O mercado de seguros marítimos está expectante sobre os
custos provocados pela perda do petroleiro iraniano Sanchi e com a morte dos
seus 32 tripulantes.
O maior problema para os subscritores e as empresas de
resgate no momento é a actual disputa territorial internacional sobre as águas nas
quais os restos do navio se encontram.
Como a China e o Japão continuam a disputar a territorialidade
sobre a área, as seguradoras não tem certeza sobre o escopo e a escala das
operações que devem ser realizadas.
Um corretor marítimo disse à Fairplay: "Sanchi será uma
perda significativa para o mercado marítimo. O problema no momento é que, com
uma quantidade significativa de petróleo derramado no mar, a forma como esse
derrame precisa ser tratado ainda está em suspenso.
"A China e o Japão têm abordagens diferentes na
abordagem à poluição por petróleo, pelo que, quanto mais rápido houver um
acordo sobre qual o Estado assumirá essa responsabilidade, mais rápido o
mercado poderá resolver as coisas”.Fonte 1
O facto de o petroleiro ser de propriedade iraniana também está
a lançar dúvidas sobre a capacidade do mercado pagar os créditos decorrentes da
perda. Enquanto as seguradoras britânicas e europeias já podem oferecer seguro sobre
riscos iranianos, os subscritores com interesses ou a propriedade nos EUA ainda
estão proibidos de pagar quaisquer reclamações.
A relutância dos bancos internacionais em lidarem com o Irão
pode vir a complicar os pagamentos de compensação resultantes da colisão na
semana passada de um petroleiro iraniano e um navio de carga chinês, dizem
fontes. O petroleiro transportava 136 mil toneladas de óleo de condensado
altamente inflamável.
Embora a responsabilidade do acidente – abalroamento entre o
petroleiro iraniano e o graneleiro chinês CF Crystal – ainda não tenha sido
estabelecida, os advogados e as seguradoras dizem que, seja de quem for a
culpa, os pagamentos de compensação correm o risco de ficar comprometidos ou,
até, bloqueados, porque o petroleiro e a maioria da sua tripulação eram do Irão.
Os potenciais impactos decorrem das restrições dos EUA às transacções
financeiras com o Irão, ainda em vigor, apesar do levantamento das sanções
internacionais contra o país em 2016, na sequência do acordo nuclear com as
potências mundiais, dizem os juristas.
O director-geral da seguradora alemã Allianz disse que as
perdas resultantes da colisão podem ascender a centenas de milhões de dólares,
acrescentando “O valor da carga e o valor do casco em si terá um grande
impacto, mas penso que os aspectos de responsabilidade pela poluição por óleo vão
ser, provavelmente, a maior parcela, apesar do impacto ambiental esperado ser
menos grave do que para um derrame de petróleo pesado, já que o condensado
evapora rapidamente e não causará uma grande e persistente mancha de óleo”.
Sanções dos EUA
Sob as sanções dos EUA, as instituições financeiras dos EUA estão
proibidas de qualquer comércio com o Irão, apesar do acordo nuclear atingido em
2015, conhecido como JCPOA (Joint Comprehensive Plan of Action).
Enquanto os bancos não pertencentes aos EUA podem fazer
negócios com a República do Irão, os juristas dizem que as transacções que
envolvam a moeda dos EUA podem ser problemáticas, em virtude disso poder envolver
o sistema financeiro dos EUA, o que de todo não é permitido.
Bancos e indivíduos ainda têm restrições ao comércio com
pessoas físicas ou jurídicas que permaneçam numa lista negra dos Estados
Unidos, o que aumenta a cautela sobre qualquer negócio com o Irão.
As transacções noutras moedas são permitidas, mas os grandes
bancos ocidentais, por exemplo, temem que ao lidar com o Irão possam de alguma
forma ficar sujeitos a sanções dos EUA. Apesar do alívio de sanções contidas no
JCPOA, ainda há grande dificuldade por parte dos bancos ocidentais processarem
pagamentos a contrapartes iranianas, independentemente da moeda.
Por outro lado, nos últimos anos, os pedidos de indemnização
por grandes incidentes de poluição por petróleo foram, em grande parte,
tratados de acordo o Fundo internacional de Compensação de Poluição por Hidrocarbonetos
(IOPC Funds) – um órgão intergovernamental que disponibiliza compensações para
além das indemnizações das companhias de seguros.
As autoridades marítimas dizem que a compensação, neste
caso, está abrangida pelo esquema chinês equivalente, conhecido como o COPC
Fund, principalmente porque o petróleo derramado é condensado e não está coberto
pelo IOPC Funds.
Mas se os principais bancos ocidentais ainda se recusam a
fazer transacções monetárias com o Irão, como se alinharão os bancos asiáticos,
em especial os chineses?
Os bancos chineses, no entanto, têm vindo a tornar-se mais
reticentes em fazer alguns negócios com o Irão. Algumas dessas entidades fecharam
contas de cidadãos iranianos na China devido à aplicação mais estrita, por
parte dos bancos chineses, das regras sobre lavagem de dinheiro. O GAFI, um
organismo internacional que monitoriza o branqueamento de capitais em todo o
mundo, manteve o Irão na lista negra de países de alto risco.
Assim, Andrew Bardot, director executivo do Grupo
Internacional de Clubes de P & I – a associação que engloba as seguradoras
de navios e fornecem cobertura para reclamações de poluição e desastres
pessoais – disse que qualquer problema com pagamentos de compensação
decorrentes do incidente seria derivado do sector bancário, nunca por questões de
legalidade.Fonte 2
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