neste caso, se uma colisão mata ou não uma baleia, só pode ser reconhecida pelo exame dos seus ossos.
Os métodos mais comuns para quantificar a causa de morte incluem a observação directa do impacto ou examinando as carcaças das baleias que flutuam nas águas ou são empurradas para a praia e encontradas como evidência de colisão com navio.

2. Ressonância subaquática
Segundo o pesquisador Scott Kraus, do New England Aquarium, o ruído subaquático produzido pelos navios provoca a queda significativa de hormônios de stresse dos cetáceos, que são considerados, directamente, responsáveis ​​pela vulnerabilidade à doença e podem comprometer a procriação das suas espécies.
Os estudos sugerem que os sons provocados pelos hélices dos navios, sonares militares ou explosões em resultado de exploração de petróleo e gás estão na mesma faixa de frequência dos 20 a 200 hertz usada ​​pelas baleias para se comunicarem. A longo prazo, isto resulta numa elevação constante dos glicocorticóides o que pode levar a um crescimento retardado e a um sistema imunitário comprometido.

Medidas preventivas
A Comissão Baleeira Internacional (IWC) abordou a questão da morte de baleias por causa do transporte marítimo e está a procurar uma forma eficiente de reduzir os choques com navio, através do desenvolvimento de uma base de dados global padronizada de colisões de navios e baleias, para ajudar a identificar áreas de alto risco e factores de risco, para de conseguir determinar medidas mitigadoras.
O Serviço Nacional de Pescas Marinhas (NMFS) dos Estados Unidos publicou uma “regra final” para implementar restrições de velocidade para reduzir a ameaça de colisões de navios com baleias no Atlântico Norte, que entrou em vigor a 9 de Dezembro de 2013. Estabelece que as áreas de aglomeração de baleias no Great South Channel, devem ser evitadas, pelos navios ou grandes embarcações, através de áreas de tráfego estabelecidas.
A National Oceanic And Atmospheric Administration publicou um guia de conformidade para a Regra de Redução da Colisão dos Navios com a Baleia Jubarte, com rotas migratórias e partos, viveiros, com a restrição em certos locais a embarcações de 65 pés / 19,8 m (ou mais) e o limite de velocidade em 10 nós.
A Organização Marítima Internacional (OMI), recentemente, em resposta à proposta dos EUA de área a ser evitada (ATBA) no Grande Canal do Sul, anunciou que as vias de navegação em direcção aos portos da Califórnia serão, efectivamente, ajustados a partir deste ano.
Além disso, a Great Whale Conservancy (GWC) elaborou uma petição como parte de sua campanha de protecção às baleias azuis contra os navios, no Pacífico Norte e está a incentivar a compartilha e difusão do conhecimento.
O Smithsonian Tropical Research Institute recomenda padrões de tráfego aos navios e limites de velocidade a implementar no Golfo do Panamá para minimizar a ameaça de colisão dos navios com as baleias jubarte. De acordo com eles, deve haver um sistema de separação de trânsito nos dois sentidos, onde cada via de tráfego terá 2 milhas náuticas de largura, separadas por 3 milhas náuticas de águas abertas.
As vias de navegação alternativas devem ser imediatamente identificadas e determinadas, especialmente durante os períodos migratórios, quando a vida marinha pode ser fortemente condicionada. Também tem sido notado que as baleias mais fragilizadas e juvenis são as mais susceptíveis de serem atingidas por um navio, pelo que os seus habitats encerram maiores riscos de colisão e a sua passagem deve ser evitada.

Aplicação baseada em conhecimento
Foi, entretanto, desenvolvida pelo EarthNC – construtor de cartas marítimas electrónicas – em associação com várias agências governamentais, ONGs, grupos de conservação sem fins lucrativos, organizações do sector privado e instituições académicas, um aplicativo baseado em GPS que fornece informações de bóias acústicas passivas automáticas e envia um alerta para o oficial de navegação do navio, de provável presença de baleias francas no Atlântico Norte, nas vias de navegação dentro do Santuário Marinho Nacional do Stellwagen Bank, para potenciar a conservação das baleias mais frágeis. Também pode recomendar rotas alternativas, mostrando áreas a serem evitadas e, assim, reduzir a probabilidade de colisão entre baleias e navios.
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