Os actuais navios são
construídos para navegarem de forma segura nas condições mais extremas de tempo
que, porventura, alguma vez encontrarão, isto para além do factor reserva de
segurança que lhe é adicionado.
Existem políticas e práticas
abrangentes, exigidas pelos regulamentos de bandeira, pelas sociedades
classificadoras e pelas convenções internacionais, que controlam e monitorizam
as actividades de manutenção a bordo de cada navio. Em especial, as linhas de
cruzeiros têm muito mais em jogo, porque qualquer acidente com um navio de
cruzeiro pode resultar em manchetes muito desfavoráveis à marca e qualquer mancha
pode ser o golpe mortal para toda a empresa.
A bordo do navio há sempre
uma forma de contornar uma falha de maquinaria, estando a unidade apetrechada
com a redundância de equipamentos considerada essencial. No entanto, e num
plano hipotético e ocasional, um equipamento crítico poderá falhar e o seu backup poderá falhar igualmente, por
problema mecânico ou por negligência.
Quando o Viking Sky
encontrou dificuldades e os seus motores pararam em plena tempestade na costa
norueguesa, na semana passada, também um navio de carga que navegava para lhe
prestar assistência em condições de ondulação idênticas – o "Hagland
Captain" – também sofreu paragem de motor, aumentando a possibilidade da
causa do desligamento dos motores dos dois navios serem factores comuns experimentados
por ambos.
- Poderá ter sucedido a
entrada de excesso de água do mar através das admissões de ar do motor de ambos
os navios, causando a paragem dos motores de ambos?
- Ou a causa poderá estar
relacionada com os líquidos que alimentam os motores?
Para se perceber o que na
realidade sucedeu terá de se averiguar sobre o desenho de projecto, instalação
e localização dos tanques de combustível.
Quando em presença de
tanques de combustível horizontais completamente cheios, se a entrada da bomba
de combustível estiver no local mais baixo possível do tanque, o combustível
será transferido deste para o motor, independentemente da inclinação e do rolar
do navio. Já quando o tanque de combustível está com menos de 50% da sua
capacidade, sucede que com ondulação severa faz o combustível fluir para frente
e para trás com uma frequência tal que, talvez por alguns segundos, apenas ar seja
aspirado pela admissão.
Tempestades oceânicas
severas aumentam a flexão e a torção estrutural do navio.
- Será que em condições
extremas no mar, a flexão estrutural do casco poderia ter causado a ruptura de
qualquer linha de combustível, ou fuga na linha de combustível, ou causado fugas
do tanque de combustível ou, ainda, fazer com que um tanque de combustível se
soltasse do seu lugar?
- Se as bombas de
combustível são accionadas por energia eléctrica, a flexão estrutural induzida
pela tempestade poderia ter interrompido a alimentação de energia eléctrica às
bombas de combustível?
Uma avaliação a ambos os
navios poderá fornecer algumas dicas sobre se a tempestade lhes induziu
movimentos violentos ou flexão estrutural que tenha contribuído, objectivamente,
para o desligamento dos motores de ambos. Em caso de identificação positiva de
alguma destas causas, a instalação de tanques verticais menores adicionais para
combustível poderá ser considerada?
Os motores marítimos são arrefecidos,
por norma, pela água do mar.
- Existiram condições
raras e extraordinárias de navegação em mar tempestuoso, que possam ter levado os
navios a rolar de forma a fazer entrar ar, em vez da água do mar, no sistema de
arrefecimento do motor?
As bombas de água para o
sistema de arrefecimento do motor são projectadas para bombear água, e não ar, pelo
que se entrou ar no sistema de refrigeração e o resultado desse acontecimento
foi a falha dos motores, poderá ser considerada a instalação de tanques
verticais adicionais para água do mar?
Líquidos da máquina
- Poderiam determinadas
frequências de pitching (caturro) do navio
causar ressonância, como p. ex. o movimento de avanço e recuo do óleo
lubrificante do motor dentro do cárter ou tanque de óleo e, em caso afirmativo,
qual seria o resultado?
- De igual forma, sob
os mesmos efeitos de ressonância o movimento do óleo no motor, no cárter ou no
tanque de óleo ou, até, a admissão da bomba de óleo do motor poderá ter sido,
momentaneamente, exposta ao ar e, nesse caso, poderá ter resultado na falha
fatal?
Se as causas acima citadas
tiveram efeito na paragem dos propulsores, poder-se-á estudar a possibilidade técnica
de instalar deflectores dentro dos cárteres do motor, dentro dos tanques de
óleo e dentro dos tanques de combustível para alterar a frequência de
ressonância, tendo efeito sobre o movimento dos líquidos que alimentam os
motores. Ou ainda, a possível instalação de tanques verticais menores
adicionais para combustível e óleo, em resposta aos movimentos cíclicos causados
pela interacção entre a ondulação e os cascos dos navios.
Capacidade para manter sempre
a propulsão no mar
O facto de que o Viking Sky ter
sido capaz de repor as condições mínimas de propulsão e de se dirigir para porto
após passar pela situação catastrófica que desligou os seus motores durante a
tempestade, oferece a oportunidade para identificar a causa ou as causas da avaria
e implementar as modificações necessárias, que possam, no futuro, garantir que os
navios – e em especial os de cruzeiro – possam manter a propulsão sob condições
extremas de tempo no mar.
Claramente, a indústria de
navios de cruzeiro precisa avaliar métodos alternativos que possam garantir,
ininterruptamente, a operação dos motores dos seus navios durante condições
extremas de navegação.
Decorrem as investigações ao
apagão no Viking Sky
Inspectores da Autoridade
Marítima da Noruega (NMA) estão a realizar investigações a bordo do Viking Sky,
atracado em Molde, para perceber a razão da perda de potência do motor em
condições de mares tempestuosos no sábado, e que originou uma evacuação aérea
parcial do navio por helicóptero.
As primeiras inspecções
foram realizadas segunda-feira por dois funcionários do escritório de pesquisa
da NMA de Kristiansund, acompanhados por um representante da secção de navios
de passageiros da autoridade de Haugesund.
Inspecções adicionais serão
realizadas hoje pela sociedade classificadora Lloyd's Register, em cooperação
com a polícia e com o departamento marítimo da Norwegian Investigation Board.
A polícia e o Conselho
Norueguês de Investigação de Acidentes, entre outras autoridades, lançaram uma
investigação sobre o porquê de o Viking Sky ter sido levado a águas
notoriamente perigosas durante o mau tempo. A empresa norueguesa de navios de
cruzeiro foi acusada de “imprudência” ao colocar os passageiros em risco, ao
partirem apesar dos avisos de tempestade, forçando uma evacuação parcial por
helicóptero. O navio transportava 915 passageiros e 458 tripulantes. Vinte
pessoas ficaram feridas e foram tratadas no hospital.
EUA e Reino Unido participam
das investigações
Os Estados Unidos e o Reino
Unido consideram que são estados substancialmente interessados e participarão
com as suas respectivas agências de investigação de acidentes marítimos. O NTSB
dos Estados Unidos e o MAIB britânico entraram na investigação devido ao número
de cidadãos dos EUA e do Reino Unido a bordo.
Acções da tripulação foram a
chave para 'um final feliz'
"É muito cedo para
tirar conclusões sobre o que pode ter causado a perda de propulsão ao largo da
costa de Hustadvika na tarde de sábado", disse a NMA em comunicado.
"No entanto, é um facto
que houve um blackout e, ainda, não
conseguimos determinar a causa desse desligamento. Até agora, no entanto, foi
estabelecido que, quando o incidente ocorreu, a competência e os esforços da
tripulação desempenharam um papel importante no desfecho feliz ”, continuou o
comunicado.
Entradas do casco, de fundo
e de água inspeccionadas
O casco do navio também foi
examinado por um mergulhador para verificar se havia algum dano abaixo da linha
de água, sendo que nada foi descoberto. Durante o mergulho, as entradas de a
água de arrefecimento também foram inspeccionadas, para garantir o seu não
entupimento. As entradas foram verificadas pelo mergulhador como abertas e
aparentemente em ordem.
Paralelamente, a NMA está a proceder
a uma revisão geral completa dos danos sofridos pelo navio e que precisarão ser
reparados antes de reentrar em serviço. A autoridade disse que a cooperação com
a tripulação do Viking Sky tem sido "excepcional".
A Viking Cruises lançou a
sua própria investigação interna e a empresa prometeu total apoio às
investigações externas.
Fontes: GCaptain, Independent,
Maritime Connector, Maritime Executive, Seatrade-Cruise