12 de julho de 2018

A guerra comercial EUA/China terá forte impacto nos armadores

A A.P.Moeller-Maersk enfrenta sérios riscos de não obter lucro este ano, a braços com o aumento dos custos de combustível e da guerra comercial EUA-China, que promete prejudicar as maiores empresas de navegação do mundo. A empresa anunciou no início desta semana que reduziria o seu serviço entre a Ásia e o norte da Europa.
A Maersk, com sede em Copenhaga, já perdeu quase um terço de seu valor de mercado este ano, com os investidores a se prepararem para mais más notícias. O proteccionismo comercial significa menos procura, e a história sugere que a indústria marítima procurará “fazer pela vida”, provavelmente, com recurso aos cortes necessários na oferta. Além disso, a Maersk está, hoje, mais exposta à crise da navegação, já que o conglomerado se desfez dos seus negócios no sector da energia.
Numa entrevista à Bloomberg, Corrine Png, fundadora e CEO da Crucial Perspective – uma fornecedora de pesquisa e estudo de mercado em transportes com sede em Singapura – comentou que as avaliações (ranking) da Maersk, nos próximos meses, podem ser afectadas pelos investidores, perante o actual excesso de capacidade da frota.
Ela disse: “É mais difícil para a Maersk repassar, efectivamente, os custos mais elevados de combustível de bancas em comparação com o ano passado, aumentando o risco da Maersk vir a ser, apenas, marginalmente lucrativa na melhor das hipóteses ou, até mesmo, deficitária no actual exercício financeiro anual completo.
"A Maersk é a segunda maior transportadora na rota comercial Extremo Oriente-América do Norte, com 15% de participação de mercado, portanto, a queda das exportações da China para os EUA, devido ao agravamento das tarifas aduaneiras, prejudicará os resultados financeiros da Maersk".
Nas últimas semanas foram vários os analistas que reviram em baixa as suas perspectivas sobre a Maersk. A Kepler Cheuvreux baixou a sua cotação de preço de acções em 9% na semana passada, para as 12.000 coroas. Já a Jefferies reduziu a sua previsão de preço em 12%, para as 11.500 coroas. Mesmo assim, dos 28 analistas que cobrem a Maersk, apenas um está a recomendar aos clientes a venda das acções.
Entretanto, a The Alliance cortou um dos circuitos da linha trans-Pacífico, antecipando o esperado impacto da guerra comercial EUA-China, segundo afirmações do Director-Deral da Yang Ming Marine Transport, Vincent Lin, membro dessa aliança de transporte.
Em 12 de julho, a THE Alliance, que também inclui a Hapag-Lloyd e a Ocean Network Express, anunciou a suspensão do serviço trans-Pacífico do PS8 a partir do final deste mês. O serviço passará a ser coordenado com a rota trans-Pacífico PS5 que, actualmente, usa cinco navios entre os 6.300 e os 7.500 TEU de capacidade.
Segundo Lin, “os fluxos de carga podem ser afectados pela guerra comercial, embora a procura por bens de consumo não seja muito alterada. Ainda vemos espaço para crescimento na alta temporada usual no terceiro trimestre”. O terceiro trimestre do ano tende a ser o melhor período para o transporte de contentores, uma vez que os comerciantes nos Estados Unidos e na Europa se costumam abastecer antes do Dia de Acção de Graças e do Natal.
Outros analistas, porém, enfatizam não temer que a disputa comercial afunde os volumes de carga, já que a procura por parte do consumidor permanece estável. Assim, mesmo que os Estados Unidos e a China reduzam o comércio bilateral, enquanto a procura não reduzir o mercado mudará o destino para outros países – por outras palavras, o fluxo de bens mudará, embora a oferta não diminua e, portanto, as companhias de navegação ainda terão muito mercado a explorar.
Também a linha de transporte marítimo de contentores Hapag-Lloyd perdeu mais de US $ 1,38 milhar de milhão e viu as suas acções desvalorizarem 20% desde que reviu em baixa a sua previsão de lucro na sexta-feira.
Em comunicado, a Hapag-Lloyd atribuiu as perdas ao "aumento significativo e contínuo nos custos operacionais desde o início do ano, especialmente no que diz respeito aos custos relacionados com combustível e taxas de fretamento, combinados com uma recuperação mais lenta do que a esperada das taxas de frete".
Pelo que vemos, não são só a Hapag-Lloyd e a Maersk a terem problemas de lucratividade, já que os crescentes preços do petróleo forçaram os analistas a reduzir drasticamente as expectativas de lucro na indústria para 2018, apesar do crescimento da procura e das vendas e de algumas das linhas globais terem terminado o ano de 2017 com fortes ganhos.
Fonte

Sem comentários:

Enviar um comentário