Conhece o que diferencia um transatlântico de um cruzeiro?

Os transatlânticos (ou navios de linha) já foram o único meio confiável de transporte global de passageiros, antes do advento revolucionário da aviação. Desde esse tempo, muitas milhas foram navegadas, pelo que o conceito se foi desvanecendo e, hoje, os navios de cruzeiro tornaram-se, cada vez mais, sinónimo de navios de passageiros.

Entre eles, contudo, existe uma diferença básica nos seus respetivos conceitos. O foco do navio de cruzeiro está na diversão todo o tempo de estadia a bordo, enquanto os navios de linha se concentram no transporte, facto espelhado na sua designação, por no século XX a sua maioria cruzar o oceano Atlântico.

Os transatlânticos são projetados para realizar uma viagem de linha, entre o ponto A e o ponto B, através de uma grande extensão de mar aberto (p. ex. travessia entre a América do Norte e a Europa). São navios comerciais de transporte de passageiros e às vezes transporte de carga, serviços de correio e outras utilidades de serviço regular.

Já os navios de cruzeiro são destinados a fins de entretenimento, lazer e turismo, navegando mais perto da costa, visitando vários portos. Por norma, navegam de noite e visitam as cidades de dia para permitir excursão e visita turística. Nos primórdios do cruzeirismo, foram utilizados navios de linha readaptados.

 

Devido a esta diferença operacional, os navios projetados como navios de linha possuem certas características que lhes permitem realizar viagens oceânicas de longa duração ao longo do ano. Essas características incluem:

  • Uma proa, normalmente, mais longa do que os navios de cruzeiro, projetada para garantir que a superestrutura seja protegida das ondas experimentadas em mar aberto.
  • O casco dos transatlânticos é mais robusto, construído com aço mais espesso do que o usado na construção de navios de cruzeiro. Tem, ainda, um bordo livre superior.
  • Ponte de navegação no alto do navio, no convés superior, isto para garantir, não apenas uma boa visibilidade, mas também para proteger a casa de navegação das intempéries.
  • Estando sujeitos a mares revoltos, principalmente, durante as travessias de inverno, os botes salva-vidas estão localizados num convés superior, geralmente próximo ao topo do navio, para os proteger do mar revolto.
  • Os transatlânticos sendo projetados para realizar viagens programadas, exigem maior velocidade do que os navios de cruzeiro, em grande parte devido à necessidade de manter horários, que podem ser prejudicados devido a mau tempo. Na verdade, enquanto um navio de cruzeiro desacelera em situação de mau tempo, os transatlânticos não o fazem.
  • Para garantir maior estabilidade e segurança aos passageiros, estes navios, mais robustos, têm um maior calado, condicionando os portos que podem frequentar.

 

Existem poucos transatlânticos ao serviço hoje. Durante muitos anos, o QE2 da Cunard foi o único em operação, depois que o SS Canberra foi desmantelado em 1997. No entanto, em 2004, o QM2 tornou-se no mais recente e moderno. Depois da retirada do QE2 em 2008, o QM2 passou a ser o único transatlântico “puro” em serviço, apesar da companhia de dois outros “híbridos” – os Queen Victoria e Queen Elizabeth. O Porto de Lisboa recebeu-os no dia 6 de maio 2014, momento assinalado com uma cerimónia solene, no cais de Santa Apolónia.

Outros navios de linha históricos, que visitaram Lisboa, foram o Marco Polo (vendido para sucata em janeiro de 2021) e os portugueses Funchal e Astoria (ex-Azores) que, embora construídos de acordo com as especificações de navios de linha, foram utilizados em viagens de cruzeiro durante os seus últimos anos de operação.

Ao contrário dos navios de linha, os navios de cruzeiro levam os passageiros numa viagem de ida e volta, com vários pontos de paragem ao longo da mesma e, em geral, navegam em zonas com melhores condições climatéricas. Em contraste com os transatlânticos, existem mais de 300 navios de cruzeiro em serviço hoje. Afinal, são projetados para férias e não apenas para transporte. Isso tem um impacto importante na sua estrutura e conceção.

Com menos exigência na espessura de aço no casco, estes navios têm menores custos de construção. Além disso, as linhas do seu casco são mais “flat”, pelo que o seu calado é reduzido, permitindo-lhes atracar num maior número de portos.

Além disso, a proa, tal como a popa, é mais curta e larga dando ao navio um “ar mais quadrado”, que aliado ao facto da sua estrutura ser mais leve, embora mais elevada e volumosa – por ser de alumínio e vidro – lhe permite transportar mais passageiros. E porque o que as pessoas querem é desfrutar e passear, há menor necessidade de velocidade, portanto, menos combustível é consumido.

Ficamos, muitas vezes, espantados quando olhamos para as magníficas maravilhas da engenharia chamadas navios de cruzeiro, com todas aquelas amenidades no topo do navio, quais parques de diversão e montanhas russas.

De piscinas a salas de cinema, de jogos indoor a health clubs de classe mundial, spas, casinos, grandes restaurantes e pubs, centros comerciais e parques temáticos, para além de cabines amplas e balcões generosos, com vista para o mar, é um desfiar de possibilidades, capazes de motivar as férias ao mais exigente (e abonado)...


 

Os navios de cruzeiro podem ser de vários tipos e tamanhos. Podemos classificá-los como:

  • Mega Navios de Cruzeiro – são os maiores, permitindo acomodar até 6000 passageiros! Em termos de tonelagem, estão muito acima de 200.000 GT (p. ex. o Wonder Of The Seas tem 235.600 GT).
  • Grandes Navios de Cruzeiro – um pouco menores que os anteriores, podem acomodar entre 2.500 e 3.500 passageiros. Em termos de tonelagem, poderão variar entre os 100.000 GT e os 150.000 GT. Encontram-se nesta classe, por exemplo, o MSC Divina, com 140.000 GT (3.500 passageiros), e o Costa Venezia, com uma GT de 135.000 (4.000 passageiros).
  • Navios de Cruzeiro de Médio Porte – menores do que os anteriores, podem acomodar cerca de 1.500 a 2.500 passageiros. Esses navios têm GTs compreendidas entre os 50.000 e 100.000.
  • Navios de Cruzeiro Pequenos – qualquer navio de cruzeiro com capacidade de transporte de passageiros inferior a 700-800 é denominado um pequeno navio de cruzeiro. Navegam, por norma, em zonas mais abrigadas e nos períodos de melhores condições meteorológicas. Também oferecem amenidades de lazer e recreio aos passageiros, embora em escala mais reduzida. A sua tonelagem bruta não ultrapassa os 10.000 GT.
  • Ferries de Cruzeiro – sendo um conceito um pouco diferente, atualmente existem navios deste tipo, de pequeno a médio porte, que permitem aos turistas viajar com o seu próprio automóvel e, dessa forma, visitar os portos de escala.

Se nos focarmos na categoria de serviço prestado, poderemos categorizar esses navios com base no grau de luxo e amenidades disponibilizadas aos seus hóspedes. De um modo geral, navios com mais tripulantes por passageiro podem oferecer um melhor serviço e mais personalizado. A tripulação é cara, de modo que o topo desta lista é dominado por navios de cruzeiro de luxo.

·       Popular ou tradicional: categoria que abrange os navios maiores e que são os mais difundidos e populares entre pessoas de todas as idades (e carteiras...).

·       Prestige: cruzeiro de gama superior, que apresenta um serviço mais requintado acima dos navios do mercado de massa, com uma proporção maior de tripulação. Há uma ênfase maior no jantar gourmet, harmonização de vinhos, chefs famosos e aulas de culinária.

·       Premium: por norma em navios menores (entre 670 e 1250 passageiros) e com uma maior proporção de tripulantes por hóspede (geralmente 1:1). Oferecem amenidades idênticas aos navios populares, mas são apresentados como uma experiência mais sofisticada, obedecendo já a um dress code country club casual”.

·       Luxo: cruzeiros que oferecem uma experiência mais intimista e a maior proporção de tripulação por hóspede. Serão, por norma, navios pequenos e médios. Nesta classe são oferecidos outros níveis de requinte. Os dress code são mais exigentes e enfatizam-se a alta cozinha, os vinhos finos, o conforto e o glamour.

 

Neste capítulo, também o rácio de espaço do navio disponibilizado por hóspede é um fator a ser considerado. Por definição, esta amenidade é uma medida do espaço relativo que os hóspedes desfrutarão a bordo de qualquer navio, calculado dividindo a GT do navio pelo número de passageiros que transporta. Um navio de 90.000 toneladas com capacidade para 2.000 convidados, p. ex., terá um rácio de 45.

Existem, ainda, outras franjas do negócio, até agora não descritas, com uma temática específica e, portanto, navios específicos, que podem ser oceânicos, costeiros ou fluviais. Estão entre eles os:

  • Cruzeiros de aventura, em pequenos navios personalizados e dedicados aos amantes da aventura. Muitas vezes, as pessoas saem em grupos nas embarcações de apoio, com capacidade para 10 a 15 passageiros, para uma infinidade de atividades, desde observação de vida selvagem até exploração de recifes e ilhas, mergulho junto a corais, etc.

 

  • Cruzeiros de expedição, em navios especialmente projetados para lugares mais desconhecidos e inóspitos da Terra, como as regiões polares. São construídos de acordo com os regulamentos da classe de gelo e tudo, desde alimentação até aos sistemas, são incorporados de forma a poder suportar as condições mais adversas.
  • Cruzeiros fluviais, em embarcações de baixo calado e largura, capazes de navegar em rios e lagos em passeios de lazer. Podem funcionar numa base horária, diária, ou por períodos superiores de poucos dias, num percurso mais alargado, p. ex. a subida de um rio, com paragens intermédias para visita.

 

  • Iates e embarcações miúdas: estas embarcações são de propriedade privada, alugadas ou operadas por agências ou operadores turísticos. São pequenas e adequadas para acomodar cerca de 10 a 20 pessoas, no máximo, e que executam pequenos cruzeiros, excursões e passeios turísticos limitados em tempo e extensão. São o que vulgarmente é conhecido por marítimo-turística.

Em resumo, o quadro que os diferencia:


 

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