3 de março de 2018

A Shell escondeu a descoberta de reservatório gigante antes de licitar concessões mexicanas

Os suspiros de alívio na audiência do leilão dos blocos de petróleo do México foram, claramente, audíveis há um mês, quando as ofertas milionárias da Royal Dutch Shell foram anunciadas vencedoras, uma a uma.
O volume dos pagamentos por parte da Shell – US$ 343 milhões, num total de US$ 525 milhões que o México obteve na venda – superou as ofertas dos seus concorrentes, garantindo que a empresa arrecadasse nove dos 19 blocos offshore em leilão.
Mas a major anglo-holandesa sabia de algo que mais ninguém sabia.
Seis meses antes, a sua plataforma de perfuração havia atingido um reservatório gigante de petróleo, o poço “Whale” (Baleia), no lado norte do Golfo do México – ao longo da fronteira de muitos dos blocos mexicanos, que compartilham uma geologia semelhante da idade Paleogene.
Suspeitando que isso aumentava, significativamente, as hipóteses dos blocos mexicanos também conterem tesouros, a Shell atrasou o anúncio da descoberta até o dia do leilão, após a submissão das propostas.
"Após a descoberta da “Baleia”, tiramos algumas conclusões geológicas. Não foi por acaso que não o anunciamos até o dia do leilão“, disse Andy Brown, chefe de produção de petróleo e gás da Shell à Reuters. “Os nove blocos dão-nos um potencial significativo”.
O conhecimento geológico obtido na descoberta da “Baleia” explica por que a Shell licitou, de forma tão agressiva, os blocos mexicanos, algo que confundiu os especialistas da indústria.
A Shell, ou qualquer outro explorador, não é, legalmente, obrigado a divulgar, publicamente, uma descoberta. O facto de este ter sido o primeiro grande sucesso de pesquisa em mais de 10 anos, para mais em blocos que iam entrar em leilão, foi uma questão de sorte, pelo que o momento para o anunciar não podia ser pior...
A Shell ainda não avançou nenhuma estimativa para os recursos possíveis ​​da “Baleia” – nem quis comentar sobre o tamanho potencial das reservas – mas duas fontes da indústria, próximas ao projecto de exploração, colocaram o valor em até 700 milhões de barris de petróleo anuais. Isso equivale a cerca de metade da produção de petróleo que a Shell teve em 2017, o que poderá fazer do reservatório uma das maiores descobertas da última década na indústria.
Os combustíveis fósseis, como o petróleo, são formados ao longo de milhões de anos em formações rochosas específicas, que geólogos e pesquisadores tentam identificar através de estudos sísmicos e perfuração para prever onde os recursos podem ser encontrados.
Mas, mesmo que a geologia por similitude possa aumentar as hipóteses de sucesso em explorações semelhantes, não há garantias, e a sorte será sempre um factor preponderante. Portanto, não há certeza de que os blocos mexicanos contíguos produzam volumes comerciais de petróleo.
A Shell adquiriu grandes quantidades de dados sísmicos especializados antes do leilão, sobre a “Baleia” e os blocos mexicanos, para tentar obter um melhor conhecimento das formações geológicas e das potenciais reservas de petróleo sob o fundo do mar, de acordo com uma fonte de uma empresa de serviços que produz essa informação.
A Shell precisa reabastecer as suas reservas de petróleo e gás para manter a sua produção na década de 2030. Além da aquisição de US$ 54 mil milhões ao grupo BG em 2016, que alargou as suas reservas, a empresa tem tido um sucesso limitado nos últimos anos.
No ano passado, foi capaz de substituir apenas 27% de sua produção, enquanto a média dos últimos três anos foi de 78%. O declínio nas reservas significa que, no final de 2017, a Shell apenas possuía reservas suficientes para manter a sua produção por 8,9 anos, em comparação com os cerca de 10,5 anos em 2015.
A empresa, como muitos de seus pares, foi forçada a reduzir, drasticamente, os gastos nos últimos anos devido aos fracos preços do petróleo, com os orçamentos de exploração a serem, particularmente, afectados. Agora que os preços recuperaram para um máximo de quase três anos, para cerca de US$ 65 os barris, as empresas sentem-se mais confiantes para investir mais uma vez no desenvolvimento offshore.
A Shell possui uma participação de 60% no projecto de pesquisa da “Baleia”, com os 40% restantes a pertencerem à Chevron, que está, essencialmente, focada no xisto.
O reservatório está localizado na área de Perdido, que se tornou o coração das actividades de águas profundas da Shell, na parte americana do Golfo do México. As empresas como a Shell, olham para a costa do México, esperando usar a vasta infraestrutura de tubulações e plataformas do lado dos EUA para reduzir os custos de desenvolvimento, segundo a consultora Wood Mackenzie, com sede em Edimburgo.
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