A Unidade de Controlo Costeiro de Setúbal da GNR apreendeu, hoje, 83 barbatanas de tubarão a bordo de uma embarcação no porto de Sesimbra.
Os militares fiscalizaram uma embarcação dedicada à pesca do espadarte no porto de Sesimbra. No interior do porão, detetaram as barbatanas de tubarão e 21 quilos de tubarão esfolado e esviscerado. O pescado foi entregue no IPMA, para exame de avaliação e determinação de espécies. A GNR, através de nota de imprensa, explicou que a prática da "remoção das barbatanas de tubarões" consiste em remover as barbatanas dos tubarões e devolver a parte restante do corpo ao mar, onde o animal acaba por se afundar, sangrando até à morte ou sufocando. Esta prática contribui para a mortalidade excessiva dos tubarões e, deste modo, diminui abruptamente o número de unidades populacionais da espécie, ameaçando a sustentabilidade.
A pesca do tubarão em Portugal é acessória e não uma pesca alvo (dirigida ao tubarão) mas, quando chega à rede, é comercializado de igual modo nas lotas portuguesas, à semelhança do outro pescado. Muitos tubarões de profundidade são também apanhados em Portugal, como a "lixa" e a "gata", por pescadores que lidam com a faina do peixe-espada preto e cherne através de anzol.
As barbatanas de tubarão são muito valiosas no mercado asiático, para onde, normalmente, segue o produto. A carcaça do animal não tem interesse. As que são capturadas ao longo da costa portuguesa transitam em carrinhas para Espanha e entram no mercado negro rumo ao mercado asiático, onde são consideradas uma iguaria gastronómica com grande valor monetário.
A União Europeia (UE) é um dos maiores exportadores e uma importante plataforma de trânsito para o comércio mundial de barbatanas, apesar da proibição de remoção a bordo dos navios e nas águas e da obrigação de desembarque dos tubarões com as barbatanas unidas ao corpo.
Algumas espécies de captura proibida incluídas no REGULAMENTO (UE) Nº 2019/124 E REGULAMENTO (UE) Nº 2018/20
Peixes cartilagíneos (Tubarões e raias) |
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Nome Comum |
Espécie |
Motivo da proibição |
Cação |
Galeorhinus galeus |
Espécie vulnerável |
Caneja |
Mustelus mustelus |
Espécie vulnerável |
Galhudo-malhado |
Squalus acanthias |
Espécie ameaçada |
Manta, Jamanta, Urjamanta |
Manta birostris |
Espécie vulnerável |
Tubarão-mako, Tubarão sardo, anequim |
Lamna nasus, Isurus oxyrinchus |
Pesca proibida em águas da EU, espécie criticamente ameaçada |
Peixe-rato, Tubarão raposo |
Alopias vulpinus |
Pesca dirigida proibida em zona da Convenção ICCAT |
Peixe-serra, Espadarte serra |
Pristis pristis |
Pesca proibida em águas da UE |
Raia |
Dipturus batis |
Espécie criticamente ameaçada |
Raia-da-Madeira |
Raja maderensis |
Espécie vulnerável |
Raia-branca |
Rostroraja alba |
Espécie criticamente ameaçada |
Tubarão albafar |
Hexanchus griseus |
Pesca proibida em águas da UE |
Tubarão de pontas brancas, Tubarão de São Tomé, Tubarão branco |
Carcharhinus longimanus |
Pesca proibida em zona da Convenção ICCAT |
Tubarão frade, peixe-frade |
Cetorhinus maximus |
Pesca proibida em águas da UE |
Tubarão martelo |
Sphyrna spp |
Pesca proibida em zona da Convenção ICCAT |
Ratão |
Dasyatis pastinaca |
Espécie vulnerável |
Mas, se em Portugal, esta não é uma pesca alvo, por que será que este tipo de apreensões se tem vindo a tornar mais frequente?
A pesca tem vindo a definhar. Segundo dados oficiais, nos últimos trinta anos, o conjunto de profissionais que se dedica à atividade viu-se reduzida em cerca de metade. E são vários os fenómenos que explicam a atual realidade, das culturais às conjunturais, passando pelos históricos.
Do ponto de vista histórico, durante o Estado Novo, o sistema de funcionamento e fomento do sector das pescas teve como objetivos a normalização do abastecimento alimentar e a redução do défice externo. O bacalhau e a sardinha eram as espécies fundamentais para o abastecimento popular e da indústria de conservas de peixe, merecendo especiais atenções.
Nos anos 80, as frotas de pesca continuavam, porém, a evidenciar graves problemas de atraso tecnológico e baixa produtividade. Cerca de 95% das embarcações registadas para a pesca (quase dez mil) tinham menos de 5 TAB. Portugal ficou, assim, à margem do movimento de descoberta e afirmação da moderna Economia das Pescas.
A entrada de Portugal na Comunidade Europeia, a 1 de janeiro de 1986, com sujeição aos princípios da Política Comum de Pescas da CEE e dos seus principais dispositivos de regulação colocaram a nu essas debilidades. Todos se lembram que Portugal foi um dos “bons alunos” da Política Comum das Pescas, sobretudo enquanto houve subsídios para construções e abates – em especial, estes últimos.
Por outro lado, no nosso país, quase invariavelmente, os proprietários das embarcações são, ao mesmo tempo, mestres das mesmas. É cultural!
Conjunturalmente, verifica-se uma grande atomização do trabalho na pesca. A esmagadora maioria das embarcações de pesca que operam na nossa costa são de pesca local. Pequenas embarcações de boca aberta, nos quais, em média, trabalham 2 a 3 pescadores e, nalguns casos, apenas um. Em simultâneo, quase que cada embarcação é uma empresa e cada pescador que trabalhe sozinho na sua embarcação é um pequeno empresário.
Acrescente-se que, as relações de interdependência entre produção e comercialização indicam um franco desequilíbrio na repartição do valor gerado ao longo da cadeia de valor dos produtos da pesca parecendo, sendo um dos fatores centrais desta erosão. A incapacidade de adaptação às novas regras comunitárias, que determinaram a descontinuidade da pequena comercialização feita por mulheres de pescadores, bem como, o aparecimento da grande distribuição (grandes superfícies comerciais) ditou a concentração do negócio da comercialização. Hoje, verifica-se que, horas depois da primeira venda em lota, o preço colocado ao consumidor final está inflacionado, nalgumas espécies, na ordem dos 3 a 4 mil por cento.
Vimos, assim, que as questões de mercado e a forma como é distribuído o que é gerado ao longo da cadeia de valor é uma das questões centrais na transformação da comunidade piscatória e da respetiva remuneração do seu trabalho – a grande maioria abaixo dos 500 euros (e é preciso que trabalhem todos os dias, o que o mar e a meteorologia não permitem).
Como se percebe, os baixos salários, as restrições à captura e a concorrência (ou a falta dela) na distribuição estão a fazer baixar o número de pescadores em Portugal e a capacidade de sobrevivência desta comunidade.
E é aqui que reside o cerne da questão. Antigamente, os pescadores que apanhassem tubarões quando andavam à caça de atum ou espadarte, voltavam a libertar os animais no mar. Agora, na tentativa de sobreviver aos factos que levam ao desaparecimento gradual da comunidade piscatória e à sua transformação, surgem táticas e estratégias de sobrevivência da referida comunidade. A busca por melhorar o rendimento familiar leva à aceitação de práticas menos éticas, mas mais apetecíveis e rentáveis.
Barco ou navio apanhado com partes doa tubaroes era... desmantelado!!! e quaisquer licenças dos presentes canceladas!
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