4 de março de 2020

A.M. de Lisboa aprova medidas de redução de poluição por navios


A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou ontem, dia 3 de Março, recomendações do BE e do PAN que visam tomar medidas para reduzir a poluição causada pelos navios de cruzeiro na capital. Assim rezam as parangonas de jornais portugueses. Mas quem são esses senhores que se arrogam ao direito de “legislar” sobre o que não têm mandato e que é uma fonte contributiva extraordinária para pagar muitos dos desvarios que pela capital se vão fazendo? Eles são aos milhares de passageiros por navio que pagam “portagem” por visitarem Lisboa, às autoridades municipais!
E mais do mesmo: VAMOS PROIBIR! Proíbem-se os navios “que não tenham transitado para energias mais limpas e sustentáveis”? Que raio é isso? Que navios são esses? A OMI já os classificou? Limitação da atracação de navios de cruzeiro com 1.000 toneladas? Para estes “meninos” mil toneladas devem ser muita coisa… Parecem querer matar “a galinha dos ovos de ouro”.
Na verdade, os portos poderão ter um importante papel na redução das emissões de navios, agora que o sector de transporte marítimo está a entrar num novo período ecológico, procurando formas de reduzir as emissões dos seus navios. No entanto, para além de poderem premiar armadores que tragam navios movidos a combustíveis menos poluentes, os portos devem caminhar de forma mais proactiva, adicionar outra solução: o fornecimento de energia eléctrica.
Como funciona o sistema de energia externa ao navio?
Não traz qualquer novidade. Todos já conhecem o sistema que carrega o automóvel eléctrico (híbrido, no caso dos navios por utilizarem outro combustível para a sua propulsão). Os aviões também o fazem, ou alguém se lembra de alguma vez ter embarcado com as turbinas em funcionamento? No entanto a cabina está sempre iluminada e existe circulação de ar!
Actualmente, quando os navios estão atracados, usam os seus motores auxiliares para suportar algumas funções básicas. Isso deve ser levado em consideração, pois gera descarga de SOx, NOx, CO2 e partículas, além de ruído e vibração.
Para atenuar esses problemas, o fornecimento de energia de terra oferece uma solução. Essa tecnologia é basicamente uma medida antipoluição, para reduzir a poluição do ar produzida por geradores a diesel, através do uso de energia eléctrica de terra. O nome técnico desta operação simples é o “Cold Ironing”.
Por outras palavras, o “Cold Ironing”, ou conexão a terra, energia terra-a-navio (SSP) ou energia marítima alternativa (AMP) é o processo de fornecer energia eléctrica ao costado do navio atracado enquanto os motores auxiliares e principal estão desligados. Este abastecimento de fonte externa permite que equipamentos de emergência, refrigeração e aquecimento, iluminação e outros equipamentos recebam energia eléctrica, de forma contínua, enquanto o navio carrega ou descarrega a sua carga. Cabe aqui dizer que não seão, apenas, os navios de cruzeiro os únicos potenciais “clientes”, mas todos os navios que para isso estejam preparados.
Shorepower” é o termo geral para descrever o fornecimento de energia eléctrica a navios, pequenas embarcações, aeronaves e veículos rodoviários enquanto estacionados. Durante o shorepower, o navio desliga os seus motores enquanto atracado e fica ligado a uma fonte de energia em terra, sem interromper os serviços a bordo.
Tecnologia necessária
Apesar dos seus inegáveis ​​benefícios ambientais, o shorepower é um sistema tecnológico complexo, composto por vários elementos:

  • Infraestrutura eléctrica necessária nos portos, com sistemas projectados e integrados, que devem atender a todos os tipos que visitam os portos;
  • Infraestrutura eléctrica dos navios, por conversão (retrofit) ou de origem;
  • Soluções de conexão e controlo que garantam a segurança do pessoal e a transferência contínua de energia;

Todos estes factores podem criar algumas barreiras na implementação da tecnologia.
Benefícios
Na verdade, vários estudos por todo o mundo, descobriram que na utilização deste método são gerados muitos benefícios ambientais e sociais.
O shorepower traz, essencialmente, benefícios sociais e ambientais. De facto, se a tecnologia for correctamente implementada, poderá melhorar, muito significativamente, a qualidade do ar, reduzindo as emissões de CO2 em mais de 30% e mais de 95% de NOx e particulados, apenas pelo facto dos auxiliares do navio estarem parados. Como relatado em alguns dos estudos, em 10 horas de escala de um navio de cruzeiro, as suas emissões diminuem de 72,2 para 50,1 toneladas de CO2, de 1,47 para 0,04 toneladas de óxido de nitrogénio e de 1,23 para 0,04 toneladas de óxido de enxofre.

Mas os benefícios não se ficam pelas emissões, podendo nós acrescentar:

  • Reduz a poluição sonora;
  • Oferece melhor conforto a bordo enquanto em porto;
  • Fornece perfil verde aos armadores e passageiros;
  • Reduz o custo do ciclo de vida em menos consumo de combustível e custo de manutenções.

Desafios
O custo total de capital necessário à instalação da tecnologia em portos de tamanho médio como o de Lisboa poderá atingir a meia dezenas de milhões de euros, pelo que o retorno do capital investido e a cobertura dos custos operacionais do sistema demorariam “meia dúzia de anos”. A não ser se subsidiados pela UE.
Julgo eu, que se encontram em execução projectos, no âmbito do Programa TRIMIS da Comissão Europeia, que se destinam à electrificação dos portos do sul da Europa (https://trimis.ec.europa.eu/project/electrification-eastern-mediterranean-area-use-cold-ironing-and-electricity-propulsion).
A Comissão de Transportes do Parlamento Europeu apoiou em Setembro de 2018 a remoção de barreiras fiscais ao fornecimento de electricidade do lado terrestre (alternative marine power ou “cold ironing”), a navios atracados em portos.
Apesar dos desafios que podem surgir com a instalação de sistemas de shorepower, são muitos os portos (por todo o mundo) que já implementaram esta solução com êxito. A Bélgica, a Noruega e a Holanda já avançaram para esta solução, principalmente para os seus cais destinados a ferries.
Atenda-se ao quadro abaixo.
Data de Introdução
Porto
País
Data de Introdução
Porto
País
2000
Gotemburgo
Suécia
2013
San Francisco
EUA
2000
Zeebrugge
Bélgica
2013
Halifax, Vancouver
Canadá
2001
Juneau
EUA
2015
San Diego
EUA
2004
Los Angeles
EUA
2017
Helsínquia
Finlândia
2005
Seattle
EUA
2018
Estocolmo
Suécia
2010
Verko, Karlskrona
Suécia
2018
Kristiansand
Noruega
2010
Amesterdão
Holanda
2019
Dunquerque
França
2011
Long Beach
EUA
2020
Hamburgo
Alemanha
2011
Oslo
Noruega
2020
Nova Iorque
EUA
2011
Prince Rupert
Canadá



No ano de 2019, as autoridades chinesas informaram ter iniciado estudos conducentes à implementação de estruturas de fornecimento externo de energia eléctrica a navios em 6 dos seus portos. Este é um processo que ninguém vai parar.
A actividade marítima é o reflexo do comércio mundial, responsável pelo transporte de 90% do produto manufacturado e de 70% da matéria-prima produzidos a nível global. No que respeita o turismo de cruzeiro, para além de ter transportado 32 milhões de passageiros a nível mundial no ano de 2019, sendo que o sector gerou 160 mil milhões de dólares, um terço deles em vencimentos e outras remunerações a perto de milhão e meio de trabalhadores directos.
É por estas razões que estes comportamentos políticos desproporcionados (ou, até, naïfs) não são justificáveis. Podemos e devemos diminuir os efeitos negativos provocados no ambiente pela actividade marítima, mas temos de o fazer de forma evoluída, com contributos positivos. A expressão Portugal é um País de tradição (vocação) marítima não pode, nem deve, ser, a tradução de um discurso vazio e populista!
Notícia no DN 
 

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