21 de dezembro de 2016

Obama condiciona Trump ao proibir a prospecção de petróleo na costa leste e no Árctico

Na terça-feira, o presidente Obama anunciou que colocava, "indefinidamente", quase um milhão de km2 de águas federais, tanto no Árctico como no Oceano Atlântico, fora dos limites para futura prospecção de petróleo e gás.
Os grupos ambientalistas vinham a pedir, precisamente, esta decisão desde as eleições – como forma de antecipação a Donald Trump. O que é interessante aqui realçar é que, embora Obama possa, legalmente, pôr essas áreas fora dos limites por ordem executiva, não é claro que Trump possa, unilateralmente, reverter esta disposição, pelo menos sem o Congresso aprovar uma nova lei. A disputa depende de uma secção pouco clara de uma lei de 1953, a Lei de Terras da Plataforma Continental Exterior, que nunca foi dirimida nos tribunais.
Primeiro, vamos olhar para as terras em questão. A Casa Branca colocou meio milhão de km2 de águas federais ao norte do Alasca, nos mares de Chukchi e Beaufort, fora dos limites de futura exploração de petróleo e gás. (Uma secção menor do mar de Beaufort, perto da costa, continuará disponível para futuro arrendamento).
A Shell já tinha, anteriormente, tentado procurar crude nesta região gelada e traiçoeira – mas acabou por desistir em Setembro passado, depois de insucessos sucessivos da prospecção, combinados com os preços baixos do petróleo – mas o projecto tornou-se demasiado arriscado e caro. A Shell lutou com gelo flutuante e o clima severo da região durante anos.
Obama procedeu de igual forma com 20 mil de km2 do Oceano Atlântico norte. Anteriormente, durante o seu mandato, o seu departamento do interior tinha ponderado concessionar algumas dessas áreas mais a sul, no Atlântico médio. No entanto, ele acabou por reverter, mais tarde, essa possibilidade, depois das comunidades costeiras da Virgínia e Carolina do Norte terem protestado a preocupação com os efeitos de potenciais derrames no turismo.
Então, como conseguiu Obama fazer isto? Simples. A Secção 12 (a) da Lei das Terras da Plataforma Continental Exterior diz: "O Presidente dos Estados Unidos pode, de vez em quando, retirar a disponibilidade de quaisquer das terras não libertas da Plataforma Continental Externa". E foi o que Obama fez: retirou a disponibilidade dessas áreas, tal como previsto na disposição legal. A plataforma continental externa inclui o fundo submerso do mar, entre o continente dos EUA e o oceano profundo. As companhias têm vindo, até agora, a perfurar no golfo do México.
No entanto, a questão mais entranha desta lei de 1953 é que ela não estabelece que um futuro presidente possa vir a desfazer uma retirada permanente como esta. Segundo dois grupos ambientalistas explicam, o Natural Resources Defense Council e o EarthJustice, a reversão implica que apenas o Congresso pode voltar a colocar essas áreas em disponibilidade para concessão de petróleo e gás.
Não está, assim, claro o que irá acontecer a seguir. Nenhum presidente jamais tentou reverter uma retirada permanente feita sob a seção 12 (a). Mas Trump prometeu abrir novas áreas federais para perfuração de petróleo e gás, quando presidente, sendo que a indústria petrolífera já está a pressioná-lo a desafiar a iniciativa de Obama.
Se Trump tentar contornar essa proibição logo veremos o que os tribunais têm a dizer. Ou, alternativamente, o Congresso controlado pelo GOP poderá tentar aprovar um novo projecto de lei que coloca explicitamente essas áreas de novo em praça para perfuração de petróleo e gás (embora, neste caso, tenha, provavelmente, de passar pela obstrução do Senado primeiro o que não se afigura fácil).
Também não é claro quanta prospecção de petróleo e gás na realidade viria a ocorrer nessas áreas, se disponibilizadas novamente. Os atuais baixos preços do petróleo têm assustado as empresas como a Shell de se envolver em exploração, cara e arriscada, de petróleo no Árctico. (As companhias petrolíferas só podem perfurar lá no verão, quando o gelo mais espesso se derrete e, mesmo assim, sujeitas a tempestades violentas e icebergs flutuantes que representam desafios extremos para as equipes de perfuração. Ao longo do Atlântico, entretanto, os governos estaduais são, na sua maioria, contra a prospecção e, provavelmente, teriam uma palavra a dizer sobre o assunto.
Em comunicado, a Casa Branca apontou a necessidade de se iniciar o processo de substituir os combustíveis fósseis para enfrentar as alterações climáticas, bem como os perigos de um derrame de óleo numa região como o Árctico, ecologicamente sensível, que seria difícil de limpar (por causa do gelo).
Esta decisão legislativa foi tomada em articulação com o governo do primeiro-ministro Justin Trudeau, do Canadá, que colocou algumas de suas próprias águas fora dos limites de possível exploração de combustíveis fósseis, embora essa proibição canadiana possa ser revista a cada cinco anos.
Artigo original


Sem comentários:

Enviar um comentário