Há dias o insuspeito mídia “A Voz do Algarve” publicou um
apontamento muito lúcido a partir de uma entrevista ao CEO da Partex Oil and
Gas, sobre a exploração de gás natural no Algarve, projecto consorciado com a
Repsol, mas actualmente suspenso.
Afirmou Costa Silva, “Este recurso seria a primeira onda de
desenvolvimento de recursos marinhos do país”, para mais à frente acrescentar: “Asfixiar
este projecto é, no fundo, asfixiar a questão do mar em Portugal no futuro”.
Não querendo lançar achas na fogueira, com tanta contestação
por parte de algumas organizações ambientalistas (leia-se, extremistas), a
exploração de gás, o hidrocarboneto mais limpo e que importamos cada vez mais
para a produção da energia de que tantos (todos?) precisam, poderia ser uma
ajuda à irradicação do nosso eterno défice na balança de pagamentos externa.
Os argumentos usados pelos que estão contra são vários mas,
na minha opinião, facilmente rebatíveis. Se não, vejamos:
- “Os turistas que nos visitam no Algarve não querem estar na praia a ver plataformas e trabalhos de prospecção”. Pois, mas o projecto apresenta-se com a instalação de poços a cerca de 40 a 50 quilómetros da costa, em frente a Faro. Da costa ninguém irá ver, seja o que for.
- “A exploração (petrolífera) irá sujar as praias e deixar cheiros incómodos”. Mais uma vez se pretende confundir. A exploração não é de petróleo. Não irá aparecer crude nas areias das praias.
A maior parte das pessoas esquece-se que o Algarve é
visitado, no verão, por uma população flutuante de vários milhões de pessoas,
superior em 20 vezes à população algarvia. Estas pessoas provocam uma carga
muito elevada nas estruturas da região, nomeadamente, consumo de água e
energia, para além da sobrecarga nos efluentes (esgotos, ETAR’s, etc.). Então
isto não é poluição? E a energia que consomem fica mais limpa por ser importada?
Mas, dir-me-ão, e o que tem isto a ver com o Porto de Faro?
Eu, pessoalmente, tenho uma ligação, de afecto, estreita com esta
estrutura marítima. Foi no Porto de Faro que iniciei a minha carreira de Piloto
Marítimo, após vários anos no mar como Oficial da Marinha Mercante. Nesses
tempos (meados dos anos 1980) cheguei a ter semanas de 18 navios em porto,
entre petroleiros (abastecimento de combustíveis à cidade e de jet ao
aeroporto), cargueiros para sal-gema e sal marinho, alfarroba, clinquer e
cimento, madeira exótica (para a Carmo & Brás), conservas, peixe e marisco refrigerados e, até, passageiros, através do ferry Lusitânia Expresso.
Pois foi com tremendo desgosto que li, esta semana, que o
porto de Faro “está às moscas” e que as autoridades estão de braços em baixo, “sem
nada poderem fazer”.
A Srª. Ministra do Mar, que ainda esta semana (no Dia do Mar?)
voltou a visitar a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma
Continental (EMEPC), tendo anunciado a renovação da missão da extensão da
plataforma continental, não poderá também olhar para a plataforma, mas para a
que está, bem mais, "aqui ao pé de nós”?
O projecto de exploração de gás, de que falava atrás, seria
uma óptima oportunidade para o Porto de Faro se revitalizar, já que tem todas as
condições necessárias e suficientes para poder prestar um óptimo serviço a
estas actividades de offshore. Tem
espaço de aterro, é abrigado, tem uma óptima centralidade e acessibilidade
(aérea, marítima e terrestre), está imediatamente disponível e, digo eu, é
barato!
É por isso, que considero que os nossos governantes (mas não
só em S. Bento) devem olhar para as oportunidades que vão surgindo, não
embarcando em populismos esfarrapados. Esta é uma clara oportunidade de
multiplicar as ofertas de trabalho numa região tão vitimada pelo desemprego e
pelo emprego sazonal. É uma clara oportunidade do nosso País reduzir de forma
radical a dependência de energia externa e poder equilibrar, de vez, a balança
de pagamentos.
Deixo-vos com o artigo com o qual iniciei este pobre
escrito. Leiam-no e, sem pré-questões e preconceitos, tirem as vossas
conclusões.Artigo na "A Voz do Algarve"
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