O compromisso de atingir zero emissões pode ter ficado um pouco mais complicado se o resto do mundo não seguir o exemplo da Dinamarca. Lá, as diretrizes do Provedor do Consumidor dinamarquês afirmam que as alegações de isenção de emissões e ambientalmente neutro devem ser totalmente documentadas e verificadas para o ciclo de vida de um produto, por especialistas. Caso contrário, uma empresa pode enfrentar multas pesadas.
“Não existe um navio de emissão zero”, disse Anders Ørgård, diretor comercial da OSK-ShipTech, uma empresa de arquitetura naval dinamarquesa, ao Cruise Industry News. O que na indústria se está a implementar é o consumo de combustíveis alternativos e a transição de ferries para a propulsão a bateria, reduzindo, por esta via, a pegada de emissão “direta” da propulsão. Adianta, no entanto, que a pegada de emissão “indireta” pela construção de um navio se torna, proporcionalmente, maior.
Ørgård disse que os armadores se devem concentrar, tanto nas emissões diretas, quanto nas indiretas.
Ele observou que um estudo recente realizado pela OSK-ShipTech revelou que, para um ferry totalmente elétrico, as emissões não operacionais de CO2 podem atingir mais de 55% do total de emissões de CO2 produzidas durante o ciclo de vida de 20 anos do navio.
“Em vez de se focarem, exclusivamente, nas emissões das operações, os armadores devem fazer uma análise do ciclo de vida do berço ao túmulo”, disse Ørgård. No futuro, quando a frota, eventualmente, for composta por navios com zero emissões diretas, as emissões indiretas devem ser o foco, acrescentou.
O estudo foi realizado na Dinamarca, após alguma controvérsia em torno do conceito de sustentabilidade e o Provedor do Consumidor dinamarquês exigiu novas diretrizes para que declarações como “livre de emissões” e “ambientalmente neutro” sejam totalmente documentadas e verificadas por especialistas externos. Caso contrário, as multas podem chegar a milhões de euros, observou Ørgård. De facto, a Provedoria do Consumidor recebeu, recentemente, um orçamento maior para contratar mais funcionários para poder acompanhar as reivindicações de sustentabilidade – ou a chamada “lavagem verde”.
O estudo citado concentrou-se no ciclo de vida de um ferry elétrico construído em 2021, desde a mineração das matérias-primas e a produção do aço até à reciclagem do navio.
Por uma questão de redundância, o ferry elétrico também está equipado com motores a diesel, mas funciona 90 a 95 por cento do tempo a eletricidade. O estudo incluiu o uso de óleo diesel, o cálculo das emissões da produção de energia elétrica em terra para carregar as baterias, incluindo a construção de turbinas eólicas, bem como uma mistura típica de combustíveis convencionais disponíveis na rede de abastecimento em toda a Europa.
“Fazer uma análise do ciclo de vida desde o estágio de conceito permite-nos desenvolver uma estratégia de construção, calculando o custo total de armamento e a carga total de CO2”, disse Ørgård. Os cálculos de CO2 da empresa abrangem construção, siderurgia e equipamentos. Os móveis podem representar até 10% das emissões.
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