14 de fevereiro de 2021

Mantêm-se os congestionamentos durante as férias do ano novo chinês

A acalmia que, normalmente, permite que as cadeias de abastecimento recomecem depois de um frenético período de remessa pré-Ano Novo Lunar não sucederá este ano, já que as fábricas chinesas tentam limpar a carteira de encomendas durante as férias e as transportadoras lutam contra o congestionamento e a persistente escassez de equipamentos.

O congestionamento que se acumulou nos principais portos chineses, à medida que os carregadores procuram embarcar a sua carga antes das férias, aumentaram os graves atrasos na outra ponta do comércio transpacífico, porque, agora, os navios estendem-se ao largo do complexo portuário de Los Angeles-Long Beach.

Judah Levine, líder de pesquisa no mercado de taxas de frete Freightos, disse que o volume sustentado e o congestionamento do porto em LA-Long Beach têm tempos de entrega de fábrica à porta do cliente que chegam a nove semanas, em comparação com um normal de quatro a cinco.

“Embora fevereiro, o mês pós-Ano Novo chinês, seja normalmente o mês mais calmo do ano, há informação de que muitos fabricantes na China permanecerão abertos durante os feriados para acompanhar a procura, o que sugere que a pressão possa persistir até fevereiro e até depois”, disse Levine na quinta-feira.

A empresa de tecnologia de transporte marítimo Ocean Insights também alertou esta semana, em relatório, que as cadeias de abastecimento sofreram vários meses de interrupção, já que o período do Ano Novo Chinês intensifica uma quebra na conectividade intermodal entre fábricas e portos.

“As companhias marítimas disseram que a acumulação de carga será aliviada após o Ano Novo Chinês, e que isso, provavelmente, ocorrerá à medida que os níveis de entregas das fábricas caírem, mas as cadeias de abastecimento podem levar vários meses para retornar à normalidade, já que os inventários, neste momento em alta, precisarão ser limpos”, disse Josh Brasil, diretor de operações da Ocean Insights.

As restrições de viagens internas impostas pelas autoridades chinesas, exigindo que os viajantes domésticos fiquem em quarentena por 14 dias após a viagem, foram destacadas no relatório como um novo “gargalo” para o transporte global e cadeias de abastecimento.

Apesar dos apelos de Pequim para que os cidadãos “celebrem no sítio” e mantenham as fábricas abertas para compensar o declínio sazonal na produção da fábrica durante as férias, a Ocean Insights disse que colocar esses produtos no mercado irá ser um desafio e tanto.

A maioria dos camionistas optou por ir para as suas terras de origem no ano novo, ficando sujeitos a quarentenas obrigatórias e impossibilitados de dirigir e, em algumas regiões, até 95 por cento deles estarão indisponíveis, sendo as regiões no sul as mais atingidas, esclarece o relatório. Isso irá obstruir a ligação porto/fábrica, no mínimo, cerca de duas semanas, com reservas de stocks a durarem meses.

Jon Monroe, consultor de transportadoras não operadoras de navios (NVOs), disse não se saber, claramente, quais as fábricas que se manteriam abertas durante as férias e concordou que a capacidade de transporte ficará sob pressão.

“A única certeza é que a capacidade de camionagem é limitada e as fábricas podem precisar pagar o dobro e, em alguns casos, o triplo do custo normal para atrair um camionista para carregar e entregar o seu contentor”, escreveu ele numa atualização de mercado esta semana. “Quanto mais ao sul a fábrica estiver localizada, mais provável será que ela se mantenha aberta.”

Monroe disse que a disponibilidade de motoristas caiu para 5 por cento em Yantian e entre 5 e 10 por cento em vários outros portos.

Angus Hind, diretor aéreo e marítimo do Europa Worldwide Group, disse que muitas fábricas permanecerão abertas durante o Ano Novo Chinês, acrescentando ter isso mais a ver com restrições ao movimento de pessoas do que para ajudar na produção. Mas que, no entanto, enviar qualquer coisa durante as férias seria difícil.

“A alfândega na China está fechada, pelo que nenhuma remessa pode ser movimentada durante os feriados, pelo que estamos a trabalhar para movimentar o máximo de carga possível até o prazo final”, disse Hind ao JOC.com. Os feriados oficiais para comemoração do Ano do Boi são de 11 a 17 de fevereiro. A alfândega chinesa nos portos estará de folga no fim de semana do feriado, mas uma equipa reduzida retornará na segunda-feira para o restante período feriado, apurou a JOC.com. As passagens de fronteira na China terão alfândega a funcionar durante todo o período feriado.

Alguns operadores de barcaças e navios feeders no sul da China planeiam retomar as operações mais cedo do que o normal, depois que os serviços foram suspensos em janeiro, para permitir que as tripulações fiquem em quarentena antes de viajar para casa no Ano Novo Chinês. A suspensão deveria durar até o final de fevereiro, mas uma retoma antecipada de alguns serviços permitirá que, pelo menos, os contentores que se amontoem no Delta do Rio das Pérolas sejam posicionados e prontos para libertação alfandegária após os feriados.

Os retalhistas dos EUA admitem que as importações no primeiro semestre de 2021 aumentarão 22,1% em relação ao mesmo período do ano passado e, mais importante, que mais mês menos mês, será estabelecido um novo recorde para os volumes de importação. As redes internas estão sobrecarregadas e a atrasar a recuperação de contentores vazios, provocando uma grave escassez destes equipamentos na Ásia, o que está a afetar todos os negócios.

Com os contentores a demorarem mais tempo a retornar à Ásia, mesmo que a produção continue durante os feriados, o fornecimento de equipamentos para encher com as exportações chinesas permanecerá um desafio.

John Fossey, analista sénior de equipamentos para contentores da Drewry, disse que a escassez de “caixas” se tornou uma restrição ainda maior na cadeia de abastecimento do que a capacidade dos navios.

“Acreditamos que esta será uma situação temporária, que se corrigirá gradualmente, deveremos ver algum tipo de normalidade voltar ao sistema no segundo trimestre”, disse ele num webinar da Drewry esta semana.

Jens Lund, CEO do transitário dinamarquês DSV, disse que a cadeia de abastecimentos estava atualmente tão "entupida" que era difícil movimentar a carga.

“As operadoras estão tão dessincronizadas que acham difícil honrar a maioria dos acordos”, disse Lund ao JOC.com durante uma entrevista. “Mesmo se comprarmos milhões de TEU, não podemos forçar as transportadoras a assumir esse volume.”

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