O conflito em curso entre a Rússia e a Ucrânia tem o potencial de degenerar num conflito aberto e, se isso acontecer, fará com que as taxas de frete a granel caiam a pique.
Nos últimos anos, a Rússia e a Ucrânia tornaram-se grandes exportadores de commodities secas a granel, com a Rússia a exportar, principalmente, carvão, grãos, produtos siderúrgicos e fertilizantes, enquanto a Ucrânia exporta grãos, minério de ferro e produtos siderúrgicos. A tensão em curso entre os dois países pode-se transformar numa guerra em grande escala, com o potencial de dificultar as exportações dessas mercadorias (matéria-prima).
Além disso, mais de 700 navios graneleiros são carregados em portos russos e ucranianos todos os meses e, se a guerra interromper os embarques por um mês, esses navios podem ter de procurar cargas alternativas noutros lugares, aumentando a oferta efetiva em mais de 4%. Assim, o mercado de granéis sólidos enfrentará um golpe duplo – um declínio acentuado no comércio e um aumento na oferta que tem o potencial de reduzir as taxas para níveis históricos.
A maioria da Europa evitou a energia nuclear ao longo dos anos e mudou para a geração de energia a gás para a procura doméstica de energia. A Rússia fornece um terço das necessidades de gás da UE e uma parte substancial do gás vem através do gasoduto que passa pela Ucrânia. Em caso de guerra, o fornecimento de gás também será afetado, aumentando os preços do gás que pressionarão o carvão, pois a UE será forçada a mudar para a geração de energia a carvão. Além disso, a UE já disse que o oleoduto Nordstream 2 não obterá aprovação se a Rússia invadir a Ucrânia.
Enquanto isso, a Rússia forneceu 42% do total de importações de carvão da UE em 2021 e 16% das necessidades globais de carvão. Se a guerra iminente interromper as exportações de carvão da Rússia, a oferta global será insuficiente para contrabalançar a participação da Rússia. Consequentemente, os preços do carvão subirão, limitando a procura de muitos países asiáticos, afetando ainda mais o comércio de carvão e a procura por transporte.
A China aumentou, recentemente, as suas importações de carvão (coqueificável e não coqueificável) da Rússia em plena tensão comercial da primeira com a Austrália. Caso a Rússia não consiga fornecer carvão à China, esta pode ser forçada a comprar carvão australiano, aumentando ainda mais a proporção toneladas/milhas.
Além disso, a Ucrânia exporta cerca de 40% do seu grão (cereal) para o Médio Oriente e Norte da África. Esses países são fortemente dependentes do suprimento de milho e trigo do Mar Negro. Se a crise se agravar, os mercados Handysize, Supramax e Panamax serão, severamente, impactados.
Por fim, a Ucrânia exportou 36,5 milhões de toneladas de minério de ferro em 2021, das quais mais de 60% foram destinadas à China. Como o Brasil continua a lutar para conseguir operar na sua capacidade máxima, o défice criado pela Ucrânia terá que ser suprido com o aumento das exportações da Austrália. Mesmo que a Austrália aumente as suas exportações para atender à procura adicional, haverá um impacto substancial no comprimento médio de transporte. No entanto, acreditamos que a Austrália não conseguiria compensar a participação da Ucrânia, o que desaceleraria o comércio global de minério de ferro.
Portanto, uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia impedirá que os navios naveguem para os portos russos e ucranianos. Como resultado, a procura por navios de granéis sólidos será atingida, deixando muitos deles desocupados.
Fonte: Drewry
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