4 de fevereiro de 2021

Oportunista, voraz e agressivo

Alerta no Tejo! O siluro, uma espécie invasora também conhecida como peixe-gato europeu, multiplicou-se de forma descontrolada e está a ameaçar seriamente peixes autóctones e com grande valor para os ecossistemas e para os profissionais da pesca, como enguias, sáveis e lampreias.


Figura 1: Siluro (Silurus glanis) – A biodiversidade pode ter os dias contados no rio Tejo e em albufeiras portuguesas, caso esta espécie continue a reproduzir-se de forma descontrolada.

Espécie originária da Europa Central, pode atingir os 2,5 metros de comprimento e mais de 100 quilos de peso. Foi detetado pela primeira vez na Península Ibérica no Rio Ebro, em Espanha, em 1974. Foi observado no curso português do Tejo, pela primeira vez, em 2014, estando documentada a sua presença no lado espanhol desde 1998. Os investigadores acreditam que a espécie tenha sido introduzida no Tejo espanhol por pescadores lúdicos alemães que os queriam pescar nas águas do rio ibérico.

Na zona de Santarém, em 2017, foi capturado o maior espécime conhecido no Tejo português. Tinha 58 quilos e quase dois metros.

O que são as espécies exóticas invasoras (EEI)?

São espécies exóticas aquelas que foram transportadas para fora do seu contexto ecológico, ou da sua distribuição natural, por ação humana. A maioria delas não sobrevive num ambiente estranho; no entanto, algumas conseguem adaptar-se ao novo meio e acabam por se estabelecer nesses ecossistemas, podendo causar sérios danos ecológicos e económicos.

A introdução acidental ou deliberada de plantas ou animais exóticos num novo ambiente, isto é, num meio onde não existiam originalmente, pode acarretar as seguintes consequências:

= Perda significativa de biodiversidade e até extinção de espécies indígenas;

= Transmissão de doenças aos seres humanos;

= Prejuízos económicos, tais como desaparecimento de espécies de valor comercial, danos em culturas e em infraestruturas, que podem custar milhares de milhões de euros.


Figura 2: Estamos a falar de uma praga, de um predador de topo”, afirmam os biólogos do Mare.

Este problema tem vindo a acentuar-se com o crescimento das trocas comerciais e das viagens internacionais, uma vez que há novas EEI a chegar à Europa, situação esta que pode agravar-se devido às alterações climáticas.

Investigadores do Mare – Centro de Ciência do Mar e Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que estudam as espécies não naturais nos rios portugueses, afirmam que as espécies nativas do Tejo estão a ser dizimadas, estimando que exista um siluro por metro de rio. Acrescentam “tendo em conta que o Tejo português tem cerca de 120 quilómetros com distâncias entre margens de centenas de metros nalguns locais, têm-se uma ideia do número de espécimes no rio. São dezenas de milhares e estão a devorar tudo”.

Já os pescadores lamentam: “Há uns anos apanhavam-se barbos e bogas aos milhões. Hoje não se apanha um. É um pesadelo.”


Figura 3: “E agora está também a dar cabo dos lagostins que, hoje, representam cerca de 70% da faturação de um pescador profissional.”

Este peixe de vida longa e prolífico – pode viver até 25 anos e depositar até 30.000 ovos em cada ciclo reprodutivo – é um desafio económico e ecológico em grande escala em mais de 16 países fora da sua área de distribuição natural.

Oportunistas, vorazes e agressivos, enquanto jovens devoram o plâncton da coluna de água, mas na fase adulta consomem peixes, anfíbios, mamíferos e até aves aquáticas.

Não deite o seu peixinho ao rio

O siluro terá chegado à Península Ibérica na sequência de uma introdução propositada desta espécie por pescadores alemães que a queriam pescar no Tejo.

Há ainda outra razão para a chegada de espécies exóticas: a aquariofilia. Por isso, se não quer ter mais um aquário em casa e se se fartou dos seus peixes, há uma regra muito importante: não os lance aos rios, pode estar a introduzir mais uma espécie exótica. Os investigadores detetaram a existência de 259 peixes não indígenas à venda em lojas especializadas em aquariofilia, só na zona de Lisboa.


Figura 4: Da água não tiram nenhuma espécie nativa, apenas siluro, que se transformou num pesadelo para os pescadores.

Atualmente, têm sido detetadas duas novas espécies por ano no rio Tejo. Nos ecossistemas da bacia hidrográfica do Tejo estão identificadas 57 espécies exóticas. As plantas, algas e peixes, com 16 espécies cada, são as mais numerosas.

Se por estes dias vir, junto ao Tejo, um peixe com uma boca enorme, com, pelo menos, mais de um metro e meio de comprimento e 50 ou mais quilos de peso a galgar a margem e engolir um pombo, ou um pato, saiba que acabou de ver um siluro a caçar.

 

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