23 de novembro de 2023

Vamos navegar outro oceano?

Nos nossos compêndios de geografia estudámos que o mundo se dividia em cinco continentes e outros tantos oceanos. Contudo, esta contagem, segundo cientistas da Universidade de Rochester, no Reino Unido, está em vias de ser alterada. Tudo porque, segundo eles, a África está a partir-se a meio — e a criar um novo oceano – embora não saibam, ao certo, quanto tempo vai demorar até que o processo esteja finalizado, mas estimam um intervalo de pelo menos cinco a dez milhões de anos.

Segundo esses estudos científicos, a evolução geológica de África demonstra que este continente está em pleno processo de cisão, o que irá resultar, não só na separação de nações inteiras, como na formação de um oceano. O primeiro alerta foi dado em 2009, por cientistas daquela universidade inglesa, que num estudo revelaram as alterações geológicas na região de Afar, na Etiópia.

Recentemente, um novo artigo científico publicado no Geophysical Research Letters, voltou a abordar o tema, argumentando que tudo se deve a uma fenda de 56,32 quilómetros que surgiu no deserto de Danakil no nordeste da Etiópia, no sul da Eritreia.

O estudo internacional descobriu que, atualmente, a rachadura percorre cerca de 56km depois de aparecer pela primeira vez, em 2005, nos desertos da Etiópia.

À luz dos dados que constam no artigo, a fenda foi provocada por um processo tectónico em tudo semelhante ao que acontece no fundo do mar e situa-se nos limites das placas Arábica e Africana, estando esta última em processo de desagregação e formação de uma terceira, a Somali, que se estão, lentamente, a afastar entre si.

O vale do Rift da África Oriental é uma das fendas mais extensas na superfície da Terra, estendendo-se desde a Jordânia no sudoeste asiático até Moçambique no sudeste de África, abrangendo mais de 6.000 quilómetros de comprimento.

Segundo esse estudo científico, as placas tectónicas da África e da Arábia colidem no deserto e têm vindo a separar-se, gradualmente, há cerca de 30 milhões de anos, num processo que já criou o Mar Vermelho e o Golfo de Áden entre as duas massas continentais, há milhares de anos. O estudo combina dados sísmicos da formação da fenda para demonstrar que ela é impulsionada por processos semelhantes aos do fundo do oceano. O processo que decorre atualmente vai, eventualmente, “dividir África em duas e criar uma nova bacia oceânica“.

Os cientistas não sabem, exatamente, quanto tempo vai demorar até que o processo esteja completo, mas estimam um intervalo de pelo menos cinco a dez milhões de anos até que um novo oceano se forme e o continente africano se separe. Isto porque a placa da Arábia se afasta de África a um ritmo de 2,54 centímetros por ano, ao passo que as placas africanas se mexem entre 5,08 milímetros e 1,27 centímetros por ano.

Imagem ilustrativa do que poderá vir a ser a separação do continente África

Apesar de se tratarem de movimentos quase impercetíveis, os cientistas garantem que eles estão, mesmo, a acontecer. Mas, e depois?

Estas alterações terão óbvias consequências para os países nas proximidades da fenda. Entre os países afetados destacam-se Ruanda, Uganda, Burundi, República Democrática do Congo, Malawi e Zâmbia.

A alteração drástica na geografia destes países, com alguns deles a poder vir a pertencer a dois continentes – como é o caso do Quénia, a Tanzânia e a Etiópia – poderá permitir a países, que hoje não têm acesso ao mar, construir portos que os ligariam ao resto do mundo. 

O grande rifte africano atravessa uma dezena de países. É considerada uma das maravilhas geológicas do planeta.

A probabilidade da África se partir em dois tem vindo a ser analisada desde há muito tempo. O que devemos ter presente é que estes processos geofísicos são fenómenos lentos e graduais, que levam milhares ou milhões de anos, ou seja, sucedem sem que nos apercebamos disso.


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