18 de abril de 2017

Banidos no Mar: navios manchados de petróleo na Venezuela

No calor abrasador do Mar do Caribe, os trabalhadores em trajes de mergulho esfregam o petróleo à mão do casco do Caspian Galaxy, um petroleiro tão imundo que não pode entrar em águas internacionais.
O navio é um entre muitos que são, constantemente, contaminados em dois importantes terminais de exportação, onde carregam petróleo bruto da estatal venezuelana PDVSA. A água aqui tem um brilho oleoso de derrames nos oleodutos enferrujados abaixo da superfície.
Isto significa que os petroleiros têm de ser limpos antes de viajar para muitos portos estrangeiros, que não admitem navios manchados de crude por receio de danos ambientais nos seus portos, instalações portuárias ou outros navios.
A laboriosa operação de limpeza manual é uma das muitas causas de atrasos crónicos para dezenas de petroleiros que transportam a principal exportação da Venezuela para clientes em todo o mundo. Outras razões para os atrasos incluem reparações atrasadas ​​e arrestos por parte de fornecedores de serviços a quem a PDVSA deve dinheiro.
Os petroleiros fundeados aguardando por limpeza fornecem o exemplo vivo da espiral de degradação da empresa: a falta de dinheiro para manter adequadamente os navios, as refinarias e as operações de produção – ou para pagar os parceiros de negócios no prazo devido – a PDVSA não pode aumentar as exportações, fazer mais dinheiro.
As exportações em atraso interrompem o fluxo de dinheiro de volta para a paralisada economia socialista do país, onde os cidadãos lutam, diariamente, no meio de uma inflação galopante e escassez de alimentos e remédios. Como a Venezuela depende do petróleo – que representa mais de 90% das receitas de exportação – os problemas da empresa estatal de petróleo representam uma crise nacional.
As exportações de crude da Venezuela caíram 8% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao período homólogo de 2016, de acordo com dados da Thomson Reuters.
Quando os preços do petróleo estavam altos, as exportações de petróleo quase financiavam, totalmente, um elaborado sistema de controlos governamentais de preços e subsídios sociais que mantiveram a popularidade do falecido presidente Hugo Chávez.
Embora o presidente venezuelano Nicola Maduro insista manter programas sociais, ele já reconheceu, publicamente, que os preços mais baixos do petróleo deixaram o governo com menos dinheiro para os financiar.
Nos terminais de exportação de petróleo por todo o mundo – onde existam fugas brutais de óleo como as da Venezuela são relativamente raros – um petroleiro manchado de óleo seria normalmente retirado da água e limpo com equipamento industrial em doca seca.
Mas a Venezuela tem apenas uma pequena doca seca e não tem capacidade financeira, nem tempo, para enviar os seus navios-tanque sujos para limpeza adequada, de acordo com os executivos da PDVSA, capitães de navios e trabalhadores das empresas de limpeza de petroleiros.
Assim os trabalhadores, com recurso a um pequeno barco de pesca, limpam o petroleiro gigante com milhares de esfregadelas de escova-esfregão. O trabalho – que envolve a limpeza de navios acima e abaixo da linha de água – pode levar até dez dias por navio, segundo disse um trabalhador envolvido na limpeza.
Numa situação real testemunhada pela Reuters em Abril, trabalhadores envergando fatos de mergulho esfregavam, do convés de um pequeno barco, o costado do Caspian Galaxy, um navio-tanque afretado para uma viagem por um cliente da PDVSA.
Os trabalhadores actuam no mar em frente da praia de Amuay, perto de um pólo turístico e da maior refinaria da PDVSA. Essas equipas têm lavado, aqui, tantos navios nos últimos meses, que já apelidaram a sua operação como “estação de serviço e lavagem de barcos”.
Segundo especialistas, esta situação é única no mundo, e já deu oportunidade à criação de articulado extra na contratação de navios, fazendo clara alusão à situação do mercado venezuelano como, por exemplo, a Venezuela Clause.
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