26 de março de 2019

Qual a falha dos motores do Viking Sky e Hagland Captain?


Os actuais navios são construídos para navegarem de forma segura nas condições mais extremas de tempo que, porventura, alguma vez encontrarão, isto para além do factor reserva de segurança que lhe é adicionado.
Existem políticas e práticas abrangentes, exigidas pelos regulamentos de bandeira, pelas sociedades classificadoras e pelas convenções internacionais, que controlam e monitorizam as actividades de manutenção a bordo de cada navio. Em especial, as linhas de cruzeiros têm muito mais em jogo, porque qualquer acidente com um navio de cruzeiro pode resultar em manchetes muito desfavoráveis à marca e qualquer mancha pode ser o golpe mortal para toda a empresa.
A bordo do navio há sempre uma forma de contornar uma falha de maquinaria, estando a unidade apetrechada com a redundância de equipamentos considerada essencial. No entanto, e num plano hipotético e ocasional, um equipamento crítico poderá falhar e o seu backup poderá falhar igualmente, por problema mecânico ou por negligência.
Quando o Viking Sky encontrou dificuldades e os seus motores pararam em plena tempestade na costa norueguesa, na semana passada, também um navio de carga que navegava para lhe prestar assistência em condições de ondulação idênticas – o "Hagland Captain" – também sofreu paragem de motor, aumentando a possibilidade da causa do desligamento dos motores dos dois navios serem factores comuns experimentados por ambos.
  • Poderá ter sucedido a entrada de excesso de água do mar através das admissões de ar do motor de ambos os navios, causando a paragem dos motores de ambos?
  • Ou a causa poderá estar relacionada com os líquidos que alimentam os motores?
Para se perceber o que na realidade sucedeu terá de se averiguar sobre o desenho de projecto, instalação e localização dos tanques de combustível.
Quando em presença de tanques de combustível horizontais completamente cheios, se a entrada da bomba de combustível estiver no local mais baixo possível do tanque, o combustível será transferido deste para o motor, independentemente da inclinação e do rolar do navio. Já quando o tanque de combustível está com menos de 50% da sua capacidade, sucede que com ondulação severa faz o combustível fluir para frente e para trás com uma frequência tal que, talvez por alguns segundos, apenas ar seja aspirado pela admissão.
Tempestades oceânicas severas aumentam a flexão e a torção estrutural do navio.
  • Será que em condições extremas no mar, a flexão estrutural do casco poderia ter causado a ruptura de qualquer linha de combustível, ou fuga na linha de combustível, ou causado fugas do tanque de combustível ou, ainda, fazer com que um tanque de combustível se soltasse do seu lugar?
  • Se as bombas de combustível são accionadas por energia eléctrica, a flexão estrutural induzida pela tempestade poderia ter interrompido a alimentação de energia eléctrica às bombas de combustível?
Uma avaliação a ambos os navios poderá fornecer algumas dicas sobre se a tempestade lhes induziu movimentos violentos ou flexão estrutural que tenha contribuído, objectivamente, para o desligamento dos motores de ambos. Em caso de identificação positiva de alguma destas causas, a instalação de tanques verticais menores adicionais para combustível poderá ser considerada?
Os motores marítimos são arrefecidos, por norma, pela água do mar.
  • Existiram condições raras e extraordinárias de navegação em mar tempestuoso, que possam ter levado os navios a rolar de forma a fazer entrar ar, em vez da água do mar, no sistema de arrefecimento do motor?
As bombas de água para o sistema de arrefecimento do motor são projectadas para bombear água, e não ar, pelo que se entrou ar no sistema de refrigeração e o resultado desse acontecimento foi a falha dos motores, poderá ser considerada a instalação de tanques verticais adicionais para água do mar?
Líquidos da máquina
  • Poderiam determinadas frequências de pitching (caturro) do navio causar ressonância, como p. ex. o movimento de avanço e recuo do óleo lubrificante do motor dentro do cárter ou tanque de óleo e, em caso afirmativo, qual seria o resultado?
  • De igual forma, sob os mesmos efeitos de ressonância o movimento do óleo no motor, no cárter ou no tanque de óleo ou, até, a admissão da bomba de óleo do motor poderá ter sido, momentaneamente, exposta ao ar e, nesse caso, poderá ter resultado na falha fatal?
Se as causas acima citadas tiveram efeito na paragem dos propulsores, poder-se-á estudar a possibilidade técnica de instalar deflectores dentro dos cárteres do motor, dentro dos tanques de óleo e dentro dos tanques de combustível para alterar a frequência de ressonância, tendo efeito sobre o movimento dos líquidos que alimentam os motores. Ou ainda, a possível instalação de tanques verticais menores adicionais para combustível e óleo, em resposta aos movimentos cíclicos causados pela interacção entre a ondulação e os cascos dos navios.
Capacidade para manter sempre a propulsão no mar
O facto de que o Viking Sky ter sido capaz de repor as condições mínimas de propulsão e de se dirigir para porto após passar pela situação catastrófica que desligou os seus motores durante a tempestade, oferece a oportunidade para identificar a causa ou as causas da avaria e implementar as modificações necessárias, que possam, no futuro, garantir que os navios – e em especial os de cruzeiro – possam manter a propulsão sob condições extremas de tempo no mar.
Claramente, a indústria de navios de cruzeiro precisa avaliar métodos alternativos que possam garantir, ininterruptamente, a operação dos motores dos seus navios durante condições extremas de navegação.
Decorrem as investigações ao apagão no Viking Sky
Inspectores da Autoridade Marítima da Noruega (NMA) estão a realizar investigações a bordo do Viking Sky, atracado em Molde, para perceber a razão da perda de potência do motor em condições de mares tempestuosos no sábado, e que originou uma evacuação aérea parcial do navio por helicóptero.
As primeiras inspecções foram realizadas segunda-feira por dois funcionários do escritório de pesquisa da NMA de Kristiansund, acompanhados por um representante da secção de navios de passageiros da autoridade de Haugesund.
Inspecções adicionais serão realizadas hoje pela sociedade classificadora Lloyd's Register, em cooperação com a polícia e com o departamento marítimo da Norwegian Investigation Board.
A polícia e o Conselho Norueguês de Investigação de Acidentes, entre outras autoridades, lançaram uma investigação sobre o porquê de o Viking Sky ter sido levado a águas notoriamente perigosas durante o mau tempo. A empresa norueguesa de navios de cruzeiro foi acusada de “imprudência” ao colocar os passageiros em risco, ao partirem apesar dos avisos de tempestade, forçando uma evacuação parcial por helicóptero. O navio transportava 915 passageiros e 458 tripulantes. Vinte pessoas ficaram feridas e foram tratadas no hospital.
EUA e Reino Unido participam das investigações
Os Estados Unidos e o Reino Unido consideram que são estados substancialmente interessados e participarão com as suas respectivas agências de investigação de acidentes marítimos. O NTSB dos Estados Unidos e o MAIB britânico entraram na investigação devido ao número de cidadãos dos EUA e do Reino Unido a bordo.
Acções da tripulação foram a chave para 'um final feliz'
"É muito cedo para tirar conclusões sobre o que pode ter causado a perda de propulsão ao largo da costa de Hustadvika na tarde de sábado", disse a NMA em comunicado.
"No entanto, é um facto que houve um blackout e, ainda, não conseguimos determinar a causa desse desligamento. Até agora, no entanto, foi estabelecido que, quando o incidente ocorreu, a competência e os esforços da tripulação desempenharam um papel importante no desfecho feliz ”, continuou o comunicado.
Entradas do casco, de fundo e de água inspeccionadas
O casco do navio também foi examinado por um mergulhador para verificar se havia algum dano abaixo da linha de água, sendo que nada foi descoberto. Durante o mergulho, as entradas de a água de arrefecimento também foram inspeccionadas, para garantir o seu não entupimento. As entradas foram verificadas pelo mergulhador como abertas e aparentemente em ordem.
Paralelamente, a NMA está a proceder a uma revisão geral completa dos danos sofridos pelo navio e que precisarão ser reparados antes de reentrar em serviço. A autoridade disse que a cooperação com a tripulação do Viking Sky tem sido "excepcional".
A Viking Cruises lançou a sua própria investigação interna e a empresa prometeu total apoio às investigações externas.
Fontes: GCaptain, Independent, Maritime Connector, Maritime Executive, Seatrade-Cruise

6 comentários:

  1. Tudo o que aqui foi dito como causa provavel da paragem dos motores é uma opiniao que nao comento pois teria que ser desagradavel. Nao sou bruxo mas posso tentar adivinhar e ao mesmo tempo fazer algumas perguntas. Porque pararam os motores de propulsao mas nao pararam os grupos electrogeneos? Como é possivel que se equacione a entrada de ar no circuito de agua de refrigeraçao? (andamos a brincar???) Como é possivel equacionar a entrada de ar no circuito de combustivel apenas devido ao rolo? Sera que o navio deu uma cambalhota e ninguem deu por isso? Eu ja passei por temporais desfeitos em que o mar era branco e nao azul ou verde, em navios de 150 m, que sofrem muito mais que aquele predio de apartamentos maritimo, e nunca entrou ar nenhum nem no tanque diario de fuel, ou no sistema de refrigeraçao nem agua pelos respiros. Estamos a brincar ou que??? - So tem duas causas possiveis: - ou a sofisticaçao do sistema de injecçao é maricas e esqueceram-se de colocar uma alternativa manual ou houve caldeirada no tanque(s) diarios de fuel, como a ruptura de uma serpentina de aquecimento e ou agua proveniente de condensados nao purgada, ou pior os tanques diarios de fuel nao terem sido inspeccionados aquando da construçao e existir porcaria la dentro que estava quietinha e com o rolo se misturou fazendo a tal caldeirada que falei. Ou as depuradoras de combustivel andavam a trabalhar mal mas toda a gente se calou. Sera que acertei? - Se a verdade se vier a saber malgrado a explicaçao oficial para as seguradoras omitir negligencia, logo verei se acertei ou nao.

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  2. Sem ter nenhuns dados apenas os que vi na imprensa, concordo com o comentário anterior. O artigo de facto contém causas para o sucedido que são feitos por quem com certeza não conhece navios nem instalações propulsoras. Podem existir multiplas razões para a perda da propulsão. Os motores propulsores são a diesel ou electricos? Nestes navios mais modernos existem grupos geradores que alimentam os motores propulsores electricos. Nos mais antigos o motor propulsor acciona directamente o helice, através de caixas redutoras para motores rápidos e semi rápidos e directos para motores lentos. Só depois de inspeção feita para se determinarem as causas se podem ter certezas. Nos meus 40 anos de mar já passei por tanta merda que já de quase tudo.

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  3. O comentário acima acha estranho entrada de ar no sistema de arrefecimento de água do mar. Não é assim tão estranho, aconteceu-me diversas vezes em diversos navios durante o rolling e o pitching dos mesmos. Se os sitemas de deserificaçaõ das caixas de fundo estiverem mal desenhados os entupidos, ou as valvulas de deserificação fechadas por erro da tripulação pode perfeitamente acontecer.

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  4. O NMA assume que houve um blackout, logo com esta situação todos os auxiliares eléctricos ficaram fora de serviço, ( bombas de combustivel, bombas agua do mar etc.). Existir ar nas tomadas de fundo de água do mar (mesmo nas inferiores) em condições de mau tempo é normal, há que ter o cuidado de verificar o sistema de desaerificação, água no combustivel é outra hipótese. Seria bom que o resultado final da investigação fosse divulgado com seriedade, esta situação é um "case study", especialmente para a nova geração.

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  5. Aqui está o relatório preliminar que, afinal, vá-se lá saber porquê, até tem uma resposta bem dentro do que me limitei a fazer eco, a partir de organizações internacionais reconhecidas. Apenas juntei, num só texto, o que reputados engenheiros de construção naval disseram.
    “O nível de óleo lubrificante nos tanques embora estivesse dentro dos limites estabelecidos, era relativamente baixo, pelo que quando o navio começou a cruzar as águas agitadas em Hustadvika, provavelmente, causaram movimentos nos tanques tão violentos que o fornecimento para as bombas de óleo lubrificante parou. Isso desencadeou um alarme com indicação de baixo nível de óleo de lubrificação, que por sua vez causou um desligamento automático dos motores ", disse a Autoridade Marítima da Noruega.
    Ler em: https://gcaptain.com/norway-low-oil-pressure-caused-viking-sky-engine-blackout/

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  6. Se no caso do navio de transporte de passageiros, entre as causas prováveis se encontra aquela que de forma oficial foi apresentada para o sucedido. Também para a explicação oficial do que ocorreu com o navio de transporte de contentores este está correto, uma vez que esta justifica o ocorrido com o contacto de água no barramento principal devido ao estado do mar.
    Seria possível afirmar que "bruxo" é o autor do artigo.

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