O promotor-chefe de um tribunal siciliano disse na
sexta-feira que um grupo de missão está a investigar se os traficantes de
pessoas podem estar a financiar os barcos de salvamento administrados por
grupos humanitários que operam ao largo da costa da Líbia.
Um grupo de missão do tribunal está a conduzir “"uma
análise” – e não uma investigação criminal – relacionada com as preocupações de
que alguns barcos possam estar a trabalhar com os contrabandistas, disse
Carmelo Zuccaro, promotor-chefe de Catânia, à Reuters, em entrevista telefónica.
“No verão passado assistimos a algo que nunca tínhamos visto
antes: às vezes havia 13 barcos operados por ONGs a trabalhar em simultâneo”,
disse ele. Catânia, na costa oriental da Sicília, é o local mais perto dos
portos para onde a maioria dos migrantes são trazidos depois de resgatados.
“Essas ONGs têm todas as mesmas motivações, mas quem as
financia?” Questionou Zuccaro. Para depois concluir, “as preocupações do
tribunal baseiam-se no facto de que são operações, manifestamente, bem
financiadas e que, através dos depoimentos de migrantes, ficamos a saber que os
contrabandistas forneceram as direcções onde os barcos de resgate estariam
localizados antes de desembarcarem”.
Os grupos humanitários argumentam que os seus barcos podem
ser localizados através do rastreamento de navios, em tempo real, a partir da
Internet.
“Esta parece ser uma noção baseada na incompetência”, disse
Stefano Argenziano, chefe de operações de busca e salvamento da Médicos Sem
Fronteiras.
“O problema não é onde estão os navios de resgate, mas nas centenas
de milhares de pessoas que se colocam nas mãos de traficantes e arriscam as
suas vidas”.
Um número recorde de 181 mil imigrantes chegou à Itália no
ano passado e a maioria deles foi resgatada no mar. Mais de 90% partiram da
Líbia e cerca de 5.000 morreram no Mediterrâneo no ano passado.
Nem todos os resgates são realizados por grupos
humanitários. A Guarda Costeira e a Marinha da Itália coordenam e participam em
resgates marítimos, além de navios que trabalham com a Agência Frontex da União
Europeia e de outros através da operação anti tráfico da União Europeia Sophia que,
também, frequentemente, ajudam no resgate.
Quatro grupos que operaram navios de resgate privados no ano
passado, contactados pela Reuters, disseram que foram financiados por doações,
principalmente de cidadãos privados, com algumas contribuições de fundações,
empresas ou através de parcerias comerciais e doações estatais.
Todos os quatro negaram qualquer ligação com os traficantes
de seres humanos. “É rigorosamente absurdo”, disse Ruben Neugebauer, porta-voz
do grupo humanitário alemão Sea-Watch. “Somos totalmente financiados através de
doações”, disse ele, acrescentando que o valor médio doado foi inferior a 100
euros.
“Criamos o nosso grupo para responder à obrigação
moral e legal de salvar vidas”, disse Sophie Beau, co-fundadora da SOS
Mediterranee, que opera o navio de salvamento Aquarius, com recurso a doações
com uma média de 170 euros.Artigo original
Sem comentários:
Enviar um comentário