4 de maio de 2022

O verme do gelo que vive nos glaciares poderá desaparecer

 Os vermes do gelo glaciar prosperam em temperaturas que rondam o ponto de congelação, mas estão em perigo de extinção, dado que o seu habitat está a desaparecer.

À primeira vista, um glaciar parece um objeto sem vida – um pedaço de gelo estéril. Mas as aparências iludem: os glaciares são o lar de uma série de minúsculos organismos que constituem um próspero ecossistema gelado.

Com pouco mais de um centímetro de comprimento e finos como um cabelo, os vermes do gelo (Mesenchytraeus solifugus) pontilham os glaciares por todo o Noroeste do Pacífico, na Colúmbia Britânica e no Alasca. Enormes quantidades destes minúsculos seres negros surgem nas tardes e noites de verão para se alimentarem de algas, micróbios e outros detritos à superfície. Depois, enterram-se novamente no gelo de madrugada para, no inverno, desaparecem nas profundezas congeladas.


Estes parentes distantes das minhocas sobrevivem em camadas de água congelada dentro da neve e do gelo, prosperando em temperaturas que rondam o ponto de congelação da água. Isto é impossível para a maioria das criaturas, sobretudo as de sangue frio. Portanto, como é que eles conseguem prosperar? Os cientistas descobriram alguns dos truques destas criaturas e salientam que a compreensão destas curiosidades biológicas é surpreendentemente relevante – e urgente. E tanto mais urgente quanto os glaciares estão a desaparecer.

Os seus níveis de energia sobem à medida que arrefecem, dizem os cientistas, o que nos pode parecer um paradoxo, já que à medida que desce a temperatura, as criaturas de sangue frio se tornam lentas e chegam a ficar dormentes. Segundo investigação científica efetuada noa últimos anos, isso está relacionado com uma molécula especial conhecida por ATP, que atua como uma fonte de energia nas células e potencia a maioria das reações no corpo. Este processo acontece através de uma enzima complexa, chamada sintase ATP.

Para além desta adição genética, os vermes têm, ainda, um “termostato” celular alterado que permite que a produção de ATP aconteça quando está frio. As duas mudanças combinadas significam que os vermes do gelo têm concentrações celulares de ATP muito mais elevadas do que a maioria das outras criaturas.

Para além da sua incrível energia, os vermes do gelo também fazem parte de um ecossistema sobre o qual sabemos muito pouco. Estas criaturas existem ao lado de rotíferos, tardígrados, algas, fungos e outras criaturas microscópicas, além de, também, servirem de comida para as aves. As aves também podem ajudar a explicar porque é que estes pequenos animais se conseguem dispersar de glaciar em glaciar – provavelmente, transportados na plumagem, ou nas patas, dos pássaros.


Alguns dos glaciares onde estes vermes foram encontrados anteriormente, como os glaciares Lyall e Lewis nas Cascatas Norte de Washington, desapareceram. Outros estão em declínio. Entre 2003 e 2015, o Glaciar Nisqually, na face sul do Monte Rainier, lar dos vermes do gelo, recuou uma média de 90 centímetros a cada 10 dias.

Na verdade, o tempo disponível para desvendar os mistérios dos vermes do gelo está a esgotar-se.

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