Uma campanha política, liderada pelos países árabes para
isolar o Qatar, está a interromper o comércio, desde as matérias-primas de
petróleo bruto, aos minérios, passando pelos alimentos, provocando cada vez maiores
receios de um possível choque no mercado mundial de gás natural, do qual o
pequeno estado do Golfo é um dos principais players.
Apenas um dia depois da Arábia Saudita e os seus aliados
árabes terem cortado as ligações de transporte com o Qatar, as proibições de acesso
da frota qatari aos portos e ancoradouros regionais ameaçam suspender ou
interromper algumas das suas exportações de gás natural liquefeito (GNL).
Os traders estão preocupados
com o facto dos aliados de Riade venham recusar aceitar os embarques de GNL do
estado do Golfo e que o Egipto possa, até, impedir que os petroleiros que
carreguem cargas do Qatar possam atravessar o Canal de Suez, enquanto se dirijam
para a Europa – embora o Cairo esteja vinculado por acordo internacional a permitir
o acesso à via navegável.
O próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, veio juntar-se
à disputa hoje, dizendo que os líderes que ele conheceu numa viagem ao Oriente
Médio o advertiram de que Doha financiava "ideologia radical" depois
de ter exigido que eles agissem para parar de financiar grupos militantes. O
Qatar, no entanto, proclama, veementemente, a sua inocência.
A agência S & P Global Platts observou que os superpetroleiros
costumam combinar os embarques do Qatar com o petróleo bruto do Kuwait, da
Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e de Omã, antes de partirem do
Golfo. “As restrições aos navios que carregam crude do Qatar e a incerteza
associada podem afectar o valor inerente do carregamento", afirmaram. Para
já, os mercados de petróleo parecem não reagir ao risco geopolítico: os
preços do petróleo subiram um pouco (1,6%), para voltarem logo a cair. No
entanto, o comportamento a seguir é o do mercado GNL.
Se a disputa continuar a escalar, a retaliação mais séria por
parte do Qatar seria cortar as exportações de gás natural para os Emirados
Árabes Unidos através do gasoduto Dolphin. Este projecto, consorciado pela Total
(24,5%), Occidental (24,5%) e a empresa de investimento estratégico de Abu
Dhabi, Mubadala (51%), bombeia mais de 2.000 milhões de pés cúbicos por dia
para os EAU, mais de um quarto do consumo do país, além de produzir cerca de
160 mil barris por dia de condensado e NGLs. Cerca de 200 milhões de pés
cúbicos por dia transitam dos Emirados Árabes Unidos para Omã, que – ainda – não
faz parte do embargo. Com as temperaturas do Golfo a ultrapassar os 40 graus
Celsius, o consumo de energia para o ar condicionado está atingir o seu pico. Se
esta disputa não for resolvida rapidamente, pode significar “um verão quente”
no Golfo.
Mais preocupante para já, são as importações de alimentos, pois
a Arábia Saudita fechou a sua fronteira terrestre com o Qatar, parando milhares
de camiões que transportam abastecimentos. Fontes disseram que os Emirados
Árabes Unidos e a Arábia Saudita já cortaram as exportações de açúcar branco
para o Qatar, onde o consumo é, tradicionalmente, maior durante o mês sagrado do
Ramadão, que está a decorrer.
O Qatar, que depende em grande parte das importações de
alimentos para sua população de 2,5 milhões, assegurou aos residentes que tomou
medidas para assegurar que a vida normal não venha a ser afectada. No entanto,
a população começou já a corrida às lojas e a armazenar alimentos.
Entretanto, a Maersk, a maior linha de transporte de contentores
do mundo, informou não poder mais transportar mercadorias de, e para, o Qatar
depois que alguns países árabes impuseram restrições ao comércio com o pequeno
estado do Golfo, informou a empresa esta terça-feira.
As linhas de transporte fazem, normalmente, o
transbordo de cargas com destino ao Qatar, no porto de Jebel Ali (Emirados
Árabes Unidos), devido às reduzidas dimensões dos portos qataris e da sua pouca
profundidade, o que impede a entrada e serviço aos navios utilizados no tráfego.
Por via deste facto, as linhas de transporte recorrem a serviços feeder, que transportam os contentores de
Jebel Ali para os portos do Qatar.
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