Decorre
em Dubrovnik, na Croácia a reunião anual da Comissão Internacional para a
Conservação dos Tunídeos do Atlântico (ICCAT), da ONU. Uma das espécies mais
ameaçada e alvo das maiores preocupações, é o “atum patudo” (bigeye, como é conhecido internacionalmente,
ou Thunnus obesus), alvo de
sobrepesca ao longo dos últimos anos e cujos stocks se encontram exauridos.
Os
vários países presentes vão ter de decidir sobre a redução efectiva da quota
anual de captura da espécie (que em 2014 representou 14% das vendas globais de
atum), que caminha a passos largos para a extinção. ONG’s, ambientalistas e
biólogos internacionais têm vindo a alertar que a serem mantidos os níveis
actuais de pesca por mais 10 anos, a população terá 60 vezes mais hipótese de
entrar em colapso do que recuperar.
A
população desta espécie, que pode alcançar dois metros de comprimento e pesar
170 kg, entrou em declínio crítico em 2015. Em 2017, a quota cifrou-se em 65
mil toneladas, mas acredita-se que foram capturadas, globalmente, mais de 80
mil toneladas.
Cientistas
e organizações de defesa do ambiente e vida selvagem apontam para uma quota de
pesca inferior a 50 mil toneladas porque só com esta redução “será possível
recuperar 50% do stock até 2020 e 70%
até 2028”. Segundo os cientistas existirá, tão só, 20% da sua população
histórica.
No
Atlântico e no Pacífico ocidental a situação é de tal forma crítica que a
população desta espécie luta pela sobrevivência. A utilização de estruturas
(jangadas) no meio do mar (as chamadas FAD’s – Fish Aggregating Devices) para a
captura de atum é problemática, já que atraem o peixe a entrar, onde fica
retido em enormes cercas redadas. Muito peixe juvenil fica, da mesma forma,
enredado na armadilha, pelo que não procriará.
Mesmo
a quota de 50 mil toneladas que os países presentes na reunião ICCAT se
preparam para adoptar poderá mostrar-se exagerada, já que são sempre
ultrapassadas por lacunas e subterfúgios na regulamentação internacional. As
quotas impostas aos países maiores pescadores da espécie nunca são, realmente,
cumpridas. Por exemplo, em 2018 a quota portuguesa foi de 4289, mas só foram
capturadas até agora 3145 toneladas, provavelmente, devido à sobrepesca
provocada por embarcações de outros países no Atlântico. A actividade de pesca
frenética na área faz com que, de 1990 a 2007, as reservas desse tipo de atum
no Atlântico diminuíssem em 40%, segundo a União Internacional de Conservação
da Natureza (IUCN).
Exemplo
paradigmático é o que se passa com a frota espanhola no Golfo da Guiné, composta
por 10 navios. No entanto, para contornar os limites impostos, a frota tem 15
outros que não navegam com bandeira espanhola, mas operam para empresas
espanholas de atum.
As atuneiras espanholas aproveitaram, desta forma, as vantagens
oferecidas por países em desenvolvimento, como Curaçau, El Salvador, Guatemala,
Panamá e Belize, para ampliar a sua frota e assim iludir as quotas e a
fiscalização, que por si só já é deficitária.Fonte
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