No calor abrasador do Mar do Caribe, os trabalhadores em
trajes de mergulho esfregam o petróleo à mão do casco do Caspian Galaxy, um
petroleiro tão imundo que não pode entrar em águas internacionais.
O navio é um entre muitos que são, constantemente,
contaminados em dois importantes terminais de exportação, onde carregam
petróleo bruto da estatal venezuelana PDVSA. A água aqui tem um brilho oleoso
de derrames nos oleodutos enferrujados abaixo da superfície.
Isto significa que os petroleiros têm de ser limpos antes de
viajar para muitos portos estrangeiros, que não admitem navios manchados de
crude por receio de danos ambientais nos seus portos, instalações portuárias ou
outros navios.
A laboriosa operação de limpeza manual é uma das muitas
causas de atrasos crónicos para dezenas de petroleiros que transportam a
principal exportação da Venezuela para clientes em todo o mundo. Outras razões para
os atrasos incluem reparações atrasadas e arrestos por parte de fornecedores
de serviços a quem a PDVSA deve dinheiro.
Os petroleiros fundeados aguardando por limpeza fornecem o
exemplo vivo da espiral de degradação da empresa: a falta de dinheiro para
manter adequadamente os navios, as refinarias e as operações de produção – ou para
pagar os parceiros de negócios no prazo devido – a PDVSA não pode aumentar as
exportações, fazer mais dinheiro.
As exportações em atraso interrompem o fluxo de dinheiro de
volta para a paralisada economia socialista do país, onde os cidadãos lutam,
diariamente, no meio de uma inflação galopante e escassez de alimentos e
remédios. Como a Venezuela depende do petróleo – que representa mais de 90% das
receitas de exportação – os problemas da empresa estatal de petróleo
representam uma crise nacional.
As exportações de crude da Venezuela caíram 8% no primeiro
trimestre deste ano, em relação ao período homólogo de 2016, de acordo com
dados da Thomson Reuters.
Quando os preços do petróleo estavam altos, as exportações
de petróleo quase financiavam, totalmente, um elaborado sistema de controlos
governamentais de preços e subsídios sociais que mantiveram a popularidade do
falecido presidente Hugo Chávez.
Embora o presidente venezuelano Nicola Maduro insista manter
programas sociais, ele já reconheceu, publicamente, que os preços mais baixos
do petróleo deixaram o governo com menos dinheiro para os financiar.
Nos terminais de exportação de petróleo por todo o mundo –
onde existam fugas brutais de óleo como as da Venezuela são relativamente raros
– um petroleiro manchado de óleo seria normalmente retirado da água e limpo com
equipamento industrial em doca seca.
Mas a Venezuela tem apenas uma pequena doca seca e não tem capacidade
financeira, nem tempo, para enviar os seus navios-tanque sujos para limpeza
adequada, de acordo com os executivos da PDVSA, capitães de navios e trabalhadores
das empresas de limpeza de petroleiros.
Assim os trabalhadores, com recurso a um pequeno barco de
pesca, limpam o petroleiro gigante com milhares de esfregadelas de
escova-esfregão. O trabalho – que envolve a limpeza de navios acima e abaixo da
linha de água – pode levar até dez dias por navio, segundo disse um trabalhador
envolvido na limpeza.
Numa situação real testemunhada pela Reuters em Abril, trabalhadores
envergando fatos de mergulho esfregavam, do convés de um pequeno barco, o
costado do Caspian Galaxy, um navio-tanque afretado para uma viagem por um cliente
da PDVSA.
Os trabalhadores actuam no mar em frente da praia de Amuay,
perto de um pólo turístico e da maior refinaria da PDVSA. Essas equipas têm lavado,
aqui, tantos navios nos últimos meses, que já apelidaram a sua operação como “estação
de serviço e lavagem de barcos”.
Segundo especialistas, esta situação é única no mundo,
e já deu oportunidade à criação de articulado extra na contratação de navios,
fazendo clara alusão à situação do mercado venezuelano como, por exemplo, a Venezuela Clause.Fonte
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