Albergando um quinto da
população da Terra, a China consome mais de um terço do peixe retirado das
águas do planeta. Com a sua procura bem acima da oferta, a indústria pesqueira
da China juntou-se à de outras nações e fixaram os seus olhos e redes em águas
africanas sem se preocuparem com a soberania ou a lei.
Os africanos que lutam para
sair da pobreza estão a pagar um alto preço por essas predações. Somente
Moçambique perdeu 300 mil empregos e 3,3 mil milhões de dólares americanos em
receitas – 10 vezes o valor que as nações da África Oriental ganham no
licenciamento legal de pesca por embarcações estrangeiras, segundo a organização
sem fins lucrativos Stop Illegal Fishing.
Dos 130 navios licenciados
para pescar em Moçambique, apenas um pertence a moçambicanos. Muitos outros
navios estrangeiros nem, sequer, estão licenciados. Sem barcos de patrulha adequados,
as autoridades de Moçambique não podem monitorizar, proteger ou fazer cumprir
as leis as suas próprias águas territoriais.
Em 2010, Moçambique tomou
medidas para conseguir um maior controlo sobre as suas pescas, encomendando uma
frota de pesca moderna e um sistema de segurança costeira. No entanto, pouco
tempo depois de o ex-presidente Armando Guebuza ter participado do corte de
fitas para essas entidades no outono de 2014, o seu governo suspendeu os
contratos que formalizavam o programa. Portanto, nem empresas, nem navios de
pesca, nem formação, tampouco fiscalização.
Na costa oeste da África, a
Serra Leoa tem apenas um barco de patrulha para inspeccionar a pesca nas suas
águas. Na sequência de um programa de investigação da BBC sobre como as
traineiras chinesas estavam a usar tácticas proibidas para pescar milhares de
toneladas do seu peixe, a Serra Leoa baniu a pesca chinesa por um mês.
Nem toda a pesca estrangeira
na África é feita pela China, mas de acordo com a Oceanmind, com sede no Reino
Unido, que monitoriza a pesca globalmente, três quartos dos navios a operar na
África Ocidental estão registados para empresas chinesas. Para ser detectado
por satélite, uma embarcação deve ter um sinal electrónico que permita que os
navios evitem colisões entre si (AIS). É improvável que os navios de pesca
envolvidos na pesca ilegal usem tal sinal, de modo que o rastreio da Oceanmind
certamente subestima a pesca ilícita.
A pesca estrangeira
predatória na costa do Oceano Índico africano recebeu menos atenção da mídia do que a costa do Atlântico, mas o
impacto não é menor, sendo até, possivelmente, mais desastroso. Moçambique
importa comida da África do Sul, em parte porque os seus mercados domésticos
não têm o benefício de suas próprias áreas de pesca.
Ironicamente, vários dos barcos de pesca de atum encomendados por
Moçambique para desenvolver a sua própria frota comercial estão agora a ser
arrendados por uma empresa chinesa. Ao contrário de um barco de patrulha da
Serra Leoa, Moçambique, apesar dos esforços bem-intencionados de há nove anos,
ainda não tem um, que seja. Com 1.400 milhas de litoral, Moçambique deveria
parar de licenciar um dos seus maiores bens para um país distante por centavos
por dólar e empreender um esforço sério para ensinar a sua população
subempregada a explorar as existências de atum offshore e fornecer-lhes as ferramentas para o fazer.Leia artigo completo
Sem comentários:
Enviar um comentário