Ao
longo dos anos, os somalis viveram nas circunstâncias mais difíceis que se
possa imaginar, enfrentando extrema pobreza, ilegalidade e anarquia. Claro,
houve alguns poucos sortudos que desertaram de sua terra natal e escaparam dos
rigores da guerra civil.
No
entanto, até agora, ninguém prestou atenção ao que aconteceu ao longo dos anos
na Somália, exceto alguns jornalistas e trabalhadores humanitários
internacionais. Portanto, qual é exatamente a causa raiz do radicalismo na
Somália? Sempre houve uma correlação entre pobreza, o ciclo vicioso de
violência e anarquia, e as mesmas razões fazem das águas Somalis uma das áreas mais
afetadas por pirataria marítima.
Procura
pela causa raiz
Os
habitantes da Somália são, na sua maioria, muçulmanos sunitas. Aqueles que não
desertaram para outras terras tiveram que enfrentar a miséria, a seca
prolongada, a desertificação e a erosão do solo. Muitos somalis são nómadas que
tiram o seu escasso sustento dos seus rebanhos; no entanto, desastres naturais
têm dizimado grande parte desses rebanhos, deixando-os sem alternativas de rendimento
para sustentar as famílias. A pequena percentagem da população que se dedica à
agricultora teve que testemunhar a diminuição do rendimento das plantações
devido à erosão do solo, falta de fertilizantes e instabilidade.
A
diferença de rendimento entre a elite minoritária e os pobres aumentou de forma
avassaladora. A Somália tem a economia de mercado aberta mais livre do mundo,
sem nenhum banco central para controlar a oferta de moeda, definir taxas de juros
ou controlar a inflação. As políticas económicas são equilibradas pela oferta e
pela procura. Aqueles que têm ideias e recursos em abundância são empresários
prósperos que obtêm lucros isentos de impostos, enquanto a maioria dificilmente
consegue pagar as suas contas. As remessas da comunidade somali na Diáspora e a
ajuda de organizações humanitárias internacionais mantêm a economia em
funcionamento.
Costa
do Mar da Somália e o Negócio da Pirataria
A
Somália tem a costa mais longa da África, mas os somalis nunca exploraram o
potencial de seus mares por várias razões. Aqueles que se aventuraram no mar
foram empurrados para traineiras pesqueiras estrangeiras ilegais, que esgotaram
o stock de peixe nessas águas territoriais. Outros, poluíram ao despejar
resíduos nucleares e tóxicos. A adversidade levou os somalis a testar novas formas
de ganhar dinheiro e ex-pescadores deram as mãos à milícia e aos jovens
desempregados para sequestrar navios e exigir resgate. Este foi o início da
pirataria na Somália.
Esses
piratas da Somália transformaram isso num empreendimento comercial sofisticado,
que faz uso de moderna tecnologia e dispositivos de posicionamento global para
rastrear sua próxima presa. A pirataria na Somália é uma grande ameaça para as
companhias marítimas globais, mas, embora as superpotências tenham dado as mãos
para acabar com essa pirataria, é uma tarefa assustadora, pois as águas
territoriais são muito extensas para as poder policiar. É um indicador da
limitação da máquina de guerra convencional contra as ameaças deste século.
Governo
irresponsável, pessoas desacompanhadas e erradicação da pirataria
A
Somália não tem um governo central eficaz há quase duas décadas. O fraco
governo luta contra a insurgência para proteger a capital e está preocupado com
guerras intestinas. Os piratas na Somália administram as instituições mais
eficazes do país. Eles reinvestem o dinheiro do resgate obtido em sequestros e
pirataria para planear o seu próximo movimento. Eles efetivamente derrotam o
governo regional e oferecem um vislumbre de esperança aos jovens desempregados
da Somália, pagando-lhes, generosamente, para ajudar na pirataria. A pirataria
na Somália deve crescer, drasticamente, nos próximos anos.
A
comunidade internacional tem uma enorme responsabilidade moral em encontrar uma
solução duradoura para a pirataria na Somália. Devem ser tomadas medidas para
restaurar a autoridade e a credibilidade do governo central e pensar em formas
de criar empregos alternativos para os jovens, através de organizações não
governamentais, agências da ONU, administração regional e local. Os piratas da
Somália podem ser identificados, registados retreinados e empregados como
guardas costeiros para proteger as águas territoriais da Somália dos arrastões
de pesca estrangeiros ilegais. Outros podem receber equipamento de pesca e
acesso preferencial ao mercado, onde possam vender as suas capturas. Isso
ajudará a aumentar o rendimento e a prosperidade da economia local.
Se a
causa raiz desta pirataria não for combatida a breve trecho, a Somália tornar-se-á
um país de piratas e um estado radical. O radicalismo não pode ser extirpado
pela força militar, mas os corações e mentes dos jovens devem ser conquistados
educando-os, proporcionando-lhes uma fonte de rendimento e fazendo-os sentir
como parte da sociedade dominante.
Fonte: www.marineinsight.com
Assista ao documentário clicando aqui.