24 de março de 2017

Uma questão de confiança no mercado

Por um lado, o sector dos contentores – ou, pelo menos, alguns dos seus principais intervenientes – continuam a apelar a uma maior consolidação, por outro, os carregadores e as autoridades da concorrência vêm exigir investigações sobre o possível conluio de fixação de preços por parte das linhas.
A emissão, esta semana, de intimações a vários operadores de contentores, incluindo as Maersk, MSC, Hapag Lloyd, OOCL e Evergreen pelo Departamento de Justiça dos EUA para testemunhar em investigação anti truste não representa, na realidade, uma grande surpresa.
Historicamente, as companhias marítimas têm colaborado na fixação de preços e no controlo de custos, seja através de conferências ou mais recentemente de alianças. Nenhuma das duas soluções tem sido muito bem recebido pelos interesses da carga e, nos últimos tempos, as autoridades costumam decidir a favor dos carregadores em vez das linhas. Em Julho do ano passado, os reguladores da concorrência da UE aceitaram uma proposta da Maersk e de 13 concorrentes para alterarem as suas práticas de preços, a fim de evitar que fossem aplicadas sanções.
As linhas de transporte marítimo enfrentam custos aproximadamente semelhantes na operação de navios e nos portos, pelo que o facto de os fretes deverem apresentar níveis semelhantes, em todo o sector, não deveria ser surpresa. E, claro, terá de haver o elemento lucro, além da cobertura dos seus gastos mas, quando as linhas de navegação alegam “pobreza” devem estar cientes de que a sua contínua encomenda de novos navios, que adiciona capacidade, acaba por jogar a favor dos investigadores. Se os navios não são rentáveis, então por que encomendam mais? Esta será a questão (de milhões de dólares) a que vão ter de responder.
A consolidação pode cortar custos às linhas, mas ela é conseguida à custa da concorrência e, se a prática seguir o seu curso natural, o resultado será restarem apenas uma ou duas linhas em operação. Isso provavelmente não será aceitável para os reguladores da concorrência e poderia até mesmo resultar em a regulação mais rigorosa das linhas, ficando sujeitas ou, até mesmo, a serem obrigadas a restringir as suas operações, para permitir a entrada de concorrentes no mercado.
Ficamos à espera para ver como vai terminar a investigação dos EUA. No entanto, se as autoridades considerarem a actual situação como estando a ser estruturada a favor das companhias marítimas e agirem no sentido de acabar com as alianças (como já alguns acreditam que possa acontecer), então a recente série de anos fracos para os operadores vai, não só, continuar mas, até, piorar.
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