3 de março de 2018

O petróleo de xisto americano e o transporte: o que esperar?

Às vezes, no transporte marítimo, como na vida, sucedem coisas que ninguém está à espera. A produção do chamado US shale / tight oil (xisto betuminoso), que mal se conhecia há dez anos, parece ser uma dessas coisas. Ninguém podia imaginar há dez anos que os EUA poder ser, em breve, um exportador líquido de petróleo...
Antes de 2017, a última produção de petróleo bruto dos EUA superior a 10 milhões de bpd foi no início da década de 1970, após o que a produção entrou em declínio durante quarenta anos. No início da década de 1970, com a Guerra do Yom Kippur e o Embargo de petróleo árabe, os motoristas americanos estavam horas em fila nos postos de gasolina, onde os preços quadruplicaram em menos de um ano. Daí à proibição de exportação de petróleo dos EUA em 1975 e a busca incessante pela independência energética até hoje. Na verdade, há uma década, as importações de petróleo marítimo dos EUA atingiram quase 8 milhões de bpd, equivalentes a 20% das importações globais de petróleo marítimo e 40% do consumo de petróleo nos EUA.
Apenas o sector de produtos petrolíferos refinados se manteve no mercado de exportação americano, com base nas exportações interamericanas e nos acordos arbitrais transatlânticos entre refinarias americanas e europeias, através das refinarias da Costa do Golfo.
As coisas começaram a mudar na política petrolífera dos EUA no final dos anos 2000, devido à revolução do xisto betuminoso e pelos avanços no "fracking" (fractura hidráulica) e tecnologias relacionadas. A produção de petróleo própria dos Estados Unidos aumentou 3,4 mbdd entre 2010 e 2014 (quase 80% do aumento líquido da produção de petróleo globalmente nesse período) e foi um factor chave na desaceleração do preço do petróleo em 2014.
O estímulo significativo que o xisto betuminoso dos EUA tem dado aos mercados de GPL e LNG marítimos está bem documentado. Inicialmente, a produção de óleo de xisto foi negativa para o transporte marítimo, desviando as importações. No final de 2015, porém, a proibição de exportação de petróleo bruto foi levantada. Pequenos volumes de condensado semiprocessado já foram exportados sob determinadas condições técnicas, mas isso veio abrir as portas. As exportações de petróleo marítimo dos EUA triplicaram em 2017 e deverão atingir os 1,5 milhões de bpd em 2018 (4% do total global). Dada a necessidade de misturar o óleo de xisto, mais leve, com outros de gradientes mais pesados nas refinarias dos EUA, as importações de petróleo dos EUA continuarão, provavelmente, a ser uma característica do comércio marítimo. Entretanto, começou a falar-se, agora, sobre o aumento das exportações de petróleo dos EUA (por exemplo, para o Extremo Oriente), o que vem criar uma procura de transporte marítimo de longa distância.
Mesmo vivendo com as incertezas relacionadas com o comportamento dos preços do petróleo e com o potencial de recursos, a revolução do xisto parece estar para ficar. Claramente, isso poderá trazer implicações significativas aos mercados de transporte marítimo de petróleo. E pensarmos que uma década atrás nem as cabeças mais sábias conseguiram antecipar tudo isto…
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