16 de outubro de 2016

Pequenos portos – que futuro?

À medida que na busca por economias de escala os armadores foram adquirindo navios cada vez maiores, os portos que os recebem tiveram de se adaptar, modernizando-se, não só em equipamento mas, sobretudo, adaptando-se às exigências das novas dimensões a acolher. É claro que, nos dias de hoje, a modernização do equipamento será, provavelmente, o pormenor menos limitativo, apesar de nunca menosprezável. A adaptação portuária às novas dimensões sim, ganha uma maior proporção e é muito limitativa da modernização portuária.
Todos nós sabemos que nem todos os portos podem ser concentradores (hub port), mas a verdade é que os sistemas portuários têm vindo a evoluir de acordo com estas tendências de utilização de navios cada vez maiores. No actual momento de grandes incertezas sobre o desenrolar da crise no transporte marítimo contentorizado, com as taxas de frete a baixarem para baixo do limiar do break-even, devido ao excesso de oferta de tonelagem, assistiu-se a um efeito de cascata, por colocação de navios grandes, que até há pouco navegavam nas grandes rotas comerciais, em rotas regionais e, até, locais.
Com as novas regras sobre as emissões dos navios “à perna”, que vão levar ao aumento do preço do combustível (com menor índice de enxofre) ou à obrigatoriedade de utilização de caríssimos depuradores adaptados aos antigos motores de fuel pesado, os armadores vão ter de iniciar a substituição da sua frota, por navios que consigam absorver os enormes custos (provavelmente, maiores – economia de escala). Assim sendo, os navios mais antigos e menores serão transferidos para outros locais e tráfegos.
Para os portos mais pequenos, a utilização de navios maiores, desviados de outras rotas, representa uma pressão considerável, essencialmente em dois campos distintos: o primeiro coloca pressões de fiabilidade e de competência, devido aos maiores volumes de carga que representam as novas unidades utilizadas; em segundo, se os navios são maiores e levam mais carga, passarão a visitar menos vezes o porto, alargam as escalas e, por isso, haverá um constrangimento financeiro infligido (quer pelo menor número de cobranças directas de taxas portuárias, quer pelo aumento obrigatório dos stocks, por parte da cadeia de abastecimento e por causa do maior intervalo entre escalas).
Na realidade, cerca de 50% dos navios porta-contentores existentes encontram-se na situação de Lay-up, sem utilização. Pior que isso, tem idade média de 15 anos estando, portanto, no limiar da sua vida útil, muito próximo de fazer a viagem até ao sucateiro. Na sua maioria esmagadora, são unidades com capacidade até 1.000 TEU’s. A maioria dos navios encomendados inserem-se na gama superior (entre os 1.000 e 2.999 TEU’s), o que permite uma maior flexibilidade aos operadores mas, por outro lado, vai exercer uma pressão significativa em portos de menor expressão. Convém lembrar que mais de 20% dos portos mundiais de contentores são, actualmente, servidos por navios sub-1000 TEU’s e possuem profundidades de trabalho inferiores a 9,1m. Se forem confrontados com a necessidade de calados de, pelo menos, 8,7m, vão ver a sua viabilidade ameaçada, se não promoverem um investimento significativo. Embora o comprimento dos cais seja importante, a profundidade é a métrica fundamental na maioria das expansões portuárias e na respectiva infra-estrutura de acesso (barras, eclusas, canais).
Pelo que se tem vindo a assistir, é natural que os portos mais pequenos passem pelo mesmo processo já vivenciado pelos maiores. Ou se adaptam ou morrem. Os portos que não se actualizem podem perder as suas linhas ou, então, os carregadores locais vão ser obrigados a pagar um custo adicional por uma baldeação suplementar de um navio feeder maior para um menor ou, até mesmo, venham a ser forçados a depender de ligações terrestres. Mesmo que o porto encontre financiamento e consiga fazer o upgrade, haverá menos escalas, pelo que se põe a questão: será viável permanecerem abertos com menos escalas? E com abastecimentos mais espaçados os agentes económicos poderão suportar o crescimento obrigatório dos inventários? O que se convencionou chamar localização periférica já penalizou muitos produtores e consumidores longe das principais rotas comerciais, mas parece que, em breve, a situação poderá piorar.
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