Às vezes, no transporte marítimo,
como na vida, sucedem coisas que ninguém está à espera. A produção do chamado US shale / tight oil (xisto betuminoso),
que mal se conhecia há dez anos, parece ser uma dessas coisas. Ninguém podia
imaginar há dez anos que os EUA poder ser, em breve, um exportador líquido de
petróleo...
Antes de 2017, a última produção de
petróleo bruto dos EUA superior a 10 milhões de bpd foi no início da década de
1970, após o que a produção entrou em declínio durante quarenta anos. No início
da década de 1970, com a Guerra do Yom Kippur e o Embargo de petróleo árabe, os
motoristas americanos estavam horas em fila nos postos de gasolina, onde os
preços quadruplicaram em menos de um ano. Daí à proibição de exportação de
petróleo dos EUA em 1975 e a busca incessante pela independência energética até
hoje. Na verdade, há uma década, as importações de petróleo marítimo dos EUA
atingiram quase 8 milhões de bpd, equivalentes a 20% das importações globais de
petróleo marítimo e 40% do consumo de petróleo nos EUA.
Apenas o sector de produtos
petrolíferos refinados se manteve no mercado de exportação americano, com base
nas exportações interamericanas e nos acordos arbitrais transatlânticos entre
refinarias americanas e europeias, através das refinarias da Costa do Golfo.
As coisas começaram a mudar na política
petrolífera dos EUA no final dos anos 2000, devido à revolução do xisto betuminoso
e pelos avanços no "fracking"
(fractura hidráulica) e tecnologias relacionadas. A produção de petróleo própria
dos Estados Unidos aumentou 3,4 mbdd entre 2010 e 2014 (quase 80% do aumento
líquido da produção de petróleo globalmente nesse período) e foi um factor
chave na desaceleração do preço do petróleo em 2014.
O estímulo significativo que o
xisto betuminoso dos EUA tem dado aos mercados de GPL e LNG marítimos está bem
documentado. Inicialmente, a produção de óleo de xisto foi negativa para o
transporte marítimo, desviando as importações. No final de 2015, porém, a
proibição de exportação de petróleo bruto foi levantada. Pequenos volumes de
condensado semiprocessado já foram exportados sob determinadas condições
técnicas, mas isso veio abrir as portas. As exportações de petróleo marítimo
dos EUA triplicaram em 2017 e deverão atingir os 1,5 milhões de bpd em 2018 (4%
do total global). Dada a necessidade de misturar o óleo de xisto, mais leve,
com outros de gradientes mais pesados nas refinarias dos EUA, as importações de
petróleo dos EUA continuarão, provavelmente, a ser uma característica do
comércio marítimo. Entretanto, começou a falar-se, agora, sobre o aumento das
exportações de petróleo dos EUA (por exemplo, para o Extremo Oriente), o que
vem criar uma procura de transporte marítimo de longa distância.
Mesmo vivendo com as incertezas relacionadas com o
comportamento dos preços do petróleo e com o potencial de recursos, a revolução
do xisto parece estar para ficar. Claramente, isso poderá trazer implicações
significativas aos mercados de transporte marítimo de petróleo. E pensarmos que
uma década atrás nem as cabeças mais sábias conseguiram antecipar tudo isto…Fonte
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