15 de novembro de 2017

Por que cresce a indústria de navios de cruzeiro no Médio Oriente

Apenas há um mês, ao largo da costa da Somália – onde os piratas, ocasionalmente, sequestram os navios de carga – os passageiros no elegante Seabourn Encore estavam desfrutando martinis e ópera à volta da piscina quando, da escuridão, surgiu uma pequena lancha. A multidão correu para a amurada para ver.
Para o navio de cruzeiro subiram vários “seguranças” munidos de “armas convencionais”, e que proporcionariam, como explicava o capitão, um nível adicional de protecção ao que era uma passagem potencialmente complicada.
“Isto é exactamente como num filme de James Bond”, disse o Dr. Jack King, um médico dentista de Dayton, Ohio, um dos 548 passageiros que fizeram o cruzeiro de três semanas, de Roma até o Dubai.
Uma semana depois, perto de Abu Dhabi, soou um alarme, dando sinal de chegada de outro barco. Desta vez, foi abastecido com latas de 500 gramas de Sterling Caviar e Champagne para que os hóspedes do Encore pudessem desfrutar no surf numa quente praia privada.
Cruzar do Mediterrâneo para o Golfo Pérsico produz uma sensação de intriga – e, muitas vezes, uma parcela justa de “opcionais” de cinco estrelas. E cada vez mais e mais viajantes estão “a comprar a ideia” – e dispostos a pagar por ela.
Atracou no Dubai, durante 2009, um total de 87 navios de cruzeiro, um número que quase duplicou (para 157), durante a temporada de inverno 2016-2017. Pelas últimas estatísticas, 18 empresas estavam a escalar o Médio Oriente este inverno, com cinco linhas de cruzeiro a operarem ali por uma temporada completa; outras empresas, incluindo a P & O da Carnival Corp., estão a planear novos itinerários para dar início à operação em 2019.
É por isso que, com os países do Médio Oriente a investirem, fortemente, em infra-estrutura, as linhas de cruzeiros olham para a região como um lugar atraente para colocar as suas frotas europeias durante a temporada de inverno, enquanto os viajantes vêem estes novos itinerários como uma forma fácil de visitar várias atracções de uma lista que, provavelmente, ainda não visitaram.
Sem preocupações
As pirâmides egípcias, a antiga cidade de Petra na Jordânia, o Muro das Lamentações em Jerusalém – o Médio Oriente tem imensos cartões-de-visita turísticos e o cruzeiro é uma forma fácil de ver vários deles de uma só vez. Viagens mais longas, como a do Seabourn Encore, incluem visitas aos dois últimos, além de passeios fluviais através do Canal de Suez e passeios de camelo em Wadi Rum, onde Lawrence da Arábia imortalizou o deserto vermelho da Jordânia.
Mesmo em itinerários curtos de uma semana, os cruzeiros podem permitir um “cheirinho” da velha Arábia, em Omã, onde os comerciantes do mercado vendem incenso e perfume e depois experimentam as delícias modernas de Abu Dhabi e Dubai, incluindo o reluzente Louvre Abu Dhabi. O antigo forte na elegante cidade do Bahrein e os artefactos milenares no Museu de Arte Islâmica de I.M. Pei, em Doha, são excelentes exemplos de como estes itinerários fornecem convincentes pontes entre o antigo e o moderno.
A combinação de visita destes lugares por viagem terrestre requer um planeamento de nível especializado. Relações diplomáticas duvidosas entre os governos vizinhos da região poderiam obrigar a não poder passar uma fronteira devido aos carimbos de um país rival no passaporte. Muitas dessas principais atracções exigem, além disso, a assistência de um guia e motorista.
De navio, é infalível: os vistos são organizados pela linha de cruzeiro e emitidos quando se desembarca para o porto. E os viajantes preocupados com a segurança sentir-se-ão confortados pela presença constante de guardas armados, tanto no navio e cais, como em terra, embora os não vejam.
É muito melhor por mar
Existem outros benefícios para o cruzeiro de luxo no Médio Oriente. Os bares abertos são mais fáceis de encontrar nos navios do que por terra adentro. No Encore, as compras de luxo navegam, literalmente, consigo: se não encontrou o que queria no mercado dourado do Dubai, poderá sempre optar por um colar de diamantes e safira amarelas por US $ 41,000 a bordo do navio.
Talvez o mais importante, as excursões em terra têm, sempre, assistência de guias locais que podem ajudar a quebrar as barreiras culturais, quer se trate de visitar mesquitas opulentas, explorar mercados labirínticos ou andar na montanha-russa mais rápida do mundo, na Ferrari World Abu Dhabi. Ajudam, ainda, os cruzeiristas a ultrapassar barreiras linguísticas e os rígidos códigos de vestuário locais.
Segundo uma jovem cruzeirista norte-americana, Vanessa Bechtel de 38 anos, ela estava preocupada com piratas, violência, ódio pelos Estados Unidos, ser uma mulher jovem, não entender os costumes de forma correcta e, por isso, poder ofender inadvertidamente. Afinal, tudo correu bem…
Por enquanto, só estrangeiros a bordo...
Do ponto de vista de uma linha de cruzeiro, o Médio Oriente é uma potencial mina de ouro – assumindo que esta zona do globo permanece politicamente estável. Por um lado, eles podem usar estes itinerários para rentabilizar o tempo necessário para reposicionar um navio, desde a temporada de verão no Mediterrâneo até à temporada de inverno na Ásia ou no Pacífico Sul. (Na largada de Bechtel Jubail, o Encore estava a caminho de Singapura – uma viagem que o navio terá de fazer no sentido inverso na próxima primavera, até Atenas e Roma).
Estes itinerários também atraem uma grande variedade de viajantes. Até agora, as viagens longas pretendiam servir ligações entre continentes por entusiastas com amplos períodos de férias – ou reformados. Por outro lado, os cruzeiros de uma semana atraem, principalmente, turistas alemães e italianos numa indústria que, actualmente, é predominante em navios de linha alemães e italianos, como a AIDA Cruises e a Costa Cruises Spa.
Em última análise, a esperança das companhias é que tanto os locais, como os expatriados e clientes indianos, possam aderir ao cruzeiro, embora haja ressalvas consideráveis ​​para os muçulmanos praticantes: as instalações do navio ainda são, por defeito, de design ocidental, com piscinas e bares partilhados (homens e mulheres) que servem bebidas alcoólicas.
Em Setembro passado, depois de obter garantias de que a comida Halal seria servida em navios da MSC Cruises e Celebrity Cruises a partir de Abu Dhabi, o emirado lançou a primeira campanha, no Conselho de Cooperação do Golfo, para incentivar férias de cruzeiro.
Mesmo que não estejam a bordo, os locais são beneficiados. Um crescente mercado de cruzeiros significa mais visitantes e mais dólares gastos em terra. É por isso que Abu Dhabi abriu o seu primeiro terminal de cruzeiros dedicado há dois anos, seguido da estreia, no ano passado, da Sir Bani Yas Island Cruise Beach, um porto artificial acessível por barcos de apoio. “Em toda a região, não há qualquer outro produto de cruzeiro, deste tipo, disponível”, disse Saeed Abdullah Al Dhaheri, gerente do sector de cruzeiros de Abu Dhabi.
O esforço está a dar frutos. Os passageiros de cruzeiros em Abu Dhabi aumentaram dez vezes na última década, com 345 mil passageiros na temporada passada. Esse número deverá aumentar em 5% esta temporada. O Dubai, no entanto, projecta chegar ao milhão de passageiros de cruzeiro até 2020, ao mesmo tempo que deu início à construção de dois novos terminais de cruzeiro.
Uma experiência envolvente
Larry Pimentel, presidente e director executivo da Azamara Club Cruises, uma pequena frota de luxo sob o controlo da Royal Caribbean Cruises Ltd, prevê que este é, apenas, o início de uma trajectória ascendente para o mercado de cruzeiro do Médio Oriente. "Eu acredito que o Médio Oriente se vai tornar um mercado maior de cruzeiro”, disse.
Navegando pela região no ano passado, durante uma estadia prolongada em Muscat, o próprio Pimentel organizou uma excursão para passar uma noite nas tendas de Louis Vuitton, colocadas numa comunidade beduína no deserto. Foi um enorme sucesso. No ano que vem, dois dos seus três navios de 690 passageiros pernoitarão em Muscat.
“O Médio Oriente reverte-se de interesse significativo por parte dos viajantes de luxo de hoje, que procuram envolvência cultural e experiências diferentes”, disse Richard Meadows, presidente da Seabourn. Os hóspedes querem sentir que são parte da paisagem local, “não apenas visitar por visitar os locais turísticos mais populares”, disse ele.
Voltando à jovem norte-americana, enquanto os seus amigos achavam que ela estava louca ao tentar cruzar o Médio Oriente, a passageira Bechtel da Seabourn, espera voltar à região em breve.
(Artigo Bloomberg)
Fonte

Sem comentários:

Enviar um comentário