17 de janeiro de 2022

Colónia gigante de peixes-gelo descoberta no mar da Antártida

Cientistas que investigam o solo do oceano na Antártida descobriram uma colónia da espécie peixe-gelo-austral com 60 milhões de ninhos ativos. Estima-se que a colónia cubra cerca de 240 quilómetros quadrados. A maioria dos ninhos analisados eram ocupados por um único peixe adulto, que guardava mais de 1700 ovos.

Conhecido por viver nas águas geladas da Antártida, o peixe-gelo-austral não possui escamas, apresenta ossos finos e sangue tão translúcido que chega a ser transparente. Isso deve-se ao facto de ser um peixe, praticamente, sem eritrócitos e sem hemoglobina. Por isso, o sangue é amarelado transparente, as brânquias são creme pálido e a carne é extremamente branca. São peixes, relativamente, grandes atingindo, quando adultos, cerca de 25 a 75 cm.

A descoberta, publicada esta quinta-feira, estima que a colónia cubra cerca de 240 quilómetros quadrados e contenha um valor de biomassa dos peixes superior a 60 mil toneladas, aponta o comunicado de imprensa.

    “A nossa descoberta mais importante é, pura e simplesmente, a existência de uma colónia tão extensa de peixe-gelo-austral”, explicou Autun Purser, um dos investigadores responsáveis pela descoberta. “Uma dúzia de ninhos tinham sido observados noutro local no Ártico, mas esta descoberta é muito maior em várias ordens de magnitude”.

Autun Purser, do Instituto Alfred Wegener, na Almenha, realizou, em conjunto com a restante equipa, a descoberta com recurso a um equipamento que permite observar o fundo do oceano. “Basicamente é um largo equipamento de reboque, que pesa uma tonelada, que rebocamos atrás do quebra-gelo RV Polarstern a uma velocidade entre um e quatro quilómetros por hora”, explicou o cientista.

A investigação de rotina focou-se naquela zona do fundo do mar porque naquela região, a água é dois graus Célsius mais quente. Segundo Autun Purser, contudo, os investigadores não esperavam encontrar “nenhuma espécie de ecossistema de peixes”.

A maioria dos ninhos analisados estavam ocupados por um único peixe adulto, que guardava mais de 1700 ovos. Além disso, os cientistas encontraram várias carcaças de peixes na área dos ninhos, o que sugere que estes animais são parte da cadeia alimentar da região. Purser e os restantes colegas suspeitam que a colónia seja local de refeição para vários predadores, como focas.

    “Os dados registados mostram que as focas mergulham de facto até às profundezas onde estão os ninhos dos peixes, pelo que poderão estar a alimentar-se deles”, concluiu.

Esta nova descoberta, publicada na revista Current Biology, revelou um ecossistema único, que pode ajudar a estabelecer uma Área Marinha Protegida regional no sudoeste do oceano Atlântico.

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