Todos os anos, a 10 de fevereiro, em Inglaterra, é comemorado o dia de aniversário de Samuel Plimsoll, um político e reformador social inglês. Perguntarão alguns de vós, da razão de comemorar ou, até, quem será a pessoa. Dar-vos-ei uma pista. Aqui vai:
No âmbito náutico/marítimo, a linha de água ou linha de flutuação é a linha que separa a parte imersa do casco de um navio (obras vivas) da sua parte emersa (obras mortas). A linha de água é definida pela interceção do plano de superfície da água calma com a superfície exterior do casco.
A linha de água vai variando nas várias condições do navio e que corresponde ao nível (peso) de carga que se encontra a bordo. Todos sabemos que não é permitido carregar os navios acima de limites estabelecidos. Uma linha de carga, também chamada de marca Plimsoll, é uma marca que indica até que ponto o peso de uma carga pode submergir com segurança um navio.
Mas, desde quando se usam marcas de carga nos navios? Existem documentos que atestam que, já no século XII, os navios de Veneza eram protegidos desta forma, pela marcação de uma cruz, o símbolo tradicional da salvação. Foi, contudo, no século XIX que o uso das marcas de carga se generalizou.
Apenas no ano de 1871, 856 navios mercantes britânicos foram perdidos perto da costa britânica em condições de tempo que não seriam piores do que uma brisa fresca. Entre 1870 e 1872, 1628 marinheiros foram condenados a prisão na Grã-Bretanha por se recusarem a ir para o mar em navios que os marinheiros chamavam de "navios-caixão". À época, existem relatos que nove em cada doze presos nas prisões do sudoeste da Inglaterra eram marinheiros, presos por 12 semanas, por se recusarem a embarcar em navios que consideravam impróprios.
Em 1870, Samuel Plimsoll, parlamentar e comerciante de carvão, começou a investigar a segurança dos navios e deparou-se com um problema pior do que esperava. Fez campanha no parlamento e, em 1872, foi criada uma Comissão Real de Navios Indignos de Navegação para examinar as evidências e recomendar alterações.
Em 1873, entre 20 e 30 mil pessoas alinharam-se nas ruas de Bristol para ver a carruagem de Plimsoll liderar um desfile de 1.800 pessoas, composta por estandartes e que integrava construtores navais, caldeireiros e marinheiros. Um carro alegórico no desfile exibia um modelo de navio-caixão naufragado com as palavras "bombar ou afundar" escritas a giz no seu casco.
A Merchant Shipping Act de 1876 tornou as linhas de carga obrigatórias, mas foi só em 1894 que a posição da linha foi fixada por lei. Em 1906, os navios estrangeiros ficaram obrigados, de igual forma, a ostentar uma linha de carga se visitassem portos britânicos. Desde então, a linha é conhecida, internacionalmente, como Plimsoll Line. A primeira Convenção Internacional das Linhas de Carga foi adotada em 1930.
Em Portugal, o Decreto-Lei N.º 49209/69 integra, no direito interno, a Convenção Internacional das Linhas de Carga, concluída em Londres em 5 de Abril de 1966. O Protocolo de emendas à Convenção de 1988 foi integrado pelo Decreto n.º 49/99, de 21 de outubro.
As marcas da linha de carga (mais conhecidas) são as seguintes:
TF Água Doce Tropical – o calado máximo permitido, considerando as condições climáticas relativamente amenas em águas tropicais e o facto de o navio afundar mais em água doce devido à menor densidade.
F Água Doce – o calado máximo permitido em água doce (zonas temperadas) considerando que o navio afunda mais em água doce devido à menor densidade.
T Tropical – o calado máximo permitido em águas tropicais considerando as condições climáticas amenas nas regiões tropicais.
S Verão – o calado máximo permitido durante o verão considerando as condições climáticas mais amenas durante esta época.
W Inverno – o calado máximo permitido durante o inverno, considerando as condições climáticas mais difíceis nesta época do ano.
WNA Inverno Atlântico Norte – o calado máximo permitido, considerando as condições climáticas difíceis que, provavelmente, serão encontradas durante o inverno no Atlântico Norte.
As marcas são precedidas da letra L (do inglês lumber) quando a carga é madeira; para todas as outras cargas não há prefixos. Nos navios de passageiros há um conjunto adicional de marcas, derivado do facto de, apesar das suas dimensões, a sua área útil de carga ser menor, pois a maioria desse espaço é ocupado por camarotes, salas comuns, restaurantes, etc. A localização exata das marcas da linha de carga é calculada e/ou verificada por uma sociedade de classificação, que emite, então, um certificado de linhas de carga.
As linhas de carga vieram revolucionar a segurança da navegação comercial, garantindo que um navio tem bordo livre suficiente (altura da linha de água para o convés principal) e, portanto, flutuação de reserva suficiente.
Antes da sua implementação, trabalhar num navio comercial era uma atividade extraordinariamente perigosa, já que muitas empresas de navegação negligenciavam os padrões de segurança.
O Dia de Plimsoll (10 de fevereiro) é dedicado ao homem que tornou a navegação comercial mais segura.
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