6 de março de 2020

As quarentenas de navios de cruzeiro por coronavírus


A disseminação de doenças junta-se, agora, às acusações de destruição ambiental, de agressão sexual e de gestão “esclavagista” de tripulantes por quem, por todo o mundo, vai dirimindo argumentos contra os cruzeiros.
Ao longo da costa de Yokohama, a segunda maior cidade do Japão, navegava o Diamond Princess, um navio de cruzeiro de luxo, apresentado como um "tesouro de delícias asiáticas". A bordo havia churrascarias, spas, um teatro de 700 lugares e o coronavírus altamente contagioso, que se propagava rapidamente. Dos 3.711 passageiros e tripulantes a bordo, 695 contrairam o vírus (quase um quinto do manifesto do navio). É o maior surto de coronavírus fora da China e aconteceu num navio operado pela linha de cruzeiros mais rentável do mundo, a Carnival Corp.
O primeiro incidente relatado foi de um hóspede que viajou por cinco dias a bordo do navio, de 20 a 25 de janeiro, antes de desembarcar em Hong Kong, onde foi diagnosticado com coronavírus, a 1 de fevereiro. Os sintomas podem não aparecer até duas semanas após a exposição, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças, o que significa que o passageiro pode ter contraído e espalhado o vírus a bordo.
Segundo a reportagem do New York Times, a 2 de fevereiro, as autoridades de Hong Kong alertaram o Ministério da Saúde do Japão sobre o passageiro infectado, um dia antes da chegada do navio. Um porta-voz da Princess Cruises diz que recebeu apenas "verificação formal" em 3 de fevereiro e depois notificou os passageiros. O que se seguiu após o anúncio foi o oposto do luxo: duas semanas de quarentena, nas cabines dos passageiros, das quais as mais baratas não têm janelas.
A MSC Cruises, parte da gigante Mediterranean Shipping Company, com sede em Genebra, anunciou que um passageiro australiano que havia embarcado no MSC Opera no Mediterrâneo Oriental de 17 a 28 de fevereiro teve um teste positivo para o COVID-19, em 3 de março. O anúncio chegou quarta-feira, após notificação relevante das autoridades sanitárias da Áustria ao operador de transporte.
O MSC Opera, que chegou ontem a Pireu, na Grécia, informou imediatamente as autoridades gregas de saúde, tendo solicitado, em simultâneo, aos hóspedes, que na altura visitavam a Acrópole, que regressassem ao navio e aí permanecessem, como medida de precaução. Entretanto, as autoridades gregas no porto de Pireu fizeram uma avaliação e deram permissão para o navio, com 1.579 passageiros e 723 tripulantes a bordo (um total de 2.302 pessoas) navegar para Corfu.
A 4 de março, foi relatado que o Grand Princess, um navio de cruzeiro com 2.500 passageiros, estava ser mantido ao largo, na costa da Califórnia, também devido ao coronavírus. Um passageiro de uma viagem anterior tornou-se a primeira pessoa a morrer da doença no estado da Califórnia, tendo a sua morte ocorrido depois que desembarcou do navio. Embora não existam casos confirmados a bordo, alguns passageiros e tripulantes estão doentes e todos aguardam, ansiosos, por kits de teste.
No sul da Noruega, os passageiros de um navio da AIDA Cruises atracado, foram libertados de uma quarentena de 24 horas, depois que dois deles tiveram resultado negativo ao Coronavírus (COVID-19), anunciaram autoridades norueguesas na terça-feira, 3 de março. Na segunda-feira, as autoridades de Haugesund haviam descoberto que dois passageiros do AIDAaura tiveram contacto com alguém, uma semana atrás, que dera positivo ao Coronavírus. Os dois cruzeiristas foram desembarcados e testados para o COVID-19. Um médico do município de Haugesund atestou não haver necessidade de manter os passageiros do cruzeiro em quarentena pelo que o AIDAaura poderá deixar Haugesund.
A cobertura informativa exaustiva destes surtos veio colocar o foco no que pode ser um bastião de doenças em cruzeiros. Antes de este surto ameaçar a indústria de US $ 45 mil milhões, os cruzeiros sempre foram populares e altamente procurados.
O número de pessoas que fazem cruzeiros tem aumentado, de forma sustentada e ano após ano, nos últimos 10 anos, e esperava-se que 32 milhões de pessoas pudessem viajar neste ano, segundo dados da Statista. E não são apenas os idosos que estão interessados. Um estudo da Cruise Line International Association descobriu que o grupo demográfico com maior crescimento de reservas é de pessoas entre 30 e 39 anos. De 2016 a 2018, este grupo demográfico reservou 20% do espaço disponível. O relatório CLIA 2020 constatou que 71% dos millennials têm uma atitude mais positiva em relação aos cruzeiros do que há dois anos.
Apesar da constante escalada nas vendas de passagens e da oferta cada vez mais ampla, é evidente que, tendo surgido este handicap, que permanece um enigma no que respeita à sua duração e consequências, surgem nuvens negras sobre esta indústria de “transporte, de porto em porto, sobre um parque de diversões flutuante”.
Mas há óbice maior do que ficar preso num teatro consumista, sem hipótese de diversão. Como demonstram os últimos desenvolvimentos, os cruzeiros podem ser bastiões da doença, tornando-se “perigosos” sob este prisma.
Fonte 1 
Fonte 2 
Fonte 3 

Sem comentários:

Enviar um comentário