Os suspiros de alívio na audiência do
leilão dos blocos de petróleo do México foram, claramente, audíveis há um mês, quando
as ofertas milionárias da Royal Dutch Shell foram anunciadas vencedoras, uma a
uma.
O volume dos pagamentos por parte
da Shell – US$ 343 milhões, num total de US$ 525 milhões que o México obteve na
venda – superou as ofertas dos seus concorrentes, garantindo que a empresa arrecadasse
nove dos 19 blocos offshore em
leilão.
Mas a major anglo-holandesa sabia de algo que mais ninguém sabia.
Seis meses antes, a sua plataforma
de perfuração havia atingido um reservatório gigante de petróleo, o poço “Whale”
(Baleia), no lado norte do Golfo do México – ao longo da fronteira de muitos
dos blocos mexicanos, que compartilham uma geologia semelhante da idade Paleogene.
Suspeitando que isso aumentava,
significativamente, as hipóteses dos blocos mexicanos também conterem tesouros,
a Shell atrasou o anúncio da descoberta até o dia do leilão, após a submissão
das propostas.
"Após a descoberta da “Baleia”,
tiramos algumas conclusões geológicas. Não foi por acaso que não o anunciamos
até o dia do leilão“, disse Andy Brown, chefe de produção de petróleo e gás da
Shell à Reuters. “Os nove blocos dão-nos um potencial significativo”.
O conhecimento geológico obtido na descoberta
da “Baleia” explica por que a Shell licitou, de forma tão agressiva, os blocos
mexicanos, algo que confundiu os especialistas da indústria.
A Shell, ou qualquer outro
explorador, não é, legalmente, obrigado a divulgar, publicamente, uma
descoberta. O facto de este ter sido o primeiro grande sucesso de pesquisa em
mais de 10 anos, para mais em blocos que iam entrar em leilão, foi uma questão
de sorte, pelo que o momento para o anunciar não podia ser pior...
A Shell ainda não avançou nenhuma
estimativa para os recursos possíveis da “Baleia” – nem quis comentar sobre o
tamanho potencial das reservas – mas duas fontes da indústria, próximas ao projecto
de exploração, colocaram o valor em até 700 milhões de barris de petróleo
anuais. Isso equivale a cerca de metade da produção de petróleo que a Shell teve
em 2017, o que poderá fazer do reservatório uma das maiores descobertas da
última década na indústria.
Os combustíveis fósseis, como o
petróleo, são formados ao longo de milhões de anos em formações rochosas
específicas, que geólogos e pesquisadores tentam identificar através de estudos
sísmicos e perfuração para prever onde os recursos podem ser encontrados.
Mas, mesmo que a geologia por similitude
possa aumentar as hipóteses de sucesso em explorações semelhantes, não há
garantias, e a sorte será sempre um factor preponderante. Portanto, não há
certeza de que os blocos mexicanos contíguos produzam volumes comerciais de
petróleo.
A Shell adquiriu grandes
quantidades de dados sísmicos especializados antes do leilão, sobre a “Baleia”
e os blocos mexicanos, para tentar obter um melhor conhecimento das formações
geológicas e das potenciais reservas de petróleo sob o fundo do mar, de acordo
com uma fonte de uma empresa de serviços que produz essa informação.
A Shell precisa reabastecer as suas
reservas de petróleo e gás para manter a sua produção na década de 2030. Além
da aquisição de US$ 54 mil milhões ao grupo BG em 2016, que alargou as suas
reservas, a empresa tem tido um sucesso limitado nos últimos anos.
No ano passado, foi capaz de
substituir apenas 27% de sua produção, enquanto a média dos últimos três anos
foi de 78%. O declínio nas reservas significa que, no final de 2017, a Shell apenas
possuía reservas suficientes para manter a sua produção por 8,9 anos, em
comparação com os cerca de 10,5 anos em 2015.
A empresa, como muitos de seus
pares, foi forçada a reduzir, drasticamente, os gastos nos últimos anos devido
aos fracos preços do petróleo, com os orçamentos de exploração a serem, particularmente,
afectados. Agora que os preços recuperaram para um máximo de quase três anos,
para cerca de US$ 65 os barris, as empresas sentem-se mais confiantes para
investir mais uma vez no desenvolvimento offshore.
A Shell possui uma participação de
60% no projecto de pesquisa da “Baleia”, com os 40% restantes a pertencerem à
Chevron, que está, essencialmente, focada no xisto.
O reservatório está localizado na área de Perdido, que
se tornou o coração das actividades de águas profundas da Shell, na parte
americana do Golfo do México. As empresas como a Shell, olham para a costa do
México, esperando usar a vasta infraestrutura de tubulações e plataformas do
lado dos EUA para reduzir os custos de desenvolvimento, segundo a consultora
Wood Mackenzie, com sede em Edimburgo.Fonte
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