21 de fevereiro de 2017

Tribunal italiano investiga se os contrabandistas financiam barcos de resgate

O promotor-chefe de um tribunal siciliano disse na sexta-feira que um grupo de missão está a investigar se os traficantes de pessoas podem estar a financiar os barcos de salvamento administrados por grupos humanitários que operam ao largo da costa da Líbia.
Um grupo de missão do tribunal está a conduzir “"uma análise” – e não uma investigação criminal – relacionada com as preocupações de que alguns barcos possam estar a trabalhar com os contrabandistas, disse Carmelo Zuccaro, promotor-chefe de Catânia, à Reuters, em entrevista telefónica.
“No verão passado assistimos a algo que nunca tínhamos visto antes: às vezes havia 13 barcos operados por ONGs a trabalhar em simultâneo”, disse ele. Catânia, na costa oriental da Sicília, é o local mais perto dos portos para onde a maioria dos migrantes são trazidos depois de resgatados.
“Essas ONGs têm todas as mesmas motivações, mas quem as financia?” Questionou Zuccaro. Para depois concluir, “as preocupações do tribunal baseiam-se no facto de que são operações, manifestamente, bem financiadas e que, através dos depoimentos de migrantes, ficamos a saber que os contrabandistas forneceram as direcções onde os barcos de resgate estariam localizados antes de desembarcarem”.
Os grupos humanitários argumentam que os seus barcos podem ser localizados através do rastreamento de navios, em tempo real, a partir da Internet.
“Esta parece ser uma noção baseada na incompetência”, disse Stefano Argenziano, chefe de operações de busca e salvamento da Médicos Sem Fronteiras.
“O problema não é onde estão os navios de resgate, mas nas centenas de milhares de pessoas que se colocam nas mãos de traficantes e arriscam as suas vidas”.
Um número recorde de 181 mil imigrantes chegou à Itália no ano passado e a maioria deles foi resgatada no mar. Mais de 90% partiram da Líbia e cerca de 5.000 morreram no Mediterrâneo no ano passado.
Nem todos os resgates são realizados por grupos humanitários. A Guarda Costeira e a Marinha da Itália coordenam e participam em resgates marítimos, além de navios que trabalham com a Agência Frontex da União Europeia e de outros através da operação anti tráfico da União Europeia Sophia que, também, frequentemente, ajudam no resgate.
Quatro grupos que operaram navios de resgate privados no ano passado, contactados pela Reuters, disseram que foram financiados por doações, principalmente de cidadãos privados, com algumas contribuições de fundações, empresas ou através de parcerias comerciais e doações estatais.
Todos os quatro negaram qualquer ligação com os traficantes de seres humanos. “É rigorosamente absurdo”, disse Ruben Neugebauer, porta-voz do grupo humanitário alemão Sea-Watch. “Somos totalmente financiados através de doações”, disse ele, acrescentando que o valor médio doado foi inferior a 100 euros.
“Criamos o nosso grupo para responder à obrigação moral e legal de salvar vidas”, disse Sophie Beau, co-fundadora da SOS Mediterranee, que opera o navio de salvamento Aquarius, com recurso a doações com uma média de 170 euros.
Artigo original

Sem comentários:

Enviar um comentário