Pela primeira vez, uma ONG
apresenta um relatório documentado, onde estima o verdadeiro custo da prática Saiko, uma forma de pesca ilegal onde
traineiras estrangeiras concorrem com os pescadores de canoa do Gana e depois
vendem esse peixe “roubado” de volta às comunidades locais com lucro chorudo.
Em 2017, este comércio envolveu
cerca de 100.000 toneladas de peixe, custando dezenas de milhões de dólares em
receitas ao Gana – o que significa que apenas 40% das capturas dos arrastões
foram desembarcadas de forma legal naquele ano. Isso ameaçou a segurança alimentar
e os meios de vida costeiros, segundo comprovam as investigações. A Fundação
para a Justiça Ambiental (EJF) filmou as actividades ilegais realizadas no mar,
monitorizou os portos e analisou os dados que revelam a dimensão da escala dessa
forma de crime organizado.
Os arrastões propriamente
ditos são geridos, quase exclusivamente, por operadores chineses, que usam
empresas “fronteiriças” do Gana para contornar as leis que proíbem qualquer
propriedade estrangeira ou controlo de navios de arrasto industriais que
arvoram a bandeira de Gana. A EJF revelou que mais de 90% dos arrastões
industriais licenciados no Gana estão ligados a proprietários chineses.
Estas embarcações
industriais são capazes de capturar grandes quantidades de pequenos peixes
pelágicos, como sardinela – a principal espécie capturada dos pescadores de
canoa locais e uma parte crucial da dieta de Gana. A menos que medidas
ambiciosas sejam tomadas, os cientistas estimam que esses recursos podem durar
menos de seis anos.
Além disso, grande parte da prática
de captura Saiko é de peixe juvenil –
mais de 60% dos peixes analisados de outubro de 2018 a abril de 2019, segundo
o relatório. A pesca nesta fase inicial de vida da espécie pode afectar
seriamente a capacidade de reprodução das populações de peixe do Gana, impedindo
a sua regeneração natural.
As capturas Saiko em 2017 atingiram o valor de US $
40,6 a 50,7 milhões, quando vendidos no mar e US $ 52,7 a 81,1 milhões, quando
vendidos no local de trasfega, estima o relatório. Grande parte desse dinheiro
passa directamente para as empresas de pesca chinesas e para fora de Gana.
A prática Saiko também causa perdas de emprego. As
canoas Saiko, especialmente
construídas para levarem o peixe das traineiras para portos como Elmina,
carregam 450 vezes a captura média das canoas de pesca convencionais e são
operadas por apenas alguns indivíduos. O relatório calcula que, enquanto a
pesca de canoa oferece emprego directo cerca de 60 pescadores para cada 100
toneladas de peixe, a prática Saiko
significa apenas 1,5 empregos pelas mesmas 100 toneladas.
Esta prática predatória está
a precipitar o colapso da população base de peixe do Gana e, com ele, a pobreza
e a fome do seu povo, diz a EJF. No entanto, fica absolutamente claro que o
governo, não só tem capacidade para parar esta actividade ilegal e altamente
prejudicial a qualquer momento, como o deve fazer sem demora, impedindo o
colapso destas existências piscícolas.
Veja aqui as conclusões do estudo.
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