O Instituto Dinamarquês de Tecnologia de Incêndio e Segurança (DBI) realizou, recentemente, testes exaustivos na deteção e extinção de incêndios em baterias de carros elétricos em plataformas de veículos em ferries. Fizeram os testes com recurso a uma estrutura composta por contentores de 40 pés.
O “efeito ketchup” atingiu o mercado de automóveis. Carros elétricos e híbridos plug-ins estão a inundar as estradas europeias. No final de abril, havia 166.000 carros carregáveis, só na Dinamarca, e a tendência indica que esse número aumenta de forma constante. De acordo com estudos da Dinamarca e da Noruega, há menos risco de incêndio em carros elétricos e híbridos do que em carros convencionais. O único problema é que, quando ele acontece, as consequências podem ser mais vastas, porque um incêndio em bateria de lítio é difícil de extinguir e pode reacender muito tempo depois de ter sido extinto.
Pode ser problemático se um carro elétrico pegar fogo em uma rua aberta. Pode ser ainda mais problemático se pegar fogo num estacionamento de vários andares cercado por outros carros. E pode ser muito mais problemático se pegar fogo no convés de veículos de um ferry durante uma travessia, quando está cercado por outros carros, com passageiros a bordo e quando é responsabilidade da tripulação combater um incêndio complicado num ferry que pode estar a muitas milhas náuticas de terra.
O incêndio alastra em dois minutos
Esta foi a razão que levou ao lançamento, por parte da DBI, no ano passado, do projeto intitulado Electric Vehicle Fires at Sea: New Technologies and Methods For Suppression, Containment, and Extingushing of Battery Car Fires On Board Ships (ELBAS), que é apoiado pelo Fundo Marítimo Dinamarquês e adquiriu agora a primeira experiência prática de como melhor detetar e extinguir incêndios em carros elétricos no convés de veículos. Decorreu esta primavera no RESC (Centro de Resgate e Segurança) em Korsør, onde a DBI ateou e extinguiu incêndios em baterias de carros elétricos – rodeados por carros convencionais – que estavam estacionados numa estrutura composta por contentores, que pretendiam representar o convés de veículos num ferry.
“Experimentamos grandes variações no desenvolvimento do fogo, embora tivéssemos a mesma configuração para cada teste. No nosso quarto teste, por exemplo, o fogo já se alastrara para os outros carros depois de dois minutos. “Mas, tal como na vida real, não há dois incêndios iguais”, diz Alexander Kleiman, Gestor de Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento Marítimo da DBI Advanced Fire Engineering (Marítimo e Energia).
Resultados apresentados no workshop
Ele foi cauteloso ao concluir quais as tecnologias e técnicas que melhor detetam e extinguem incêndios em carros elétricos nos convéses de veículos. Isso será apresentado no relatório final ao Fundo Marítimo Dinamarquês e num workshop no outono, depois que o DBI tenha analisado todos os dados recolhidos. Mas Alexander Kleiman destaca algumas soluções que parecem ser eficazes:
“Aspergir com névoa de água provou ser altamente eficaz. Não para extinguir o fogo, mas para limitar a propagação do fogo, para que a tripulação possa chegar lá e apagar o fogo usando métodos tradicionais de extinção”, diz ele, continuando:
“A névoa de água, provavelmente, estará incluída em uma de nossas recomendações: uma resposta rápida, combinando uma instalação fixa e o tradicional combate a incêndios da tripulação a bordo, para que o fogo não se propague e os passageiros fiquem protegidos enquanto o navio se dirige para o porto mais próximo, onde os serviços de emergência podem assumir o combate. Todos os incêndios dos nossos testes foram extintos, mas isso exigiu bombeiros profissionais. Sabe-se que um incêndio numa bateria de carro elétrico pode reacender, portanto, extingui-lo, definitivamente, poderá ser algo exagerado esperar da tripulação de um navio que apenas participou de alguns cursos obrigatórios de segurança contra incêndio marítimo”, disse ele.
Pode ser possível combinar as medidas acima mencionadas com uma lona corta-fogo que envolve o veículo como uma grande manta corta-fogo.
“A manta não apagou o fogo no teste, mas conteve-o. Mas requer espaço para a encaixar, corretamente, no carro elétrico em chamas, pelo que essa solução depende de quão perto os carros estão estacionados no convés de veículos”, disse Alexander Kleiman, acrescentando que, também, é concebível que os carros à volta do carro elétrico em chamas sejam cobertos por lonas corta-fogo, para evitar a propagação do fogo.
Mal-entendidos e mitos
Além de testar tecnologias e técnicas específicas, o grande número de testes também pretendia confirmar, ou refutar, alguns dos equívocos e mitos associados aos incêndios em carros elétricos em ferries. Por exemplo, que é mais perigoso extinguir um incêndio num carro elétrico a bordo de um navio ferry do que em terra, porque os membros da tripulação estão sobre piso metálico e usam água salgada do mar para extinguir o incêndio.
“Também fizemos isso nos nossos testes, e não há nada que indique que isso torne o trabalho da tripulação mais perigoso”, diz Alexander Kleiman, que também desfaz outro mito:
“A bateria está localizada na base de um carro elétrico, e é por isso que há preocupações de que um incêndio possa até derreter o piso de alumínio dos ferries. Não poderemos afirmar se é esse o caso se o carro elétrico ficar a arder no mesmo lugar por 7 a 8 horas, mas os nossos testes indicam que o efeito do calor da base do carro não é tão severo que danifique a zona do convés de veículos. Quando retiramos os carros elétricos após apagar o incêndio, quase não havia vestígios visíveis nas placas que representavam o piso do convés de veículos”, disse Alexander Kleiman, que, pelo mesmo motivo, questiona a necessidade de um sprinkler por baixo do veículo para arrefecer a bateria, o que também foi testado.
Incêndios parecem ser controláveis
O grande volume de dados dos vários testes será agora analisado, e também será usado para validar as simulações computacionais CFD que a DBI desenvolveu para simular a propagação do fogo a bordo dos ferries. Alexander Kleiman oferece um resumo otimista dos extensos testes.
“Em primeiro lugar, a bateria de um carro elétrico novo é, significativamente, mais à prova de fogo do que a de um carro antigo. Quando colocamos em curto-circuito as células da bateria num Renault Fluence, toda a bateria pegou fogo. Quando o fizemos num Tesla modelo 3 mais recente, apenas a célula da bateria afetada pegou fogo. Em segundo lugar, a mensagem positiva é que incêndios em carros elétricos a bordo de ferries são controláveis e não algo que devemos temer. Todos os incêndios nos nossos testes puderam ser extintos, portanto, com as tecnologias corretas de combate a incêndio a bordo, o treino correto da tripulação e a colaboração bem coordenada com os serviços de emergência de terra, os carros elétricos não devem representar um problema de segurança no tráfego de ferries”, de acordo com Alexander Kleiman.
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