22 de dezembro de 2020

Satélites podem revelar risco de trabalho forçado na frota pesqueira mundial

Os navios com tripulação sujeita a trabalho forçado comportam-se de forma sistematicamente diferente do resto da frota pesqueira global, revela um novo artigo publicado hoje na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. A descoberta foi usada para construir um modelo inédito para identificar e prever embarcações com alto risco de estarem envolvidos nesses abusos.

O estudo constatou que até 26% dos cerca de 16.000 navios pesqueiros industriais analisados ​​estavam em alto risco de usar trabalho forçado, um tipo de escravidão moderna. Estima-se que cerca de 100.000 pessoas trabalhem nessas embarcações de alto risco, muitas das quais são vítimas potenciais de trabalho forçado. O estudo também mostra onde essas embarcações de alto risco pescavam e os portos que visitavam.

"Por vários anos, a mídia internacional destacou o trabalho forçado na frota pesqueira do mundo, mas sua extensão era amplamente desconhecida", disse Gavin McDonald, pesquisador de projeto do Laboratório de Soluções de Mercados Ambientais da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara ( UCSB) e autor principal do estudo. "Combinando dados de satélite, algoritmo de otimização de dados antes recolhidos e experiência local de profissionais de direitos humanos, identificamos embarcações com alto risco de se envolver em abusos de direitos humanos. O que descobrimos pode ser usado para desencadear novas políticas e ações de mercado que não eram, anteriormente, possíveis."

A equipa de pesquisa compilou 27 diferentes comportamentos e características de embarcações que podem indicar trabalho forçado a bordo e podem ser observados usando os dados de monitorização de embarcações via satélite da Global Fishing Watch.

Técnicas de algoritmo de otimização foram aplicadas a um banco de dados de aproximadamente 16.000 navios de palangre, pesca de lula e cefalópodes com toneira ou amostra e de arrasto para construir o modelo preditivo que pode discriminar entre navios de alto e baixo risco. O banco de dados inclui 22 embarcações que foram, prévia e publicamente, identificadas por agências de notícias e ONGs como tendo praticado abusos de trabalho a bordo. O estudo avaliou as embarcações relatadas em relação aos indicadores de risco definidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e determinou que eram altamente propensas a promover trabalhos forçados.

Observando o comportamento anual de 16.000 embarcações de 2012-2018, o modelo previu corretamente o trabalho forçado em mais de 90% das atividades de alto risco relatadas e descobriu até 4.200 novas embarcações de alto risco.

O estudo descobriu que os indicadores mais importantes para distinguir navios de alto risco incluem viagens para longe dos portos, maior potência do motor, mais horas de pesca por dia, mais tempo gasto a pescar em alto mar e menos viagens anuais do que outros barcos.

"O estudo representa uma nova fronteira na nossa capacidade de esclarecer, não apenas se os operadores de embarcações estão a pescar com responsabilidade, mas também a probabilidade de estarem a tratar a sua tripulação de forma justa."

Os palangreiros tiveram o maior número total de navios de alto risco. Mas quando se olha para a prevalência de navios de alto risco dentro das frotas, os pescadores de cefalópodes tinham a maior percentagem de navios de alto risco, seguidos de perto por navios de pesca palangreiros e, em menor extensão, arrastões. Descobriu-se que os palangreiros de alto risco operavam globalmente, ao passo que as áreas a oeste e sudeste da América do Sul, sudeste da Rússia e oeste da Índia eram pontos críticos de alto risco para a pesca de lulas com toneira.

Os navios de alto risco visitaram portos predominantemente na África, Ásia e América do Sul, embora as exceções incluam Canadá, Nova Zelândia, Estados Unidos e vários países europeus. Essas embarcações de alto risco visitaram portos em 79 países em 2018, incluindo 39 países que são Parte do Acordo de Medidas do Estado do Porto da FAO, um tratado que visa combater a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada por meio do aprimoramento do controlo pelo Estado do porto. Esses portos são fontes potenciais de trabalho forçado e também pontos de transferência de frutos do mar capturados com recurso a trabalho forçado.

Os exemplos de rastreamentos de navios mostram alguns dos cinco principais indicadores de trabalho forçado a bordo:

Distância máxima do porto,

Mais horas médias diárias de pesca, e

Mais horas totais de pesca em alto mar. 

 Descarregue e leia o Estudo (clique aqui).

Fonte 


 

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