A necessidade de uma linguagem comum a bordo é considerada essencial para a operação segura de um navio, numa época em que a própria natureza da navegação marítima significa que os navios são tripulados por profissionais de diferentes partes do mundo.
Muitos estudos tentaram investigar o impacto da cultura nacional nas falhas humanas no mar, revelando que a falta de uma linguagem comum poderia tornar o navio um ambiente de trabalho de alto risco. Tripulações de várias nacionalidades têm línguas maternas diferentes, até mesmo linguagem corporal e gestos, enquanto culturas diferentes podem interpretar as coisas de forma diferente.
Enquanto isso, a comunicação é um conceito complexo por si só, envolvendo gatilhos emocionais e percepção audiovisual, e as barreiras para sua eficácia variam, tanto por fatores físicos como fisiológicos.
Como tal, mesmo pessoas que falam a mesma língua, às vezes, se entendem mal. No entanto, as consequências de mal-entendidos podem ser fatais a bordo das embarcações, especialmente em caso de emergência, quando o tempo é limitado e as pessoas, normalmente, tendem a voltar para a sua língua materna.
Para lidar com as diferenças de idioma, em 1983, linguistas e especialistas em navegação criaram o Seaspeak, um sistema de comunicação que estabelece as regras sobre como falar no rádio de um navio. O número de palavras que podem ser ditas é limitado, e o inglês foi escolhido como o léxico principal. Em 1988, a IMO fez do Seaspeak a língua oficial dos mares.
Infelizmente, ainda houve exemplos de incidentes em que melhores habilidades linguísticas poderiam ter evitado acidentes e, em alguns casos, poderiam ter salvado vidas:
– Em navios de passageiros, a capacidade de se comunicar com os passageiros em situação de emergência é fundamental para uma evacuação rápida: a falta de uma linguagem comumente entendida entre a tripulação foi destacada depois que 161 pessoas perderam a vida num incêndio no ferry “Scandinavian Star”, no Skagerrak, em 1990.
– Durante as manobras, as diferenças de idioma em VHF podem ser problemáticas: após a colisão do graneleiro Huayang Endeavor com o navio-tanque Seafrontier, os investigadores disseram que a linguagem na conversação em VHF entre os dois navios não era precisa ou simples e, se os vigias tivessem adotado a SMCP (IMO Standard Marine Communication Phrases) segundo o STCW, os riscos de confusão teriam desaparecido.
– A colaboração comandante/piloto depende do entendimento compartilhado: o navio porta-contentores Cosco Busan colidiu com a ponte da baía de São Francisco em novembro de 2007, causando poluição significativa e uma das principais causas foi a falta de comunicação efetiva entre o piloto americano e o capitão chinês. Além disso, a maioria da tripulação tinha conhecimento limitado de inglês e não conseguia entender o SMS (Safety Management System) de forma adequada.
A seleção pelos armadores de uma certa mescla de marítimos a bordo com origens culturais compatíveis pode ser útil, mas não resolve. Por sua vez, os marítimos podem dedicar tempo aos seus companheiros para desenvolver um entendimento mútuo, o que também pode resolver parcialmente a questão.
De qualquer forma, e embora não haja uma receita para lidar com as barreiras do idioma, o feedback aberto sempre pode servir como regra de ouro de qualquer comunicação; se não entender, pergunte; se acha que os outros não o entenderam, peça feedback, repita, explique.
Sabiam que?
– Hoje, 80% das tripulações de navios não falam inglês como primeira língua.
– Os défices de comunicação são responsáveis por até 35% dos acidentes de navios.
– A comunicação constitui um dos doze fatores de risco identificados pela Guarda Costeira do Reino Unido.
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