20 de junho de 2018

O sonho do "Belt and Road" do Paquistão vira pesadelo?

Os investimentos da China em infraestrutura, como parte da sua iniciativa Belt and Road (BRI), têm o potencial de mudar a dinâmica estratégica de toda a região do Indo-Pacífico. O projecto “bandeira” da BRI é o Corredor Económico China-Paquistão (CPEC), com um custo próximo das US $ 62.000 milhões, que atravessará o Paquistão de uma ponta a outra. Este projecto levou a expectativas superinflacionadas que, à luz dos actuais acontecimentos, parecem improváveis ​​de serem atingidas.
O CPEC é considerado a tábua de salvação pela elite paquistanesa, que espera que ele “carregue às costas” a economia esclerosada do país, permitindo que este se transforme num centro (hub) económico regional. A China é, amplamente, considerada uma parceira óptima e confiável, em contraste com os Estados Unidos, considerados "não confiáveis”. Está tudo, portanto, dependente da China.
De facto, para muitos no Paquistão, o CPEC assemelha-se a um culto: a crença de que baldes de dinheiro chinês descerão magicamente dos céus, trazendo salvação ao Paquistão sem a necessidade de reformas económicas dolorosas.
A jóia da coroa do CPEC é Gwadar, a nova cidade portuária em construção no deserto do Baluchistão, que pretendem guindar a um novo Dubai. Aqui situa-se o extremo sul do corredor económico, que se inicia em Xinjiang.
Os sonhos de transformar Gwadar, de uma vila de pescadores empoeirada numa grande cidade, parecem não ter limites. A enormidade do projecto é patente nos planos megalómanos de uma empresa chinesa de construir moradias para cerca de 500 mil trabalhadores chineses em Gwadar até 2022.
Apesar do aparente e desenfreado entusiasmo do Paquistão pelos planos da China, existem alguns “senãos”.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) já advertiu, por várias ocasiões, sobre a capacidade do Paquistão de sustentar o serviço das dívidas projectadas. Segundo algumas fontes, Islamabad está prestes a solicitar ao FMI um novo pacote de resgate de US $ 3.000 milhões para ajudar a pagar os actuais empréstimos em dívida.
A recente experiência do Sri Lanka é preocupante. Emprestou grandes quantias para projectos BRI, destinados ao porto de Hambantota, que não puderam ser reembolsados. O serviço da dívida, incluindo a dívida chinesa e outras, consome, agora, cerca de 95% das receitas do governo do Sri Lanka, o que significa que suas opções económicas e políticas estão severamente limitadas.
Na verdade, Islamabad rejeitou alguns projectos CPEC, financeiramente inviáveis. Por exemplo, em novembro de 2017, o Paquistão retirou do projecto uma barragem de 14 milhões de dólares propostos pela Diamer-Bhasha, justificando o facto com a não viabilidade económica.
Analistas paquistaneses acreditam que o país pode mitigar o risco atraindo investidores não-chineses para projectos-chave. Isso faria muito sentido. Em teoria, as colaborações com investidores não chineses podem limitar a esmagadora influência política e económica da China e mitigar as preocupações de segurança em projectos delicados. No entanto, muitos investidores estrangeiros não se sentem confortáveis com o ambiente de segurança, político e legal no Paquistão, sobre o qual (ao contrário das empresas chinesas) terão pouco controlo. Outros, como o Japão, requerem que o seu investimento se pautem por princípios como transparência e sustentabilidade económica – princípios esses não presentes em muitos projectos, particularmente no porto de Gwadar.
Também pesa o facto de haver planos para a construção de uma base naval chinesa em Gwadar e que tem estado sob escrutínio internacional significativo. De acordo com um recente relatório do Washington Times (confirmado por outros), o Paquistão propôs que a China construa uma nova base naval e aérea na vila de Jiwani, a cerca de 60 quilómetros a oeste de Gwadar.
Brevemente, assistir-se-á a eleições nacionais no Paquistão, onde o advogado e ex-jogador de críquete Imran Khan é, cada vez mais, visto como favorito, tendo vindo a colocar um grande foco na corrupção o que, provavelmente, poderá significar menos acordos favoráveis à China.
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