É difícil pensar em duas indústrias mais pressionadas do que
a petrolífera e a do transporte marítimo. O azar da AP Moller-Maersk A / S é
estar fortemente envolvida em ambas.
Os investidores estavam à espera de que o pior tivesse
passado. Os preços do petróleo e as taxas de frete marítimo começaram,
recentemente, a mostrar aumentos, ainda que ténues, e a consolidação no
transporte de contentores está, finalmente, em curso. Mas na quarta-feira
passada, o optimismo foi abalado quando o conglomerado dinamarquês antecipou
que a Maersk Line teria um prejuízo, no presente ano económico, de cerca de 9%.
O reconhecimento da realidade veio, sem dúvida, atrasado.
Por isso, o Grupo AP Moller-Maersk A / S está a separar as suas actividades de
energia e de transporte para se poder concentrar no último. Enquanto o seu
plano possa vir a proporcionar maiores economias de custos e aliviar
redundâncias, ele não poderá corrigir o enorme problema de excesso de
capacidade na indústria do transporte.
Na sequência da insolvência da Hanjin Shipping Co Ltd, a
Maersk aumentou a sua quota de mercado – os seus volumes de tráfego aumentaram
11% no terceiro trimestre, (comparado com o crescimento da procura, na
indústria em geral, de cerca de 1,5%). Mas, na verdade, ganhar uma maior quota
num negócio não lucrativo será, na realidade, uma coisa assim tão boa?
A Maersk Line apresenta um fluxo de caixa positivo, embora,
com prejuízo – apesar de outros estarem a perder mais. A sua estratégia parece
ser: cortar custos, impulsionar o crescimento e aumentar a pressão a
concorrentes financeiramente mais ameaçados, tentando que eles desistam. O
problema é que, embora pouco, os preços do petróleo têm vindo a subir e a
Maersk Line corre o risco de perder algo que a estava ajudar suster os seus
ganhos: o combustível barato. A sua conta com combustível aumentou, em
comparação com o segundo trimestre, o que explica por que as melhores taxas de
frete não levaram a um retorno ao lucro.
Assim, porquanto a Maersk não esteja em “perigo de afundar”
como a Hanjin, “está a meter água”. As perdas da Maersk Line neste ano
totalizam cerca de 229 milhões de USD, até agora. A longo prazo, a consolidação
deverá, em teoria, conduzir a uma maior recuperação das taxas de frete, mas
será um processo de desenvolvimento lento.
Os aumentos de capacidade na indústria de transporte
superaram, de novo, o crescimento da procura no terceiro trimestre, sugerindo
que ainda não tenha sido percebida a existência de excesso. Embora as taxas de
demolição de navios tenham crescido, ainda estão a ser entregues navios novos e
a bolsa de encomendas da indústria cifra-se em cerca de 16% da capacidade actual
da frota.
O interessante de tudo isto, é que os activos da divisão de
energia do Grupo tivessem feito muito melhor do que divisão de negócios de
transporte. Ainda bem, claro. Encontrar interessados em joint-ventures e fusões
em activos de petróleo será muito mais fácil se estes forem rentáveis. Mas o
facto de o óleo estar a oferecer melhores retornos é paradigmático de que algo
se passa no transporte de mercadorias por mar.
E o sinal inequívoco de que algo não corre bem ao gigante
escandinavo é o seu comportamento em bolsa, demasiado volátil, e o facto da
agência Moody´s ter baixado a notação em finais de Setembro, imediatamente após
o anúncio da separação das duas principais divisões de negócio, a energia e o
transporte.
Mas, nem tudo são más notícias para a Maersk. A linha foi
nomeada “Container Line Of The Year”, um prémio de prestígio dos leitores da
Lloyd's Load List, reconhecendo os melhores desempenhos na logística de carga
da empresa dinamarquesa durante o último ano, um período profundamente conturbado
no sector, como se sabe.
Fontes: Bloomberg,
Maersk, GCaptainLer artigo
Notícia sobre prémio
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